Foto: Reprodução/Instagram/@amoakoboafo

O sucesso internacional de alguns artistas vai muito além da notoriedade pessoal: eles estão bancando transformações em lugares onde o mercado de arte ainda é frágil, criando oportunidades onde normalmente seria quase impossível. Em cidades fora do eixo tradicional — como Lagos, Acra ou até mesmo Goiânia —, essa atuação faz uma diferença enorme, fortalecendo ecossistemas locais e permitindo que novos artistas tenham visibilidade e suporte. Nomes como Amoako Boafo, Dalton Paula e Yinka Shonibare, o reconhecimento global se tornou combustível para investir em residências, programas educativos e projetos que ampliam o alcance da arte, transformando comunidades e inspirando novas gerações.

Amoako Boafo usou do seu reconhecimento global combustível para transformar Acra em um polo artístico vibrante. Aos 38 anos, Boafo é considerado o artista mais bem-sucedido da história de Gana, com obras vendidas por milhões de dólares em leilões internacionais. Mas seu compromisso vai além do sucesso pessoal: ele investe na comunidade artística local, criando oportunidades para outros artistas e curadores no país.

Em 2022, Boafo inaugurou o dot.ateliers, uma residência artística de três andares projetada pelo premiado arquiteto Sir David Adjaye. O espaço abriga galeria, estúdios, café e biblioteca, e já recebeu nomes como Dzidefo Amegatsey, Clotilde Jiménez e Zandile Tshabalala. Boafo também lançou o G.A.S. Fellowship Award, em parceria com a Yinka Shonibare Foundation, premiando artistas e curadores mid-career de toda a África. Para Amanda Iheme, vencedora de 2024, a iniciativa foi transformadora: “A residência me ajudou a expandir minha carreira além da fotografia e a me ver como criadora de conhecimento”, diz.

Foto: Reprodução/Instagram/@yinkashonibarestudio

Enquanto Boafo investe no futuro da arte africana, Yinka Shonibare, artista britânico-nigeriano de renome internacional, tem dedicado seus recursos e experiência para fortalecer a cena artística em Lagos e em toda a África. Depois de uma visita a Lagos em 2011, Shonibare percebeu que a cidade possuía grande talento artístico, mas carecia de infraestrutura para fomentá-lo. Em 2019, ele fundou a Guest Artists Space (G.A.S.) Foundation, um centro dedicado à troca internacional de práticas artísticas.

A fundação possui duas unidades: a G.A.S. Lagos Residency, com acomodações, estúdios e salas de eventos, e a G.A.S. Farm House, em Ijebu, que combina pesquisa transdisciplinar em agronomia, sustentabilidade e arquitetura com atividades artísticas. Desde 2022, a fundação recebeu cerca de 100 artistas e curadores emergentes e estabelecidos, apoiando residências de até três meses. Shonibare também direciona parte das vendas de suas obras para manter a iniciativa, reafirmando seu compromisso em “devolver à sociedade” e fortalecer ecossistemas culturais.

A atuação de Shonibare vai além da infraestrutura: suas esculturas e instalações, como The African Library (2018), exploram a história africana e pós-colonial, homenageando figuras que moldaram o continente, como Kwame Nkrumah, Nelson Mandela e Patrice Lumumba. Gus Casely-Hayford, diretor do V&A East, afirma: “O que ele fez em relação à narrativa histórica é enormemente importante… seu corpo de trabalho é profundamente inspirador e catártico, ao mesmo tempo que possui uma beleza lírica incomparável”.

Dalton Paula – Foto: Divulgação

Enquanto isso, no Brasil, Dalton Paula transforma sua própria história e a memória afro-brasileira em arte. Inspirado por experiências de infância e pela ausência de representatividade, Dalton lidera o projeto Sertão Negro, resgatando histórias silenciadas e celebrando o protagonismo de corpos historicamente marginalizados. Selecionado para a Bienal de Veneza 2024, ele apresentou a série Retratos de Corpo Inteiro (2023-24), com 16 pinturas que retratam figuras históricas envolvidas em movimentos de resistência antiescravagista.

Dalton também integra coleções de instituições internacionais como o MoMA, a Pinacoteca de São Paulo e o MASP, e recentemente foi premiado pelo Chanel Next, que reconhece artistas internacionais que estão redefinindo suas áreas de atuação.

Boafo, Dalton Paula e Shonibare mostram que arte é mais do que criação individual: é transformação social, cultural e histórica. Esses artistas estão bancando essas transformações em lugares onde o mercado não é tão forte, dando acessibilidade para artistas que não estão no eixo artístico.  Entre residências, programas educativos e representatividade, eles constroem ecossistemas que fortalecem suas comunidades e redes de artistas, inspirando novas gerações a criar, contar suas histórias e investir em seus territórios.