Bares: Haru

Haru – Foto: Rodrigo Azevedo

Por Otávio Tronco

Os clichês de praia, biquíni e samba, que dominam o imaginário do Rio de Janeiro, são o que vêm à cabeça quando imaginamos estar num destino idílico à beira-mar com um bom drinque em mãos. Mas tomar um bom coquetel na cidade não era uma missão das mais fáceis alguns anos atrás. Não que os bares cariocas fossem ruins, mas casas especializadas, para um público que busca também alta coquetelaria, só começaram a surgir nos últimos dez ou 15 anos, num processo semelhante ao que ocorreu em São Paulo e outras capitais.

“O público está cada vez mais habituado ao universo da coquetelaria e, por isso, também mais exigente, o que faz a régua subir” afirma Andressa Cabral, nome por trás do Meza, bar fundado em 2008 e que também foi responsável por essa mudança no cenário. Segundo ela, o público de cerca de uma década atrás buscava ingredientes industrializados e não se importava com a pouca diversidade de sabores, diferente da atual clientela que busca combinações autorais com insumos artesanais. Um exemplo dessa nova leva de bebidas é o seu Madame Janelle (R$ 32), uma junção de vodca em infusão de gengibre e pimenta de macaco, vermute branco e jabuticaba.

Bares: Meza

Madame Janelle – Foto: Divulgação

Esse amadurecimento no paladar também foi notado pelo mixologista Daniel Estevan, que assina a carta do Nosso, bar em Ipanema, na zona sul carioca. Segundo ele, essa nova leva de consumidores  não quer só drinques açucarados. “Hoje os clientes se abriram para os coquetéis salinos, herbais e até mesmo com umami”, ele diz. O mixologista também destaca a busca por coquetéis mais complexos e lembra que criou o Tacacá Sour (R$ 43), uma mescla de gim infusionado com jambu, cupuaçu e tucupi.

Bares: Nosso

Tacacá Sour – Foto: Tales Hidequi

Uns dois minutos a pé do Nosso, outro bar-restaurante ganha destaque pela singularidade de sua carta de bebidas, o Koral, também em Ipanema. O chef Pedro Coronha assina tantos os pratos quantos os drinques da casa, que serve, dentre outros, o Koral Punch (R$ 41), coquetel que mescla cachaça branca, Fireball, limão siciliano e redução de milho verde com especiarias. Vale lembrar que as bebidas são levadas muito a sério na casa, e a carta de vinhos também foi cuidadosamente elaborada por Coronha para acompanhar os preparos do menu.

No Leblon, o mixologista Tai Barbin, nome por trás do Liz Cocktail&Co, gosta de enfatizar que esse atual público está interessado também nas técnicas e nos processos necessários para a construção do que será servido. “O cliente se interessa por processos como a  nossa clarificação, que é feita com leite sem lactose para atender aos intolerantes”, ele conta. Tal cuidado pode ser notado no drinque Açai (R$ 45), que leva bourbon, açaí e vinagre de arroz. Segundo Barbin, a clarificação desse coquetel faz com que o açaí amenize seu sabor terroso e fique mais harmonioso na combinação com os outros ingredientes.

Liz Cocktail&Co

Açai – Foto: Divulgação

A clarificação, processo que deixa o drinque mais claro ou transparente, é também usado pelo barman Leonardo Santos para compor seu Milk Punch, feito à base de gim, saquê, lichia, cajá e laranja. Além desse, Santos montou outros coquetéis para acompanhar os pratos do chef Menandro Rodrigues no Haru Sushi Bar, em Copacabana. Sobre a mudança no paladar de seus consumidores, Santos diz que “dez anos atrás já havia a intenção de criar coquetéis elaborados, mas o acesso à informação era limitado”. “Hoje, vemos bartenders mais técnicos, e o resultado é uma cena muito mais madura e criativa.”

Haru

Milk Punch – Foto: Divulgação