
Os destaques do último dia do SPFW N60. Foto: Reprodução / AgSite
O último dia do SPFW começou no MAC com o Ponto Firme, de Gustavo Silvestre. O estilista apresentou um tableaux vivant em que o crochê ganhava novas camadas de sentido. As peças, feitas a partir de resíduos têxteis e cristais, surgiam entre estruturas cortadas a laser e plataformas reaproveitadas. O resultado foi uma leitura contemporânea do trabalho manual, conectando artesania, inclusão e desejo.
De volta ao pacubra, Weider Silveiro apresentou uma coleção inspirada na bailarina Pacarrete, figura marcante do cinema e da cultura popular cearense. A entrada final de Vivi Orthdisciplina e delicadeza: colants, saias em tule e fitas de cetim foram reinterpretados em volumes e cortes precisos.A cartela terrosa reforçou a sensação de movimento, entre força e fragilidade. Para quem gosta de uma boa trend, o desfile também propôs uma nova leitura do color block, só que agora em tons terrosos. Fechando o desfile, Márcia Dailyn, a primeira bailarina travesti do Theatro Municipal de São Paulo, trouxe presença e gesto, dando o tom da performance.
Em seguida, Luiz Claudio transformou a passarela da Apartamento 03 em um exercício de memória. A referência ao palhaço Benjamin de Oliveira, primeiro palhaço negro do Brasil, guiou uma coleção que combinava poás, xadrezes, brocados e plumas. Cada look parecia revisitar o tempo com consciência e domínio técnico, tendo o circo como ponto de partida artístico, não como fantasia literal.
Na Martins, Tom revisitou os primeiros passos da marca. A coleção olhou para o próprio arquivo e atendeu a um pedido constante do público: o retorno de peças criadas em 2018 e 2019. Com paleta restrita de preto, branco, cinza, off e marinho, ele reafirmou a estética contida e precisa da label, traduzindo o passado como continuidade e não nostalgia. O Silêncio, como a coleção foi batizada, também tomou conta do backstage e da passarela, sendo possível ouvir os barulhos das roupas se movimentando, dos calçados e dos cliques das câmeras.
Encerrando a edição de 30 anos do evento, Lino Villaventura apresentou uma síntese de sua trajetória. Entre moulages e bordados, ele trouxe de volta elementos que marcaram sua assinatura: arames, colagens, cristais. Cada look soava como um capítulo de uma história que ajudou a moldar a moda brasileira. A entrada final de Vivi Orth, em vestido pêssego, selou a temporada com a imagem de uma moda que reconhece sua própria história e ainda tem fôlego para seguir adiante.