
Giorgio Armani – Foto: Reprodução/Instagram @giorgioarmani
*Matéria originalmente publicada em 01 de setembro de 2025
Se o mundo da moda já se acostumou a desfiles e coleções sem seus fundadores por trás das marcas, a ideia de um futuro sem Giorgio Armani parece quase impensável. Aos 91 anos, Armani segue no centro de um império criativo que vai muito além das roupas: beleza, decoração, hotéis, restaurantes… tudo moldado ao seu gosto preciso e à sua visão estética.
O próprio estilista reconhece sua singularidade. “Minha maior fraqueza é que estou no controle de tudo”, disse em sua última entrevista ao Financial Times, publicada em agosto de 2025. Mas o inevitável tema da sucessão começa a ganhar espaço. Pela primeira vez em décadas, Armani não compareceu aos desfiles masculinos de Milão, deixando Leo Dell’Orco, seu braço direito e chefe de design masculino, assumir as apresentações. “Meus planos de sucessão consistem em uma transição gradual das responsabilidades que sempre assumi para aqueles mais próximos a mim”, afirmou. “Quero que a sucessão seja orgânica e não um momento de ruptura.”

Giorgio Armani – Foto: Reprodução/Instagram @giorgioarmani
Essas declarações resumem bem a forma como Armani sempre conduziu sua carreira: sem explosões, sem estrelismos, mas com precisão cirúrgica. Desde os tempos em que ainda estudava medicina, seu talento para organizar, planejar e controlar cada detalhe já se evidenciava. Até hoje, supervisiona pessoalmente provas, sequência de desfiles e maquiagem, mantendo o rigor de quem entende que estilo é também disciplina. “Tudo que vocês verão foi feito sob minha direção e tem minha aprovação”, garantiu.
O legado de Armani é tão marcante quanto sua exigência. Reinventou a alfaiataria masculina, libertando o terno da rigidez, e criou o power suit feminino, símbolo de força e autonomia. “Se o que criei há 50 anos ainda é apreciado por um público que nem havia nascido na época, esta é a maior recompensa”, declarou.
No artigo da publicação americana, analistas como Luca Solca afirmam que a marca Armani já é maior que seu fundador e sobreviverá a ele — assim como outras casas icônicas, como Chanel ou Dior. Ainda assim, permanece a dúvida: quem terá a visão singular de Armani para manter o equilíbrio entre tradição, sofisticação e inovação? Antecipando essa preocupação, o estilista conduz a transição de forma gradual, envolvendo familiares, colaboradores de confiança e o próprio Dell’Orco.
Mais do que planejar uma sucessão, Armani construiu um estilo de vida. “Meu objetivo inicial era vestir pessoas, mas daí me movi naturalmente para outras áreas, porque queria oferecer a quem entrasse no mundo Armani uma experiência única”, explicou. O edifício Armani/Manzoni, em Milão — que reúne lojas, clubes e hotéis — reflete essa visão: um “A” gigante, projetado para ser inconfundível, inegociável, absolutamente Armani.

Giorgio Armani – Foto: Reprodução/Instagram @giorgioarmani
Difícil, mas imaginar a Armani sem Giorgio Armani é quase como tentar separar o espírito de um artista de sua obra: a marca certamente sobrevive, mas o homem por trás dela ainda dita o ritmo e a direção, com a calma e a teimosia que definem uma carreira única na história da moda moderna. E se ele não for eterno? Nesse caso, só nos resta, tristemente, esperar.