Das descobertas da estreia de Harris Dickinson como diretor ao olhar atento de Alex Burnova. Foto: Reprodução

Por Paula Jacob

A partir do dia 16 de outubro, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo ocupa 52 salas de cinemas com mais de 370 filmes de 80 países. Com grandes nomes internacionais que vão desde Guillermo del Toro até Richard Linklater, a edição de 2025 também é uma ótima oportunidade para conhecer talentos emergentes que apresentam novos olhares diante de questões pessoais, afetivas, políticas e cotidianas. Aqui, uma seleção de cineastas para você ficar de olho e, quem sabe, colocar seus respectivos filmes na agenda cinéfila do mês:

 

Harris Dickinson

Trecho do filme “Sirat”. – Foto: Reprodução

Ele pode ser o nosso eterno babygirl, mas sua sensibilidade de atuação transborda para além de papeis bem curados e parcerias com diretores autorais – como com Ruben Östlund, em Triângulo da Tristeza, ou Eliza Hittman, em Beach Rats. Por trás das câmeras, Harris se aventurou pela primeira vez na direção em 2021, quando lançou o curta-metragem 2003 no Festival de Londres e, agora, faz seu début em longas, com Urchin. No drama, um morador de rua preso em um looping autodepreciativo busca, enfim, quebrar ciclos de vício em busca de relações melhores (consigo e com os outros). O roteiro delicado rendeu a Frank Dillane o prêmio de melhor ator e ao filme, o prêmio da crítica no Un Certain Regard, do Festival de Cannes.

 

Vladlena Sandu

Cena do filme “Memória” – Foto: Reprodução

Nascida na Ucrânia, a cineasta usa o cinema como plataforma para tratar de temas que fazem parte da sua vida: imigração, guerras e colonialismo soviético. Entre a infância na República da Chechênia, a adolescência na Rússia continental e a vida adulta na Holanda, Vladlena já assinou a direção de três curtas metragens, entre 2012 e 2018, que rodam grandes festivais. Agora, chega ao Brasil com Memória, um misto de documentário e ficção que retrata a sua trajetória como pessoa refugiada e o quanto a violência externa afeta as dinâmicas familiares em regiões de conflitos constantes.

 

Shih-Ching Tsou

Cena do filme “Left-handed Girl” – Foto: Reprodução

Produtora de filmes de Sean Baker – coloque na lista Projeto Flórida, Tangerine, Red Rocket e Uma Estranha Amizade –, a também atriz taiwanesa-americana se formou na Universidade Católica Fu Jen, em Nova Taipé, e mudou-se para os Estados Unidos para cursar seu mestrado na prestigiada The New School. Codirigiu e coescreveu seu primeiro filme com Baker, em 2004, Take Out, e, agora, voa solo na função com Left-Handed Girl. O drama acompanha três gerações de uma família que precisa se reinventar após trocar o campo pela cidade de Taipei, gerando conflitos de crenças tradicionalistas e a busca pelo novo.

 

Alex Burunova

Cena do filme “Satisfação” – Foto: Reprodução

Gênero e questões que rondam o feminino contemporâneo são assuntos de interesse da cineasta que trocou as artes plásticas pelas câmeras em 2014. Formada pela Escola de Cinema da Universidade do Sul da Califórnia, a russa radicada em Los Angeles assina a direção dos curtas-metragens Lonely Planet e Pale Blue (2015), que tratam de relacionamentos afetivos e maternidade em diferentes esferas, mas com o seu olhar sensorial para o tempo. Algo que se expande no belíssimo Satisfação, sua estreia na direção, destaque do SXSW 2025, sobre uma artista musical que carrega em si um trauma assombroso que corrói seu relacionamento.

 

Mascha Schilinski

Cena do filme “O Som da Queda” – Foto: Reprodução

Com uma mãe cineasta, a diretora alemã percorreu outros caminhos artísticos (até para o circo entrou) antes de seguir os passos maternos. Fez especialização em roteiro na Filmschule Hamburg e estudou direção na Academia de Cinema de Baden-Wüttenberg para se jogar no ofício. O seu primeiro trabalho, o média-metragem The Cat (2015), conta a história de mãe e filha que tecem uma relação complexa após o abandono do pai/marido, que, antes de partir, deixa de presente um gato. O tema volta a aparecer no seu primeiro longa, A Filha (2017), que olha mais de perto os efeitos do divórcio na vida de uma criança. Com O Som da Queda, vencedor do prêmio do Júri em Cannes, ela cria uma timeline de mulheres que se conectam por meio de uma fazenda na região histórica de Altmark.

 

Valéry Carnoy

Cena do filme “Dança das Raposas” – Foto: Reprodução

Já na conclusão da sua formação no Institut National Supérieur des Arts du Spectacle, em Bruxelas, o cineasta belga fez sua marca: My Planet (2018) saiu do espaço acadêmico direto para o Tallinn Black Nights Festival, na Estônia, onde ganhou o prêmio de melhor curta-metragem. Chega à 49a Mostra de São Paulo com o seu primeiro longa-metragem, A Dança das Raposas, um estudo sobre a masculinidade em jovens lutadores que não podem revelar suas vulnerabilidades – nem dentro, nem fora dos ringues.

 

Yuiga Danzuka

Cena do filme “Nova Paisagem” – Foto: Reprodução

Outro cineasta que também saiu da universidade direto para o circuito de festivais internacionais. After the Night on the Bridge (2019), projeto de conclusão de curso na Tokyo Film School, é protagonizado por dois irmãos que lidam com o suicídio da mãe na capital do Japão. Tema central do seu primeiro longa, Nova Paisagem, que também acompanha dois irmãos em uma Tóquio efervescente, assombrados pela falta da mãe e pela presença incômoda de um pai em busca de reconciliação.

 

Walter Thompson-Hernández

Cena do filme “Pipas” – Foto: Reprodução

Ele trocou a carreira de jornalista multimídia no The New York Times pelas narrativas de maior profundidade (e duração) como cineasta. Os temas de seu interesse, porém, permanecem os mesmos: subculturas globais. Só com o seu primeiro projeto, If I Go Will They Miss Me, ele ganhou o prêmio de melhor curta-metragem americano no Festival de Sundance e foi eleito uma das 25 novas caras do cinema pela Filmmaker Magazine. Em Pipas, sua estreia na direção de longas, ele apresenta Duvo, um homem que viveu a vida inteira nas favelas do Rio de Janeiro e, agora, acompanhado de uma espécie de “anjo de guarda”, enxerga certa mágica no cotidiano que também é marcado pela violência. Nessa dicotomia dos dias, ele tenta encontrar brechas para resistir. 

 

Tomás Corredor

Cena do filme “Novembro” – Foto: Reprodução

Formado em cinema em Bogotá, atuou como professor da área em instituições de ensino variadas na Colômbia. Se rendeu ao “outro lado” da profissão em 2020, com o curta Graceland, ao mesmo tempo que fazia acontecer Diário Lo-Fi, captação cotidiana em 366 micro curtas, feitos entre janeiro e dezembro de 2020. Radicando na Suécia, ele traz para o seu primeiro longa-metragem, Novembro, a história de um grupo de guerrilheiros, juízes e civis, que ficam presos em um banheiro por mais de 27 horas durante a tomada do Palácio da Justiça.