Strauss

Foto: Divulgação/Strauss

Por Camila Garcia Russo

Desde que estive em Pomerode, no sul de Santa Catarina, há cerca de dois meses, o ato de degustar uma taça de vinho nunca mais foi o mesmo. A razão é simples: embora sempre tenha apreciado beber bons vinhos em belas taças, eu jamais havia parado para refletir sobre o que, afinal, existe por trás delas. Bastou cruzar o portão da Strauss para sentir que estava entrando em um universo à parte, imune às pressões da velocidade industrial. O calor do forno, o movimento preciso das mãos, o sopro na boca que dá forma ao vidro incandescente… tudo ali fala de um saber que não cabe em tutoriais digitais. São técnicas que atravessam gerações e pedem anos de repetição para atingir a excelência necessária. Cinco, no mínimo, até que um artesão se torne, de fato, um artesão capaz de dominar a arte do cristal feito à mão.

Enquanto caminhava pela fábrica, era impossível ignorar o silêncio e a concentração de todos os trabalhadores. A cadência era perfeita. Sessenta e cinco funcionários dão conta de produzir artesanalmente cerca de 1.400 peças por dia, entre taças, copos, fruteiras e saladeiras, entre outros.

Cada peça passa por diversas mãos. Cada milímetro exige atenção. Cada corte é definitivo. O cristal, mistura de areia puríssima e chumbo, é aquecido a mais de mil graus antes de ganhar contornos. O som do lapidador contra o material é quase hipnótico: uma coreografia entre tradição e precisão que poderia estar em manufaturas europeias como Saint-Louis e Baccarat. Aqui, porém, a herança é nossa, brasileira. Esse savoir faire pulsa na Strauss, em pleno Vale Europeu de Santa Catarina.

Strauss

Foto: Divulgação/Strauss

Fundada há mais de quatro décadas, a marca consolidou-se como a principal fabricante de cristal artesanal do país. Num mercado dominado por importações e processos automatizados, ela escolhe a contramão com propósito claro: produzir menos para produzir melhor. As taças overlay, por exemplo, exibem camadas de cor profundas — a Strauss tem nove cores próprias — e lapidações que capturam a luz de um jeito único.

Hoje, a produção mensal gira em torno de 25 mil peças, que não apenas abastecem o mercado nacional como chegam a destinos como França, Itália, Emirados Árabes, Estados Unidos, entre outros.

Saí de lá com a mesma impressão que tive ao entrar: o luxo verdadeiro não se impõe, ele se revela devagar. No caso da Strauss, no calor, no sopro e no gesto de quem sabe que certas coisas só nascem quando o tempo é respeitado.