Por Vinícius Francisco
Após visitar mais de 40 imóveis e viver o dilema entre um apartamento na charmosa Major Quedinho e outro na vibrante Major Sertório, foi o coração — e o senso prático — que guiou Alix Duvernoy até seu novo endereço. “Na época, morava sozinha com a minha cachorra, então optei por um lugar que me desse mais segurança. Depois que me casei, nos mudamos para o Prudência”, conta ela, referindo-se ao edifício modernista desejado por muitos. Construído entre 1944 e 1948, o Edifício Prudência é um marco do modernismo paulistano, com projeto de Rino Levi e paisagismo assinado por Burle Marx – ele também pintou os azulejos do hall de entrada. Com sua fachada curvilínea e detalhes funcionais, ele expressa o espírito racionalista da arquitetura brasileira do período, mas com uma dose elegante de teatralidade urbana. Localizado no coração de Higienópolis, o prédio abriga apartamentos amplos, bem iluminados e cheios de personalidade – características que encantaram Alix à primeira vista. “Sempre tive um fetiche pelo Prudência”, ela revela. “Quando passeava com a Gata, minha cachorra, ficava namorando o prédio.”

Foto: Ruy Teixeira
Alix Duvernoy é uma designer e empreendedora carioca que fundou a marca de moda ALIX em 2018, no Rio de Janeiro. Sua trajetória é marcada por uma fusão de experiências internacionais e uma forte conexão com a cultura brasileira. Estudou moda no Studio Berçot, em Paris, e fashion styling no Istituto Marangoni. Durante sua temporada em Londres, colaborou com joias e acessórios na Net-a-Porter e na agência Valery Demure – vivências que ampliaram seu repertório estético e sensibilidade criativa. A ALIX reflete essa pluralidade com naturalidade. A marca mistura referências tropicais, o espírito do Carnaval e uma galeria de mulheres inspiradoras, traduzindo a personalidade idiossincrática de sua criadora em roupas que cruzam o sofisticado e o descontraído com leveza e exuberância. Essa mesma abordagem aparece, com outra linguagem, na maneira como Alix habita e transforma os espaços por onde passa.
A mudança para São Paulo aconteceu em 2022, motivada por dois grandes fatores: “Apesar de produzir no Rio, vendo muito mais aqui. E minha mãe mora em São Paulo, queria estar perto dela”, diz a designer, que cresceu entre as duas cidades. “Morei aqui dos 3 aos 15. Me considero da Dutra”, brinca.

Foto: Ruy Teixeira
O apartamento, que divide com o marido, é reflexo dessa dualidade. Os dois assinam a decoração, sem ajuda de profissionais, mesclando objetos afetivos, heranças de família e peças de design com valor simbólico. “Gosto de casas com história, móveis vividos. Não entendo essa coisa de descartar tudo e começar do zero… Acho impessoal.” Colorido e expressivo como seu estilo e sua marca, o lar da designer é uma colagem viva de referências. Entre suas peças favoritas, ela cita a estante assinada por Rafael Triboli, o chapéu de miçangas da República dos Camarões — presente do marido — e a escultura O Beijo, da Mestre Irinéia, que ela mesma ofereceu a ele de aniversário. Outro destaque da casa é uma cadeira do convento de Mafra que a mãe dela comprou quando trabalhava na Christie’s. “Sou contra essa rigidez estética. Gosto de misturar.” Grávida de quatro meses, Alix revela ainda que o quarto de hóspedes, hoje seu cômodo preferido, está prestes a ganhar nova função: será o quarto do bebê. “É bem colorido, como eu gosto. Só vou incluir um berço e uma cadeira de amamentação.”
Nos fins de semana ideais, ela mantém o ritmo desacelerado: cama, livros, séries e longos passeios com a cachorra Gata até a Praça Buenos Aires. “Amo tomar água de coco por ali, almoçar no Cora, comprar pão no Seu Filão e queijo na Casa do Queijo, na Martim Francisco. É o meu programa perfeito.”