Mapu

Foto: Gustavo Zylbersztajn

Por Patricia Beck

Depois de tantos anos imersos em um sistema que entrega tudo o tempo todo — os melhores serviços, a conveniência, o ritmo frenético das grandes cidades —, começamos a nos questionar: e o que esse “pacote completo” nos custa? Os barulhos constantes, a urgência dos dias, o medo de andar na rua, a dificuldade de acessar uma vida realmente saudável em meio ao concreto. A cidade nos dava muito, mas nos tirava mais.

Nosso primeiro passo foi mudar de um apartamento para uma casa com jardim, ainda em São Paulo. Um espaço que já trazia sinais do caminho que iríamos seguir, com árvores antigas no quintal e uma forma híbrida de viver. A casa era também estúdio, onde o Gustavo fotografava seus projetos e a vida começava a desacelerar, mesmo que timidamente.

Gustavo Zylbersztajn/Patricia Beck

Foto: Gustavo Zylbersztajn

Enquanto isso, na paralela, o sonho da Patagônia ganhava forma. Um projeto que começou como um “quem sabe um dia…” e foi se tornando real. Quando compramos o terreno em 2014, era apenas campo com vegetação nativa, vacas e ovelhas dos vizinhos andando soltas, porque nem cerca tinha. Mas já havia ali algo mais poderoso: uma vista de tirar o fôlego e uma intuição forte de que nasceria algo especial.

Começamos do zero. Já no ano seguinte, instalamos energia, organizamos a distribuição de água, colocamos cercas, construímos as cabanas — no total são quatro, além de um trailer, nossa casa, a casa dos colaboradores, um estúdio-ateliê do Gustavo e o Quincho, que é o restaurante e o coração do Mapu. Foram quase dez anos de obra com longos períodos construindo durante invernos rigorosos e dificuldades para o transporte de caminhão dos materiais, que demoravam um dia inteiro até aqui.

Mapu

Foto: Gustavo Zylbersztajn

Em 2018, já passávamos mais tempo na Patagônia do que em São Paulo. Nessa época, pegamos a estrada com as crianças e vivemos seis meses dentro de um trailer, rodando pela Patagônia chilena. Queríamos mergulhar fundo, entender de verdade a terra, as estações, as pessoas. No pouco espaço que tínhamos, aprendemos uma das maiores lições: quanto mais coisas acumulamos, menos tempo sobra para o que realmente importa. Mas foi durante a pandemia, em 2020, que entendemos que ali era nosso lugar de forma mais definitiva.

Escolhemos o nome Mapu porque ele vem do mapudungun, a língua ancestral do povo Mapuche, e significa “terra”. Para eles, a terra não é posse, é parte viva do que somos — e isso ecoa profundamente com tudo o que acreditamos. Aprendemos a respeitar o tempo, o clima, os imprevistos. Coisas que na cidade passam despercebidas. Aqui, tudo exige mais consciência e presença.

Mapu

Casa da família Zylbersztajn na Patagônia chilena – Foto: Gustavo Zylbersztajn

Desde que nossos filhos nasceram — Benjamin tem 7 anos e Cora, 4 —, me permiti pausar uma carreira de modelo de quase 20 anos para viver esse tempo com eles. Aceitei apenas os trabalhos que realmente tocavam meu coração. Aos poucos, comecei a compartilhar mais do nosso estilo de vida, da educação das crianças, do homeschooling, da relação com a natureza no meu perfil do Instagram (@patibeckz) e encontrei uma comunidade que busca, como a gente, esse caminho mais consciente. O Gustavo viaja para projetos fotográficos, exposições e trabalhos externos. Quando está no Mapu, ele conduz workshops de fotografia de natureza.

Aqui no Mapu nós recebemos grupos que vêm se reconectar com a natureza. Oferecemos vivências com a terra, trilhas e alimentação consciente. Muitos chegam em busca de inspiração e acabam levando aquele empurrãozinho que faltava para mudar de rumo também. O Mapu é isso: uma pausa, um respiro. Um espaço para lembrar do que realmente importa.