Experimentação, crítica e memória marcam o segundo dia da 57ª Casa de Criadores

No segundo dia da Casa de Criadores, a passarela reforçou o papel do evento como laboratório de experimentação, inclusão e narrativas potentes. A programação começou com a presença da Moda Inclusiva, iniciativa que destaca projetos voltados para acessibilidade e funcionalidade no vestir, ampliando discussões urgentes sobre representatividade. Em seguida, a Creations LI L fez sua estreia com Undergrounders, uma coleção visceral que transforma resíduos em luxo e celebra a força criativa que nasce do subterrâneo. Encerrando o bloco, a MARLO apresentou Intimate Dive, um mergulho introspectivo que revisita três coleções fundamentais da marca para construir uma nova síntese estética pautada em sustentabilidade e reconstrução simbólica.

MODA INCLUSIVA – Collab Casa de Criadores 2025

A Collab Moda Inclusiva reforça seu compromisso em ampliar a representatividade dentro da moda ao selecionar projetos que contemplam corpos, idades, gêneros, etnias e pessoas com deficiência, convidando o setor a desenvolver soluções reais para o cotidiano desses públicos. Em sua 3ª edição, a iniciativa — com inscrições abertas até 6 de outubro — oferecerá suporte técnico, capacitação pelo SEBRAE e avaliação criteriosa de propostas baseadas em pesquisa, inovação e funcionalidade. Idealizada por Daniela Auler e Gabriela Sanches, a plataforma destaca a moda como ferramenta social transformadora, e os 20 projetos finalistas desfilarão na Casa de Criadores 2025, ampliando o debate sobre acessibilidade e desenho universal dentro da cena contemporânea.

CREATIONS LI L – “Undergrounders”

Em sua estreia na Casa de Criadores, a Creations LI L apresenta Undergrounders, uma coleção-manifesto construída a partir da fricção entre sobrevivência e invenção. Marcelo Mariani revisita quatro anos de experimentações feitas à margem — técnicas improváveis, erros revisitados, obsessões refinadas — para criar uma arqueologia pessoal que culmina em peças de potência madura. A marca aposta no upcycling radical para transformar jeans em estrutura, couro automotivo em armadura e correntes em tecido, criando um luxo derivado da gambiarra e da inteligência de sobrevivência. Com uma paleta densa e volumes que ignoram gênero, Undergrounders celebra o subterrâneo como espaço de criação legítima, afirmando que gesto e técnica têm o mesmo peso em uma moda que nasce do colapso do recurso e da insistência em existir.

MARLO – “Intimate Dive”

A MARLO mergulha em suas matrizes criativas com Intimate Dive, coleção que revisita e reconstrói três pilares da marca — Zero Point, Ilusion e Last Day on Earth — em uma nova síntese estética. Desenvolvida em parceria com o Senac Moda e apoiada por mentoras técnicas, a linha faz da desconstrução e do upcycling suas principais direções, propondo renascimentos têxteis que unem futurismo, eterealidade e ousadia. Em um movimento introspectivo, a coleção recusa buscar referências externas e volta-se para dentro, transformando memórias e questionando formatos tradicionais para projetar um futuro onde corpo, matéria e narrativa se diluem em permanente mutação. Intimate Dive marca uma nova fase para a marca, comprometida com sustentabilidade, experimentação e uma visão poética de transformação.

Lucas Caslú — “Coleção Saldos”

Abrindo o dia, o designer goianiense Lucas Caslú apresentou Coleção Saldos, uma crítica direta ao consumo acelerado e à exploração da criatividade dentro da indústria. Apostando mais uma vez no upcycling e no maximalismo geométrico, o estilista combina fillete, sarja, tafetá, plástico, jeans e tricoline reaproveitados para construir peças que desafiam forma e volume. O desfile ganha força com a participação da drag Ottair, que assina a abertura performática e apresenta a faixa “Autenticídio”, reforçando a discussão sobre o valor simbólico — e comercial — da criação. Consolidado como nome da nova geração, Caslú encerra este ciclo na CDC reafirmando sua identidade e o compromisso com uma moda sustentável, experimental e profundamente ligada às suas raízes goianas.

N/E RECYCLED — coleção inspirada em AKIRA*

A N/E* RECYCLED mergulha no universo estético e simbólico do clássico AKIRA (1990) para construir uma coleção que mistura referências do filme e do mangá com o streetwear experimental e a reconstrução têxtil característicos da marca. As cores vibrantes e o clima de tensão futurista presentes na animação orientam a criação das peças, que reinterpretam gestos, estruturas e atmosferas do original sem abrir mão da identidade prática, urbana e consciente da label. O resultado é uma coleção que não apenas homenageia a obra, mas a ultrapassa — transformando seus códigos visuais em roupas que dialogam com o presente, projetam novos futuros e reafirmam o upcycling como ferramenta estética e narrativa.

Vinnicius Afonso — “FASCÍNIO”

Em FASCÍNIO, Vinnicius Afonso resgata o esplendor do jacquard metalizado para colocá-lo sob uma luz contemporânea, onde o brilho deixa de ser adorno e torna-se linguagem de identidade. Inspirada pelos anos 1960 — com seu futurismo laminado — e pelos 1970 — marcados pelo glam rock e pela androginia — a coleção combina referências que vão de Bowie a Ney Matogrosso, criando silhuetas ousadas e emocionalmente carregadas. Entre estrutura e fluidez, vulnerabilidade e poder, o metalizado ressurge como armadura sensível e manifesto visual. Cada peça celebra a multiplicidade e a coragem de existir, reafirmando o direito de ocupar espaço e de transformar imagem em presença.