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Sob a cúpula art nouveau inaugurada em 1912 por Ferdinand Chanut e Jacques Grüber, a Galeries Lafayette é mais que uma loja: é o reflexo do zeitgeist parisiense, uma cidade que respira moda, cultura e história. À frente dessa engrenagem está Alexandre Liot, vice-presidente do grupo, que começou a trajetória na própria “galeria” ainda jovem, no fim dos anos 1990. Formado pela École Hôtelière de Lausanne, na Suíça, ele aprendeu cedo a ver o varejo como uma extensão da hospitalidade, um traço enraizado em sua formação. Passou por diferentes áreas da companhia até assumir o comando da flagship Haussmann, passo que o levaria à posição atual, supervisionando toda a operação global.
Para Liot, a força da Lafayette está no que acontece todos os dias, e não apenas nas datas comemorativas. “Quando o cliente cruza a porta da loja, há sempre algo acontecendo. Temos um evento permanente, que é a cúpula, e uma programação contínua de ativações e privatizações”, conta. “A gente se posiciona como uma entreprise d’événements, uma empresa de eventos, e isso significa que a experiência começa no instante em que você entra.”

Sob o olhar de Alexandre Liot, a Galeries Lafayette reafirma seu papel como o coração pulsante do ‘art de vivre’ parisiense (Foto: Ale Virgilio/Divulgação)
Hoje, a Galeries realiza entre 100 e 200 pop-ups por ano. Cada uma delas, um laboratório criativo. “Essas ativações nos permitem testar conceitos e fortalecer a relação com criadores do mundo inteiro”, explica Liot. “A Lafayette acompanha a criação, seja nacional ou internacional. A agilidade cultural é o que mantém nossa relevância.” Esse olhar também se volta para o Brasil. “Estamos imaginando, dentro da loja, um espaço dedicado a designers, criadores e estilistas brasileiros e de outros países, para reafirmar nossos valores: acompanhar a criação, seja ela francesa ou internacional.”
A lógica do encantamento também se traduz na estrutura da marca. “Durante a pandemia, direcionamos o foco para o público francês. Quando as fronteiras começaram a reabrir, conduzimos uma prospecção ativa em cada país que recuperava a liberdade de viajar. Isso nos permitiu calibrar a operação global e entender em quais categorias tínhamos força, mas ainda não liderança, como o calçado feminino, por exemplo.” O resultado foi uma reorganização completa da loja, com novos espaços dedicados ao bem-estar, que somam mais de três mil metros quadrados, e uma revisão dos universos feminino e infantil. “O que fizemos foi fortalecer os pilares onde já tínhamos autoridade e abrir caminhos onde poderíamos crescer.”

Decoração de Natal na Galeries Lafayette, em novembro de 2024 (Foto: Getty Images)
Liot fala com entusiasmo sobre a energia que encontrou aqui. “O Brasil tem uma vitalidade única. Os franceses amam o Brasil e, vindo ao país, percebi o quanto o sentimento é recíproco. Há criatividade, elegância e uma gentileza que são raras.” A expansão internacional do grupo, no entanto, segue outro compasso. “Nosso foco atual está na Ásia, no Oriente Médio e na Índia, regiões com grande potencial de desenvolvimento”, diz. “A Índia, por exemplo, será um teste importante, pois o conceito de grandes lojas de departamento ainda é novo por lá.”
Sobre o digital, a visão é pragmática. “Atualmente, nosso site não realiza entregas no Brasil. As barreiras fiscais e logísticas tornam o investimento muito elevado para um retorno limitado”, explica. “Além disso, o DNA da Lafayette está centrado na experiência, e acreditamos que o valor emocional e relacional que entregamos em loja é insubstituível. É impossível ser verdadeiramente experiencial e emocional via digital.”
Depois de quatro dias no país, Liot saiu com uma certeza: o brasileiro e o francês têm mais em comum do que se imagina e isso vai muito além do ano de colaboração entre Brasil e França. “Os brasileiros adoram experiências, exclusividade e têm uma verdadeira cultura do vinho. Tudo o que eu imaginava foi amplificado — energia, gentileza, criatividade.” E completa: “A paixão pela moda é o que nos une. É um idioma comum entre culturas diferentes.” Com 131 anos de história, a Galeries Lafayette segue traduzindo esse encontro entre tradição e futuro. Um lugar onde o art de vivre (arte de viver, em português) continua a ser o fio condutor. Não é apenas uma loja, mas uma forma de ver o mundo que vive sempre em movimento.

Pista de patinação no terraço da Galeries Lafayette, que fica aberta entre 1º de dezembro e 4 de janeiro, com vista para a Torre Eiffel e a Ópera de Paris (Foto: Divulgação)
Boas festas
Neste Natal, o terraço do grand magasin volta a ser um palco de celebração. Sob a temática O Mais Belo dos Presentes, o espaço ganha uma pista de patinação no gelo ao ar livre, aberta no próximo dia 1º de dezembro e que segue até 4 de janeiro, com vista para a Torre Eiffel, a Basílica de Sacré-Cœur e os telhados parisienses iluminados para as festas de fim de ano. Um gesto simbólico de quem entende, há 131 anos, que o luxo do hoje está no encantamento. “A diferença está na oferta, mas também no sentimento. O que nos move é essa capacidade de surpreender, de gerar emoção. A experiência é o que nos distingue.”

