
Foto: Josefina Bietti, com styling por Carlos Esser, beleza por Guilherme Casagrande, direção de arte Yasmin Klein, assistência de foto Marina Najjar, assistência de beleza Danni Quess e tratamento por Gabriella Prata. Agradecimento especial ao Instituto Terra, Lélia Salgado, Juliano Salgado e Rodrigo Salgado
Por Alexandra Farah
A segunda capa que faço com Mariana Ximenes é esta. A primeira, em 2000, revelava a jovem atriz de 19 anos como protagonista da novela Uga Uga. Sua personagem Bionda tinha fobia de casamentos e lançava a moda de umbigo de fora e muitos tererês no cabelo. Hoje, com carreira sólida na tevê, teatro e cinema, Mari ainda guarda o jeito angelical, a gentileza e a mesma virtude de estar sempre no centro das (boas) histórias.
Agora, reencontro Mariana militante, a que coloca sua voz e imagem para ampliar a necessidade de regenerar a terra. Com mais de 5 milhões de seguidores e visibilidade de atriz global, ela se juntou ao Instituto Terra. Fundado pelo fotógrafo Sebastião Salgado e sua parceira de vida e de obra, a arquiteta e curadora Lélia Wanick, o instituto existe na fazenda que era da família de Sebastião, em Aimorés, Minas Gerais. Desde 1998, eles plantaram mais de 3 milhões de árvores.
Uma foto do instituto viralizou. Ela mostra lado a lado, o antes e o depois dos primeiros 25 anos do trabalho de plantar árvores. E choca. No antes, o solo seco, amarelado, sem plantação, triste e vazio. No depois, a floresta densa, verde, viva, cheia de esperança. O trabalho de Lélia e Sebastião, que morreu em maio, aos 81 anos, fez florescer ainda mais o ativismo de Mari – que já tinha se envolvido na tragédia de Mariana, também em Minas.
As fotos incríveis que ilustram a capa e o miolo desta edição de Bazaar são parte da missão da atriz, que assume como uma espécie de embaixadora do Instituto Terra. Seu maior objetivo é ajudar a trazer a consciência de que árvores são essenciais para a qualidade de vida do planeta e dos humanos que moram sobre ele.
Em 2015, estimava-se que existiam cerca de 3 trilhões de árvores no mundo, de acordo com a revista Nature. Atualmente, esse número deve ser bem menor, já que se derrubam, em média, 15 bilhões de árvores ao ano. É muito. Por isso, a urgência de plantar e plantar sem desanimar. Árvores purificam o ar ao absorver CO₂ e liberar oxigênio, combatem as mudanças climáticas, ajudam a diminuir a temperatura ambiente, contribuem para a biodiversidade ao fornecerem abrigo, amenizam a poluição sonora e visual, e promovem o bem-estar físico e mental das pessoas ao criar conexão com o todo.
Sebastião e Lélia decidiram transformar uma fazenda degradada pelo desmatamento em floresta. Restauraram 600 hectares da Mata Atlântica. Onde havia chão árido e erosão, sem água, sem fauna, sem futuro, começou a brotar vida. Mais do que um projeto ambiental, o Instituto Terra é um gesto radical de amor. E nos prova que é possível inverter o curso. Devolver árvores ao planeta é devolver esperança. Com ciência, perseverança e mobilização comunitária, o Instituto mudou a vida de todos da região – e inspira quem está longe.
Como Mari. Ela conta que, nas vezes em que foi lá, entendeu que “mais do que reflorestar, o projeto regenera, educa, envolve comunidades vizinhas, dá autoestima e orgulho às famílias envolvidas, restaura lençóis freáticos, aumenta a biodiversidade e é referência mundial”.
Neste ensaio fotográfico, ela convenceu a equipe, moveu escadas e subiu árvores. Tirou a roupa. Sentiu-se bicho. Mariana e a natureza são algo único. Envolta pela vegetação renascida do Vale do Rio Doce, ela não está apenas em cena, está enraizada. Corpo, gesto, tempo e presença oferecidos à Terra. “A beleza mais urgente é aquela que nasce do cuidado”, diz. “É a natureza viva, revivida.”
No Instituto Terra, a arte virou ação. O fotógrafo, reconhecido mundialmente por séries como Trabalhadores, Êxodos e Gênesis, sempre usou sua lente para revelar a beleza e a dor do mundo. E agora encontra a continuidade de seu legado nas ações práticas para salvar o mundo.
Dormindo na casa de Lélia e Sebastião, entre histórias, memórias, amigos, silêncio, a paisagem e o vento, Mariana se reencontrou. E começou a produzir um documentário sobre a experiência, o olhar atento à dimensão humana da regeneração. “Cada árvore aqui carrega uma história”, conta ela. “Neste solo, há algo pulsando.” O documentário revelará ao público a dimensão humana e ambiental da iniciativa. Vai registrar as histórias dos jovens aprendizes e das famílias. “Cada muda plantada carrega uma história, uma esperança, uma escolha de futuro”, diz a atriz.
Sem personagem, Mari fala e vive a sustentabilidade com uma delicadeza firme. “Acredito na transformação que vem da consciência, da paciência, da ação com afeto. Sustentabilidade não é uma pauta: é sobrevivência.”
A capa da Bazaar é um gesto editorial que une moda, consciência, ativismo e simbiose. “É emocionante perceber que o legado de Sebastião e Lélia não está apenas nas árvores, mas na consciência plantada em cada pessoa da região. Isso é uma transformação real.”
Recentemente, o Brasil se despediu de Sebastião, que teve suas cinzas depositadas nas raízes de uma muda de peroba. Lélia, incansável guardiã do projeto, é uma potência. “Não podemos esquecer que foi Lélia quem deu a Sebastião a primeira câmera fotográfica, marcando o início de uma trajetória que o consagraria como um dos maiores fotógrafos do século”, conta Mariana.