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Esqueça o futurismo metálico e os looks que parecem saídos direto de uma impressora 3D. O que realmente ditou o tom das últimas semanas de moda, de Nova York a Paris, foi o retorno do feito à mão: crochet, bordados, tricôs, miçangas, rendas e couro trançado, o toque humano voltou a ocupar o centro do palco. 

Chanel (Foto: Getty Images)

Das petites mains da alta-costura francesa às costureiras independentes que transformam tecidos, o feito à mão sempre foi o coração pulsante da moda. Mas o que vemos agora é uma nova tradução dessa herança: o artesanato deixa de ser o detalhe romântico do passado e vira o ponto chave contra a pasteurização digital. Uma espécie de slow couture em plena era da velocidade.

Tokyo James (Foto: Getty Images)

Em Milão, Tokyo James mostrou que o couro pode ser sensual e orgânico, com trançados manuais e miçangas que deram vida ao material. Eleventy apresentou bolsas de crochê minimalistas — simples na aparência, sofisticadas na execução —, enquanto Luisa Spagnoli reinterpretou o tricô com corsets ajustados ao corpo, equilibrando tradição e desejo.  Stella Jean, defensora ferrenha do trabalho artesanal e das comunidades de artesãs, levou à passarela colares, saias e corsets bordados.

Stella Jean (Foto: Getty Images)

Luisa Spagnoli (Foto: Reprodução/Instagram)

O artesanal também apareceu em versões mais opulentas: Antonio Marras transformou rendas em obras de arte quase poéticas, e Zuhair Murad levou o bordado a um novo patamar, cobrindo corsets com pedrarias que hipnotizam sob a luz. Na Alexander McQueen, o couro trançado surge como antídoto à rigidez futurista da maison — uma prova de que até na geometria mais precisa cabe um toque de humanidade. Em Nova York, Polo Ralph Lauren celebrou o artesanal com aquele charme boêmio e descontraído que é a cara do americano que sabe fingir que não se esforçou.

Polo Ralph Lauren (Foto: Reprodução/Instagram)

Mas talvez um dos momentos mais simbólicos dessa volta tenha vindo com a Miu Miu, que praticamente selou o conceito com o uso de aventais em quase todos os looks. O acessório, que remete imediatamente à indumentária dos artesãos, foi repensado para a passarela: virou peça de estilo e, ao mesmo tempo, homenagem direta ao trabalho manual. Era como se cada look prestasse tributo àqueles que moldam, costuram e bordam à mão.

Miu Miu (Foto: Reprodução/Instagram)

Miu Miu (Foto: Getty Images)

Aqui não vemos nada de “retrô”, nem de romantismo excessivo. As peças surgem com cortes arquitetônicos, ferragens industriais e uma dose generosa de modernidade. Em um mundo saturado de imagens e carente de toque, o humano virou artigo de luxo.