Magê Casa

Foto: Vitor Jardim

Por Carol Scolforo

Ao abrir a porta do apartamento onde vivem Magê Abàtayguara-Örneberg e John Harald Örneberg o impacto é certo: a amplitude seguida da coleção de arte poderosa magnetiza. O encontro entre Suécia e Brasil se dá em detalhes preciosos. O sueco Harald, investidor na América do Sul, brinca ao apontar o espaço para deixar os sapatos: “Esta é a pram garage”, ri. Basta tirar os sapatos e sentir o carpete alto para encontrar a porção brasileira, calorosa. A sala de estar fica um degrau abaixo e sua atmosfera 1970’s está em perfeita harmonia com o edifício original dessa década, nos Jardins, em São Paulo. O teto, um resultado de muitos polimentos sobre o gesso pigmentado, provoca o efeito espelhado e as colunas de inox multiplicam a luz. É um primeiro ato.

As surpresas continuam. Os painéis de marcenaria que revestem as paredes da sala foram produzidos para acomodar obras importantes como as de Solange Pessoa, Adriano Costa, Lygia Pape e Judith Lauand. A arte protagoniza o espaço, e não o contrário, como em outras moradas. Artistas como Amilcar de Castro, Hélio Oiticica, Marcel Broodthaers e Mira Schendel completam a aura. “Minha fase adulta foi vivida entre eles. Convivo com essas obras como se estivesse falando com um, dando bom dia a outro”, diz Magê, sócia sênior da galeria Mendes Wood, onde atua desde os 18 anos. Já a relação de Harald com a arte vem da infância: cresceu admirando a coleção da família, algo que moldou sua pesquisa por obras da América Latina, especialmente dos anos 1940 até hoje. Ao desembarcar no Brasil, anos atrás, em uma de suas expedições como navegante do mundo todo, ele achou interessante o acolhimento brasileiro. Sabia que um dia iria querer fincar raízes e o fez quando começou a investir no país, em 2007.

Mas não foi naquela época, e sim anos depois, em 2020, que o casal se conheceu em um jantar de arte na Espanha, ambos confidenciando a exaustão diante das agendas repletas de voos a trabalho. “Estávamos cansados de viajar tanto”, ela conta. O assunto se desdobrou e a pandemia foi decisiva para a relação dar certo: sabe o último voo antes do fechamento das fronteiras? Foi assim que eles viveram as primeiras 36 horas do que se tornaria casamento. Desde então, a família, agora com dois filhos, vive entre Brasil e Suécia, até que seja possível. Para as crianças, significa incorporar diversões como rearranjar a decoração da sala no Natal, um ritual escandinavo.

Os interiores do apartamento, idealizados pelo amigo e arquiteto sueco Thomas Sandell em projeto adaptado pela brasileira Analu Pacheco, é o amálgama das duas culturas, bem diferentes. “Quis muito respeitar a visão que o arquiteto, que nos conhece bem, trazia”, explica Magê sobre as escolhas. Algumas decisões, impulsionadas pelo gosto de Harald e Sandell, a conquistaram com o tempo, ao sabor do Dry Martini com lemon twist que o marido faz no bar da sala. “Nosso lar precisava ter um ‘pé’ na Suécia para compor o imaginário dos nossos filhos”, diz.