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O melhor da temporada internacional é observar o comportamento coletivo que se cria em torno dela. Afinal, são nas passarelas e no street style que vemos refletido o espírito do tempo — através da moda, contamos nossa história como sociedade. E o mais interessante é observar a direção que estamos tomando: entre o retorno nostálgico e as inovações que transformam completamente nossos hábitos e desejos.

Entre Paris, Milão, Londres e Nova York, um novo capítulo foi desenhado. Das passarelas emergem mensagens de liberdade estética, sensualidade reinterpretada e uma forte vontade de experimentar texturas, volumes e proporções — em um equilíbrio entre o artesanal e o tecnológico.

A transparência surge como o símbolo máximo dessa liberdade. Tecidos leves e reveladores apareceram em marcas como Schiaparelli, Paloma Wool e Cecilie Bahnsen, revelando uma sensualidade delicada e poética. No street style, o movimento também foi marcante: muitos fashionistas apostaram em tecidos translúcidos para compor produções que celebram o corpo e a liberdade de se vestir.

Na mesma direção, a lingerie abandona o espaço íntimo e ganha protagonismo nas produções — seja em corsets estruturados, sutiãs rendados sob camisas transparentes ou combinações de seda usadas à luz do dia. Até os pijamas entraram em cena no desfile da Dolce & Gabbana, misturando-se a lingeries e peças de alfaiataria para encontrar o equilíbrio entre conforto, sensualidade e sofisticação. A tendência também apareceu em desfiles como Acne Studios e Tom Ford, reforçando a ideia da roupa como extensão da pele.

O Azul Klein (ou IKB) também vive um novo ciclo. Ícone recorrente na história da moda, o tom reaparece nesta temporada trazendo frescor e energia a um cenário antes dominado pelos neutros. Intenso, vibrante e moderno, o azul se impõe como uma verdadeira declaração de estilo.
Sua origem remonta ao artista francês Yves Klein, que em 1960 criou e registrou uma tonalidade de azul para traduzir o que chamava de “espaço puro” — uma representação do infinito e da espiritualidade. Em parceria com o químico Édouard Adam, Klein desenvolveu uma fórmula capaz de preservar o brilho e a profundidade do pigmento ultramarino sem perder sua intensidade.

As franjas também voltam com força — não apenas como detalhe decorativo, mas como movimento. Elas trazem fluidez, ritmo e leveza, traduzindo bem o espírito livre da estação. Surgem em diferentes materiais, como couro, fios de algodão e até versões que lembram penas e plumas, dominando passarelas e ruas. Estão em bolsas, sapatos e vestidos, em um retorno que mistura o boêmio e o sofisticado.

Nos shapes, o olhar se volta aos volumes nos quadris e ao retorno do balonê, ambos reinterpretados de forma escultórica. A silhueta deixa de ser linear para abraçar a tridimensionalidade.
Os quadris marcados, vistos em coleções como Erdem, Mugler e Giuseppe di Morabito, retomam uma referência histórica do vestuário — quando a forma feminina era acentuada por armações e anquinhas no século XVIII, símbolo de status e feminilidade. Já os balonês, que dividem opiniões, retornam repaginados em marcas como PartBo, Vivetta e Coperni, equilibrando drama e leveza.

A experimentação têxtil é outro ponto alto: materiais reaproveitados, técnicas artesanais e acabamentos tecnológicos se unem em construções inovadoras — um reflexo direto da busca por propósito e singularidade. Com o debut de Matthieu Blazy, é notório a sua vontade de experimentação têxtil na maison, como a abertura das tramas nos clássicos tweed de Chanel e também na malharia da maison, que trouxe inovações a códigos tradicionais.

Por fim, as maxi bolsas reafirmam seu papel de destaque. Muito além da funcionalidade, elas se tornam elementos de impacto no styling — equilibrando exagero e elegância, e traduzindo a força da mulher contemporânea que carrega o mundo dentro de si.

Entre transparências e volumes, a moda atual celebra a ousadia de se mostrar e, ao mesmo tempo, a delicadeza de se reinventar — um reflexo perfeito do tempo em que vivemos.