
Vânia Goy é editora de beleza e comportamento da Harper’s Bazaar Brasil – Foto: Reprodução/Harper’s Bazaar
Por Vânia Goy
Tenho amigos experts em descobrir lugares paradisíacos para passar as férias de verão e, quando eles mencionaram que o destino do último réveillon seria Alter do Chão, no Pará, me apressei para dar uma pesquisada na internet. Depois de ver imagens de areia branca e água azul-esverdeada, topei na hora.
O curioso é que o vilarejo, que fica a 33 km de Santarém, cidade onde desembarquei, tem apenas praias de água doce. Elas estão entre as dez mais bonitas do mundo, segundo o jornal britânico The Guardian, e têm tempo certo para serem visitadas: entre agosto e fevereiro. No resto do ano, o nível dos rios sobe, e a paisagem desaparece, submersa.
À primeira vista, quase dá para acreditar que aquela água toda, que vai até o horizonte, se trata do mar “infinito”, mas não se engane, as margens são banhadas por três rios famosos: o Tapajós, o Arapiuns e o Amazonas.
Dividimos nossa estada em duas fases: na primeira, ficamos quatro dias hospedados na vila. Depois, foram mais quatro noites em um barco-casa, típico de lá.
Na vila, os hotéis Beloalter e Mirante da Ilha não têm estrelas, mas recebem os turistas com ar-condicionado e café da manhã repleto de comidinhas típicas, como batata doce, bolo de macaxeira e deliciosas tapiocas (mas também tem pão de queijo, para quem fez careta).
A faixa de areia mais próxima do centro (e mais cheia) é conhecida como Ilha do Amor e foi nossa primeira parada. Atravessando uma parte rasa do rio, dá para ver 360 graus de areia branca, água azul e floresta. No fim da tarde, ficávamos entre as duas margens, observando o pôr-do-sol de um lado e o nascer da lua do outro.
Os visitantes ficam concentrados nas barracas rústicas espalhadas pela areia. Ali são preparados peixes de água doce assados ou fritos para beliscar ou almoçar. Os mais comuns são o charutinho, filhote, tambaqui e pirarucu.
De volta à vila, o restaurante Arco-Íris serve pratos mais elaborados e ainda dá para dançar no Espaço Alter do Chão, que me apresentou o carimbó. Foi com os paraenses que arrisquei alguns passos da dança tradicional de influência indígena.
Ainda no centro, conheci o acervo da loja Aribabá. Referência para historiadores e museus do mundo todo, ela reúne peças de mais de 80 tribos de índios. Cerâmicas, redes, cestas, armas e incríveis maxicolares coloridos usados em rituais merecem espaço na mala.
Mas, o segredo de Alter do Chão é navegar e fugir da civilização pelos igarapés, lagoas e penínsulas de areia branca. Barquinhos e lanchas rápidas nos levaram, por exemplo, para a ponta do Cururu, onde o entardecer é inesquecível, a proximidade da floresta amazônica impressiona e os botos acinzentados e cor-de-rosa surpreendem com seus saltos.
Melhor ainda foi se despedir do vilarejo e partir a bordo da embarcação – a melhor experiência que alguém pode ter nesse canto do País. O barco atravessou as águas do Tapajós e Arapiuns rumo a Santarém. O roteiro é deslumbrante. Ao longo dele dá para fazer paradas estratégicas em praias desertas, como a Ponta Grande; lagos cristalinos, como o Tapari; conhecer comunidades e até arriscar trilhas pela floresta.
À noite, o Dom Giuseppe, nosso barco pitoresco, ancorava em uma das pontas de areia branca – absolutamente desabitada, silenciosa e livre de mosquitos. Peixes eram assados na praia, e frutas típicas da Amazônia viravam deliciosas sobremesas na cozinha. E qualquer luxo se tornava dispensável diante da fogueira, preparada para observarmos a lua, que nasceu cheia e alaranjada no horizonte ao longo de toda aquela semana.