The Togo Sofa – Foto: Divulgação
Por Marcos Zeitoune
A Semana de Design de Milão 2025 não deixou dúvidas: o sofá modular reinou entre as principais criações apresentadas no evento, que é o farol das tendências e das reflexões sobre o futuro do design, da arquitetura e do lifestyle contemporâneo. Dois dos highlights mais representativos foram o Butter, da Faye Toogood para a Tacchini — um sofá modular, escultural e macio com estofamento generoso e suave como manteiga, e o Gruuvelot, uma interpretação ousada do modelo assinada por Patricia Urquiola para a Moroso, lançada na exposição Normal Non-Normal.
Por aqui, o modelo também é tendência e apareceu com frequência na composição de vários ambientes de arquitetos como Marina Linhares e Dado Castello Branco na Casa Cor 25, que acontece até 3 de agosto no Parque da Água Branca, em São Paulo.
Assim como a moda, o design de interiores é cíclico, e os sofás atuais refletem esse movimento, resgatando referências das décadas de 1960 e 1970, quando o modelo modular ganhou protagonismo — ainda que o surgimento do sofá componível tenha acontecido na década de 1940, pelas mãos do designer norte-americano Harvey Probber (1922-2003). A ascensão desse tipo de mobiliário é um reflexo das transformações dos modos de viver da época, marcada por casas mais informais e espaços voltados à convivência, flexíveis e adaptáveis ao dia a dia.
A década de 1970 foi especialmente prolífica para a peça, com diversos destaques como o modelo Marenco, criado pelo designer italiano Mario Marenco (1933-2019) para a marca italiana Arflex. A estrutura acolchoada e a possibilidade de ser montado com ou sem braços foram os diferenciais da época que o tornam atual mesmo nos dias de hoje. Da mesma época, o sofá modular Strips, da arquiteta italiana Cini Boeri, também para a Arflex, revolucionou o design de móveis e ainda hoje ocupa lugar de destaque na história do mobiliário. Projetado em 1968, ganhou os principais prêmios de design, como o Compasso d’Oro, em 1979, além de ser parte da coleção de instituições como o Museum of Modern Art (MoMA), em Nova York, e o Triennale Design Museum, em Milão.
Ainda em 1970, foi a vez da B&B Italia lançar, pelas mãos de Mario Bellini, o sistema Camaleonda, composto por módulos de 190×90 cm. Tão popular em seu tempo quanto agora, o modelo ressurgiu com força nas redes sociais e conquistou novamente arquitetos e decoradores nos últimos anos. E quando o assunto é modularidade, é impossível não mencionar o icônico sofá Mah Jong (1971), criado pelo pintor, escultor e designer Hans Hopfer para a Roche Bobois — talvez o modelo mais reconhecível pelo grande público.
Na década de 1980, Michael McCoy desenhou o modelo Quadrio (1986) para a fabricante holandesa Artifort. Repleto de personalidade, o sofá é claramente inspirado no movimento Memphis, que chacoalhou Milão — e o mundo — naqueles anos. O Brasil tem bons representantes no assunto: vale o destaque para os modelos Bold (2023), Brioche (2023) e Traço (2024), todos do Fernando Jaeger Atelier; a conversadeira Segall (1932) com design de Lasar Segall, reeditada em 2016 pela Etel; o sofá Plataforma (2023) de Eduardo Chalabi para a coleção Dpot; além do modelo Seixos, com design de Rahyja Afrange, um sofá-ilha composto por oito módulos de formas orgânicas, quatro assentos, dois braços e dois encostos — brincando com a ideia de volumetrias, cheios e vazios. Inspirado pela palavra tupi amana, que significa “chuva” ou “água da chuva”, o sofá que leva o nome indígena foi criado por Nildo José para a Lider Interiores, em 2024. O design curvilíneo e orgânico, que remete a uma gota d’água, tem sua leveza realçada pelo paradoxo criado pela estrutura de metal. Esbelta e rígida, ela faz com que o estofado ganhe mais movimento.
Mais do que uma tendência passageira, o sofá modular reflete uma mudança profunda na maneira como habitamos os espaços — com liberdade, fluidez e um olhar mais atento à funcionalidade afetiva dos objetos ao nosso redor.











