
Fila final do desfile de verão 2026 de Lenny Niemeyer. – Foto: Zé Takahashi
No Palácio Capanema, Lenny Niemeyer apresentou um verão 2026 que não tratou a natureza como fábula nem como ficção científica, mas como organismo. A coleção se construiu como reflexão entre corpo, matéria e técnica, fazendo da roupa um espaço de experimentação, mas tudo de forma lúdica.
Quer exemplos? Observe o plissado em leque, marcado por verdes e marrons. Ele expandia-se no corpo como se fosse estrutura botânica ou animal: asas, folhas, corais. Já a sobreposição translúcida em tons terrosos, combinada a tramas de cestaria, remetia a sedimentos e solos sobrepostos, como se o corpo carregasse paisagens.
O tufting, tecnica que dá esse charme de taceçaria na peça, apareceu como fragmento de jardim portátil, transformado em clutch. O relevo irregular fazia a clutch parecer um pedaço de terra e grama arrancado e levado na mão.
Algumas construções acionaram imagens anatômicas. O vestido claro com colar cervical evocava contenção médica, mas em contraste com tecidos fluidos manchados de minerais. No preto, o couro de pirarucu foi manipulado como linhas de exoesqueleto, sugerindo articulações e, por que não, uma pele reptiliana?!
A aplicação de sementes sobre os ombros transformava o corpo em caule, ampliando a relação entre indumentária e botânica. Nos pés, botas de couro dobravam como colunas, mais próximas da escultura do que da funcionalidade. O amarelo translúcido em tecido amplo parecia projetado para interagir com o ar, deixando claro que a roupa não cobre apenas, mas ocupa espaço.
Entre couro de peixe, sementes, plissados e tapeçaria, Lenny Niemeyer ofereceu uma leitura lúcida da natureza, não como fantasia ou ciência, mas como arte que se veste e se cultiva.