Diotima, verão 2026 – Foto: Divulgação

Na NYFW, o mesmo dia pode reunir contrastes que vão da sobriedade minimalista à exuberância performática, refletindo a pluralidade que atravessa a temporada. Enquanto a Toteme reafirma seu minimalismo escandinavo com peças sofisticadas e “beleza desfeita”, outras grifes, como a Diotima de Rachel Scott, mergulham na energia carnavalesca, traduzindo tradição e resistência em roupas modernas, sensuais e cheias de cor. Essa convivência de opostos marca a agenda e evidencia que não há um único caminho para a moda nova-iorquina: criatividade e identidade seguem sendo tão importantes quanto o mercado e a audiência.

Frequentemente apontada como a semana mais comercial do calendário, a NYFW mostrou nesta seleção de desfiles que o equilíbrio entre inovação e sofisticação nunca foi tão testado. Da Coach, que revisita seus códigos para dialogar com um público mais maduro, à estreia arrebatadora de Henry Zankov e seus visuais ousados inspirados em musas livres de convenções, cada apresentação reforça a ideia de que a cidade continua a ditar tendências, mesclando tradição, modernidade e narrativas pessoais de forma singular.

Veja mais detalhes dos desfiles desta segunda-feira (16.09) abaixo:

Coach

Coach, verão 2026 – Foto: Getty Images

Enquanto muitas marcas se esforçam para fidelizar uma audiência mais jovem, a Coach se mantém há anos como uma das etiquetas mais joviais do calendário de Nova York. Agora, faz o caminho inverso da concorrência: apresenta sua coleção mais sóbria em anos, mirando em um público mais maduro.

Depois das camisetas “I <3 NY” e dos óculos néons, a aposta da vez é uma cartela de tons neutros. A etiqueta traduz a verticalidade das grandes cidades em silhuetas alongadas — de maxivestidos à ampla e longa alfaiataria. Mas engana-se quem associa a nova sofisticação da Coach à rigidez: seus códigos permanecem intactos, com passarela povoada por tendências quentes dos feeds, das polêmicas cinturas baixas às gravatas usadas de forma deslocada. A jovialidade segue presente em tecidos puídos e jeans manchados, ainda que esse nômade urbano também valorize um bom terno ou sobretudo.

Mesmo sendo uma nova-iorquina fiel, a Coach carimba o passaporte ao viajar por outras metrópoles norte-americanas — de Seattle a Phoenix —, amarrando tudo em estampas de skylines e nomes de cidades. Como explica Stuart Vevers, a principal inspiração está no equilíbrio nova-iorquino entre brilho e garra, “essa resiliência e beleza com a qual a cidade volta à vida todas as manhãs”.

Tory Burch

Tory Burch, verão 2026 – Foto: Reprodução/Instagram/@toryburch

Enquanto muitas marcas em Nova York apostaram em passarelas quase monocromáticas nesta temporada, a Tory Burch seguiu na direção oposta: trouxe cor, humor e atenção aos detalhes. No imponente salão de um antigo banco, a estilista apresentou peças que equilibram referências pessoais — como as calças de cintura baixa que remetem aos anos 1990, década em que iniciou sua trajetória — e um olhar inventivo para o presente, visível em colarinhos que lembram origami, tricôs bordados à mão e jaquetas transformáveis por zíperes discretos. A proposta, segundo Burch, é injetar alegria e otimismo em um momento em que muitos escolhem a neutralidade.

Diotima

Diotima, verão 2026 – Foto: Divulgação

Recém-nomeada diretora criativa da Proenza Schouler, Rachel Scott levou sua própria marca, Diotima, à passarela pela primeira vez e confirmou o porquê de sua ascensão meteórica na moda americana. Inspirada pelo carnaval caribenho como ato de resistência e celebração, a estilista apresentou peças que transbordam sensualidade e força — de jaquetas com colares esculturais a biquínis bordados em micro paetês — traduzindo elementos tradicionais em roupas desejáveis para a vida real. Entre cores vibrantes, texturas inesperadas e a energia quase performática do desfile, Scott mostrou que sua narrativa ainda está no início, mas já se firma como uma das mais potentes desta temporada em Nova York.

Toteme

Toteme, verão 2026 – Foto: Divulgação

No antigo Pool Room do icônico restaurante Four Seasons, a Toteme reafirmou sua proposta minimalista com uma elegância que oscila entre Estocolmo e Nova York. Elin Kling definiu a coleção como uma busca por uma “beleza desfeita”, visível em tecidos fluidos combinados a tricôs compactos, acabamentos crus, couros lavados e peças usadas como se tivessem sido tiradas às pressas do armário — sempre com sofisticação contida. O preto e branco predominou, mas surgiram nuances peroladas e rendas delicadas inspiradas em lembranças pessoais, como as toalhas de mesa da casa dos avós da estilista. Entre o rigor escandinavo e a leveza descontraída, a Toteme reforçou seu diálogo sobre simplificar o vestir sem abrir mão da modernidade.

Zankov

Zankov, verão 2026 – Foto: Getty Images

Em sua primeira apresentação no formato tradicional de passarela, Henry Zankov mostrou que seu universo vai muito além do tricô que o consagrou. Inspirado por musas criativas e livres de convenções, como PJ Harvey e Zadie Smith, o estilista apresentou uma moda descomplicada e ousada, que mistura alfaiataria em seda, chiffon lavado, denim cru e bordados luminosos com a irreverência dos anos 1970. Entre tops improvisados, saias sarongue, paetês iridescentes e vestidos fluidos que dançavam ao caminhar, Zankov transmitiu a energia de quem veste sem regras, mas com confiança absoluta — um sopro vibrante em meio à temporada nova-iorquina.