
Pinguins-de-magalhães na costa da Argentina; espécie migratória também chega ao litoral brasileiro todos os anos (Foto: Divulgação)
Pablo Garcia Borboroglu dedica a vida a proteger pinguins. Bertie Gregory, cineasta e fotógrafo britânico, constrói narrativas visuais que revelam o comportamento animal em ambientes extremos. O encontro entre o conservacionista e o contador de histórias aconteceu no set de Secrets of the Penguins, série lançada em abril deste ano pela National Geographic sob produção executiva de James Cameron. A união de décadas de pesquisa de campo com um olhar cinematográfico preciso rendeu descobertas inéditas sobre essas aves e, recentemente, o título de 2025 Rolex National Geographic Explorers of the Year.
Borboroglu — ou Poppy, como é conhecido — já protegeu 32 milhões de acres de habitat costeiro e marinho, beneficiando pelo menos 2,5 milhões de pinguins. É também o fundador da Global Penguin Society, ONG que leva crianças de comunidades próximas às colônias para conhecer as aves. “Em Camarones, na Argentina, levamos crianças de um internato, muitas em situação de vulnerabilidade, para ver pinguins pela primeira vez. Elas moravam a 20 minutos da colônia. O brilho nos olhos e a gratidão são inesquecíveis. Hoje, algumas têm 30 anos e tomam decisões que impactam diretamente o meio ambiente”, conta.

Pablo Borboroglu em colônia de pinguins-de-magalhães na Patagônia; cientista já protegeu mais de 30 milhões de acres de habitat marinho (Foto: Divulgação)
O início dessa história com os pinguins, no entanto, foi marcado por indignação. Adolescente na Patagônia, Poppy presenciou praias cobertas por aves cobertas de óleo — um desastre ambiental que matou cerca de 40 mil pinguins por ano nos anos 1980. Ele montou um centro de resgate improvisado, denunciou o problema e ajudou a mudar rotas de petroleiros. O resultado foi histórico: a mortalidade caiu para menos de 20 indivíduos por ano.
O Brasil também entra nessa rota. Em resposta à Bazaar Man, Poppy destacou que pinguins como o-de-magalhães chegam às nossas praias durante a migração anual, abrindo oportunidades para parcerias científicas e educacionais na América do Sul. “Compartilhamos populações entre Argentina, Uruguai e Brasil. Trabalhar juntos, trocar dados e criar áreas marinhas protegidas regionais é essencial para a sobrevivência dessas aves”, afirma. No roundtable, ele reforçou que essas colaborações regionais são estratégicas. “Pinguins não reconhecem fronteiras políticas. Por isso, a conservação precisa ser pensada como um esforço conjunto, conectando pesquisa, políticas públicas e educação ambiental”, disse.

Bertie Gregory durante expedição marinha; o cineasta britânico é conhecido por capturar imagens em ambientes extremos (Foto: Divulgação)
Ao longo da carreira, Poppy viu mudanças radicais provocadas pelo clima: plataformas de gelo que se rompem antes do tempo, filhotes forçados a entrar no mar despreparados, deslocamento das áreas de pesca. “Metade das espécies de pinguins está ameaçada. Criar áreas marinhas protegidas é urgente, mas politicamente complexo. Por isso, levamos números à mesa — empregos, renda gerada pelo ecoturismo — e mostramos que proteger a natureza é também proteger a economia local”, explica. Para ele, comunidades são aliadas estratégicas: “Elas permanecem, independentemente de quem está no governo, e garantem a memória institucional das conquistas.”
Se Poppy traz o enredo científico, Bertie acrescenta o instinto narrativo. Aos 18 anos, venceu o Youth Outdoor Photographer of the Year. Antes disso, já passava horas escondido na mata para fotografar animais, e ainda adolescente foi notado pelo lendário fotógrafo da National Geographic Steve Winter, com quem viria a trabalhar como assistente. Hoje, acumula oito projetos para a National Geographic, sempre filmando em ambientes extremos.
Em Secrets of the Penguins, capturou cenas inéditas, como a dos filhotes de imperador saltando de um penhasco de 15 metros na primeira ida ao mar. “Imagine sua primeira aula de natação começando no trampolim olímpico, sem instrutor. Foi o que aconteceu. Sobreviveram, e a cena viralizou, com mais de 150 milhões de visualizações”, lembra. Também registrou pinguins-das-Galápagos caçando cooperativamente, comportamento geralmente associado a mamíferos sociais como os golfinhos.

Bastidores de Secrets of the Penguins; Bertie Gregory em ação durante gravações da série da National Geographic (Foto: Divulgação)
Bertie gosta de lembrar que nem tudo sai como planejado: alguns pinguins, ao tentar sair da água, calculam mal a velocidade e aterrissam com um som de “patinho de borracha”. “É impossível não rir, mas também é um lembrete de que estamos vendo comportamentos nunca registrados antes”, comenta.Filmagens assim exigem logística quase artesanal. Na Antártida, Bertie adaptou luvas aquecidas para funcionar com baterias de câmera, garantindo controle fino do drone em temperaturas de -30°C. E, em vez de focar apenas em imagens “limpas” de natureza, ele defende que humanos sejam parte da narrativa. “Antes, documentários mostravam só o animal. Hoje, incorporam a presença humana e as ameaças ambientais. Isso é positivo, porque amplia a consciência do espectador”, afirma.
O trabalho em dupla também reforçou a importância de alinhar ciência e entretenimento. “O papel do cineasta é traduzir descobertas de forma que toquem as pessoas. Dados sozinhos não mudam comportamentos, emoção sim”, diz Poppy. Bertie concorda: “Proteger a natureza não é oposto ao desenvolvimento econômico. O desafio é convencer tomadores de decisão de que essa é uma necessidade para todos nós”. Com o título de Explorers of the Year, ambos planejam expandir suas frentes. Poppy quer rastrear pinguins pouco estudados em ilhas subantárticas para criar novas áreas protegidas. Bertie prepara campanhas de impacto que apliquem soluções concretas nos lugares onde filma, para que o legado vá além das imagens. Entre uma expedição e outra, seguem com a mesma lição que aprenderam com as aves: coragem para saltar — mesmo diante de um penhasco.

Com hábitos sociais e rotas migratórias definidas, os pinguins são importantes bioindicadores da saúde dos oceanos (Foto: Divulgação)
Premiação que inspira
O reconhecimento foi anunciado no Rolex National Geographic Explorers Festival, encontro anual que celebra exploradores, cientistas e criadores de impacto ao redor do mundo. Criada em Genebra, a Rolex leva seu savoir-faire suíço além da relojoaria: desde 2011, a premiação integra a Rolex Perpetual Planet Initiative, movimento de longo prazo que une ciência, aventura e histórias capazes de inspirar mudanças reais. Conhecida por apoiar expedições históricas, a marca hoje direciona esse espírito explorador para projetos que ajudam a compreender e proteger o planeta — e vê na comunicação uma aliada poderosa para engajar pessoas e transformar paisagens.

Trabalho de campo da Global Penguin Society; organização criada por Borboroglu alia conservação e educação ambiental (Foto: Divulgação)