
The Hair Craft Project – Foto: Divulgação
O cabelo sempre carregou significados profundos dentro das comunidades negras, tendo sua identidade especialmente celebrada a partir dos anos 1960. Com o avanço dos movimentos de orgulho negro, os fios tornaram-se, também, símbolo de resistência. O ‘Black is Beautiful’ atravessou fronteiras e chegou ao Brasil, exaltando o estilo black power, impulsionando o afastamento de ideais eurocêntricos e celebrando a aparência de pessoas negras. Nos últimos anos, o movimento teve sua voz reforçada em debates sobre transição capilar e uma gama inédita de produtos para cabelos crespos e cacheados.
Esse diálogo entre estética e gesto político constrói um repertório amplamente explorado por artistas brasileiros. Priscila Rezende, por exemplo, transformou violências simbólicas em crítica na performance Bombril, de 2010. Durante cerca de uma hora, a artista esfregava objetos de metal no próprio cabelo, denunciando e apropriando-se de apelidos pejorativos que rodeiam as vivências de pessoas negras.
Outros artistas também entendem o próprio cabelo como uma celebração à ancestralidade. João Manoel Feliciano realiza performances que metaforizam pertencimento e controle, enquanto Helô Sanvoy reflete sobre herança e colonização através das tranças. Em Estão Sendo Tecidos, vídeo de 2018, a mãe de Sanvoy é registrada trançando o cabelo do artista enquanto conversa com ele e com sua esposa sobre memórias de infância. Paulo Nazareth, por sua vez, incorporou pentes afro na série Afro Comb.

Fotografia da série Afro Comb – Foto: Divulgação/Mendes Wood
Em escala global, vale citar o fotógrafo nigeriano J.D. ‘Okhai Ojeikere e sua série Hairstyles, iniciada em 1968, na qual registrou centenas de penteados nigerianos em preto e branco para ressaltar a importância cultural, simbólica e combater a fetichização acerca do cabelo de mulheres negras. A californiana Nakeya Brown também faz dos fios o eixo central de suas fotografias. Ela discute, em séries como Hair Stories Untold (2014) e The Refutation of ‘Good’ Hair (2012), a relação de mulheres afro-americanas com o próprio cabelo e a ligação que ele possui com autoestima, feminilidade e padrões de beleza.

Fotografia da série Hairstyles – Foto: J.D. ‘Okhai Ojeikere
Em The Hair Craft Project, a artista norte-americana Sonya Clark ofereceu seu próprio cabelo para cabeleireiros afro-americanos fazerem penteados e, paralelamente, os reproduzirem em telas bordadas. A ideia era aproximar os salões de beleza de espaços artísticos, reconhecendo o trabalho destes profissionais como um gesto completo.

