Giorgio Armani – Foto: Reprodução/Instagram/@giorgioarmani

Giorgio Armani morreu hoje em Milão, aos 91 anos. Partiu como sempre viveu: cercado por croquis, coleções em andamento e projetos que ainda estavam por vir. Até seus últimos dias, não abandonou a disciplina que o transformou em um dos nomes mais influentes da moda mundial.

Fundou sua marca em 1975 ao lado de Sergio Galeotti, em um período marcado pelo excesso. Enquanto o mercado apostava em cores vibrantes e silhuetas exuberantes, Armani ofereceu outra leitura: tecidos mais leves, cortes que davam liberdade de movimento e uma paleta reduzida a tons neutros. Foi nesse contraste que nasceu o “greige”, mistura de cinza e bege que se tornou símbolo de sua estética. A partir dali, um novo guarda-roupa se consolidou — roupas masculinas e femininas que não impunham, mas sugeriam poder. O power dressing ganhou uma versão menos rígida, mais próxima da vida real e, por isso mesmo, mais duradoura.

O cinema foi a sua grande vitrine. Armani entendeu antes de muitos que Hollywood podia transformar roupa em narrativa. Vestiu Richard Gere em “American Gigolo”, traduziu a sofisticação de personagens em “Os Intocáveis”, marcou presença em tapetes vermelhos e fez da moda uma extensão da linguagem cinematográfica. Diane Keaton, com seu terno oversized em “Annie Hall”, sintetizou como Armani poderia ser ao mesmo tempo autoral e universal. Não se tratava apenas de roupas: era sobre como essas roupas moldavam personagens, trajetórias e imaginários coletivos.

Sua marca não se limitou ao vestuário. Do perfume à hotelaria, dos uniformes da seleção italiana nas Olimpíadas às coleções para jovens, Armani construiu um império que dialogava com diferentes públicos sem perder coerência. A entrada na alta-costura em 2005, com a Armani Privé, mostrou que seu olhar também cabia nesse território. Mesmo chegando mais tarde, ocupou o espaço com naturalidade, como quem sempre soube que a moda se expande em várias camadas.

O público reconhecia essa coerência. Armani era um dos poucos estilistas que permaneciam independentes, em um mercado cada vez mais dominado por conglomerados. Não cedeu o controle de sua marca e continuava próximo do cotidiano de suas lojas. Há relatos de clientes que o viam logo cedo, arrumando vitrines ao lado dos vendedores. Esse gesto simples reforçava a ideia de que sua trajetória não se separava do trabalho diário.

Sua morte encerra uma epopeia rara: a de um homem que atravessou gerações e redefiniu o que entendemos por elegância. Para ele, elegância não era ostentação, mas medida. Um equilíbrio entre forma, material e presença. Foi fiel a esse princípio até o fim, mesmo quando a moda se deixava levar por tendências efêmeras.

Armani deixa um legado que não cabe apenas na história da moda. Sua obra está nos filmes que marcaram décadas, nos guarda-roupas que ganharam leveza, na forma como homens e mulheres aprenderam a se vestir para o cotidiano e para o palco. Sua independência, sua disciplina e sua crença na sobriedade como caminho estético transformaram-no em referência única.

A notícia de sua morte não é apenas a despedida de um estilista. É o fechamento de um ciclo de meio século que ajudou a escrever a história cultural do século XX e XXI. Armani partiu, mas seu trabalho continua vivo nas ruas, nas telas e na memória coletiva — exatamente onde sempre quis estar.