Silhueta de Demna, na Balenciaga. Foto: Divulgação

Demna nunca quis agradar. Seu trabalho sempre partiu do desconforto, da provocação e da ironia aplicada às roupas. Entre collabs virais e desfiles que se tornaram memes globais, ele consolidou uma assinatura em que o luxo se mistura ao ordinário e a moda se apresenta como comentário social. Agora, essa trajetória ganha novo fôlego: Demna estreia como diretor criativo da Gucci. O anúncio, feito de supetão, pegou o mercado de surpresa e deixou a indústria ansiosa pelo que vem aí. Dias antes, o estilista já havia vazado propositalmente algumas imagens que apontam o tom da nova fase da marca. Não é a primeira vez que seus caminhos se cruzam com a Gucci: quando estava na Balenciaga — também parte do grupo Kering — ele assinou uma colaboração que antecipava essa aproximação.

RAÍZES

Nascido em 1981, em Sukhumi, na Geórgia, cresceu em meio à guerra civil, antes de se mudar para a Alemanha e depois para a Bélgica. Estudou na Academia Real de Belas Artes de Antuérpia, onde desenvolveu seu olhar para a desconstrução e o estranhamento. Antes de ganhar projeção em Paris, passou por experiências em marcas como Maison Margiela e Louis Vuitton. Em 2014, fundou ao lado do irmão, Guram Gvsalia, a Vetements, um coletivo que se tornou um laboratório de impacto cultural imediato.

PORTFÓLIO

Retrato de Demna Gvsalia. Foto: Reprodução

Foi na Vetements que seu nome ganhou destaque: hoodies oversized, jeans desconstruídos, botas que imitavam meias e logotipos reapropriados colocaram o underground no centro da moda. O sucesso o levou à Balenciaga em 2015, onde reconfigurou por completo a identidade da maison. Lá, Demna mostrou que ironia também vende: Crocs com salto, bolsas que lembram sacolas de feira, passarelas em lama ou neve. Ele transformou a Balenciaga em marca-símbolo do zeitgeist, colocando a moda no centro da conversa cultural.

 

ASSINATURA CRIATIVA

Silhueta de Demna na Balenciaga. Foto: Divulgação

Demna é conhecido por tensionar os limites entre luxo e banalidade. Sua estética é marcada por volumes exagerados, citações pop e uma leitura crítica da sociedade de consumo. Ao mesmo tempo, mantém precisão técnica e rigor na construção — herança da formação em Antuérpia. Sua moda não busca consenso: provoca, incomoda e viraliza.

A NOVA ERA GUCCI

“La Famiglia” é a primeira coleção da Gucci assinada por Demna (Foto: Catherine Opie/Divulgação)

Na Gucci, o desafio é diferente. A maison italiana atravessa um momento de redefinição após os anos de maximalismo romântico de Alessandro Michele e a breve passagem de Sabato De Sarno. A chegada de Demna sinaliza uma guinada: menos nostalgia, mais choque cultural. A Kering aposta em sua capacidade de recolocar a marca no centro da conversa global, unindo impacto cultural e força comercial.

Sua entrada também ressoa como gesto estratégico. Em um mercado que busca instantaneidade, trazer Demna para a Gucci é apostar no impacto cultural como motor de desejo. A questão não é se ele vai reinventar a maison, mas até onde pretende levar esse jogo.