
Detalhes da coleção Traces of Water do Design Lab HONOKA – Foto: Divulgação
Criar algo junto à natureza e refletir sobre o futuro. Na última semana de Semana de Design de Milão, Tokujin Yoshioka e o Design Lab HONOKA mostraram projetos que tomam a água como elemento central. De um lado, o mestre Yoshioka reflete sobre o tempo, a impermanência, a imaterialidade e a fluidez da água; do outro, o grupo de jovens designers se apropria dos rastros deixados pela água e propõe novas discussões sobre design circular.
Conhecido por transcender a forma para expressar a pureza elementar (e quase sagrada) da luz, Yoshioka já explorou a transparência como emissora de luz em criações que vão desde bancos minimalistas de vidro até estudos sobre a beleza estrutural orgânica de cristais. Em abril, ele deu um passo além e apresentou sete poltronas feitas de água extremamente pura. “Há algum tempo, eu queria criar uma cadeira de água. A água é fonte de vida. É muito familiar – mas também mística. Muda facilmente de estado, do sólido para o líquido e para o gasoso”, explica. Mas como criar forma a partir da fluidez? As cadeiras foram estruturadas naturalmente pela própria cristalização da água. A exposição Frozen explorou, portanto, a energia e as características construtivas e estéticas de um fenômeno natural. Pura, nítida e brilhantemente, cada cadeira pesava 850 kg e levou cerca de um mês para congelar a partir de uma técnica que garante uma supertransparência, projetada para maximizar a refração e a transmissão de luz.

Cadeira de gelo desenhada por Tokujin Yoshioka – Foto: Divulgação
A ideia de expressar a luz se concretiza também nas linhas das peças criadas a partir de quatro componentes conectados.“Projetei cantos curvos, criando um efeito de lente, de modo que o gelo refratasse a luz e projetasse radiância”, revela. O designer provoca, ainda, uma discussão sobre o tempo e a beleza do que é efêmero: cadeiras se transformaram, lenta e imprevisivelmente, acabando por desaparecer quando expostas ao vento, sol e chuva. A impermanência contínua e gradual do design ecoava, assim, os ritmos da natureza.
Paralelamente, os HONOKA apresentaram Trace of Water – um projeto que revela possibilidades de ressignificar garrafas de água retornáveis que atingiram o fim de sua vida útil. Exploram o potencial da própria água como material plástico, prático e poético e sugerem uma nova camada de complexidade para a economia circular. Por meio de experimentos, o grupo descobriu que o policarbonato das garrafas antigas, que estiveram em contato com água por longos períodos, retém uma quantidade significativa de umidade. Quando aquecida, essa umidade faz com que menos bolhas se formem dentro do material. Esse fenômeno resulta em texturas únicas que inspiraram os designers a criar peças que incorporam esses rastros da água impressos na resina.
Por isso, o grupo chamou a coleção de bancos, iluminação e vasos de “traços de água” e abraçou os tons, transparências e desenhos dos processos que incluem trituração, derretimento e pulverização da matéria. As propriedades de absorção de umidade maximizam, ainda, a rigidez e a durabilidade inerentes do policarbonato e, por isso, eles exploraram também potenciais aplicações na arquitetura. Como um laboratório focado em materiais sustentáveis, o HONOKA consegue unir tecnologia, artesanato e cultura para criar um design engajado – que incorpora pensamento estético, funcional e consciente – e em contínua evolução.