Jogo de baralho Prada – Foto: Reprodução

Existe algo mais curioso do que o momento em que uma grife decide criar um objeto que ninguém pediu? Não é uma bolsa. Não é uma roupa. Não é nem mesmo um perfume. É um telefone fixo assinado por Pierre Cardin nos anos 70, em meio a ventiladores, TVs e panelas. Ou uma prancha de surfe da Chanel. Um baralho da Prada. Um fone de ouvido da Hermès. Esses objetos aparecem de tempos em tempos. Alguns como resultado de acordos de licenciamento. Outros como extensão da marca em coleções-cápsula. E há os que nascem da vontade pura de estar presente em tudo — até no que escapa do vestir.

Em 1972, a Gucci transformou um Cadillac Seville em objeto de desejo. O carro era todo revestido com o monograma da marca, da tapeçaria interna aos detalhes dourados do volante. Pouco depois, Pierre Cardin fez o mesmo: desenhou sua própria versão do mesmo modelo. O Brasil ainda não fugiu da moda, tendo Clodovil como criador de um modelo Monza por aqui no início dos anos 80. A moda e o automóvel disputando espaço sob o capô.

Décadas depois, o celular virou território de grife. Em 2007, a Prada lançou um modelo em parceria com a LG, com tela sensível ao toque e um estojo de couro minimalista. Poucos meses depois, a Dolce & Gabbana respondeu com uma versão dourada do Motorola Razr, que vinha com toque exclusivo e assinatura dos designers no estojo. Era mais sobre mostrar do que falar.

O tocador de discos da Saint Laurent é uma peça que se conecta a uma comunidade que, muito além da música, quer fazer parte do universo da marca. Assim como os skates da Louis Vuitton, o isqueiro da YSL, o baralho da Prada, os itens náuticos e de festa da Burberry…. No limite, esses objetos funcionam como lembretes de que o luxo não está apenas na matéria — mas no gesto e no pertencer. Comprar, colecionar, exibir. Transformar o cotidiano em território simbólico, onde até o último detalhe pode ser assinado.