
Entrada de uma das dez cabanas do Origem Patacho Design Hotel – Foto: Divulgação
Por Eduardo Viveiros
Parte da Rota Ecológica dos Milagres de Alagoas, a Praia do Patacho vem se firmando como destino-chave para quem busca uma orla ainda paradisíaca, de piscinas naturais circundadas por coqueiros. O point de areia branca fica a 115 quilômetros da capital, Maceió, e tem visto o potencial turístico em pleno crescimento nos últimos anos, mesmo que no boca a boca dos insiders solares. É nesse rumor, às margens do oceano, que surge o Origem Patacho Design Hotel, pouso recém-inaugurado que adota a onda dos ambientes “adults only” e tem, na sua concepção, a ideia de um ambiente que fala baixo. São dez cabanas pé na areia, que abraçam o design e a artesania nacional para entregar outro tipo de luxo: a presença.

Foto de Victor Collor sobre painel de biriba, tapete Trapos e Fiapos, sofá Pillow para Saccaro su Misura, mesa lateral Lagoa e poltrona Beira Mar, ambas Pippi para DonaFlor Mobília – Foto: Divulgação
“A ideia é de um minimalismo quente, com espaço para o respiro. Quem explode em cor, ali, é o mar e o céu”, diz Juliana Pippi, arquiteta e designer catarinense que se envolveu com o projeto ainda no terreno, em 2021, e acabou assinando a direção criativa do hotel-butique. Para enraizar as ideias no território, convidou o arquiteto alagoano Rodrigo Fagá para pensar a construção. “Eu poderia assinar tudo sozinha, mas não teria sentido. Respeitar o lugar começa pela equipe”, defende. Na soma dos profissionais, o modernismo limpo de Fagá encontra o calor tátil dos materiais pesquisados por Pippi. O resultado é uma arquitetura que serve de moldura à natureza e é “cheia de silêncios”, como ela define, em que a opulência íntima está nos intervalos. Nada de cores quentes, suvenires empilhados ou uma caricatura solar para ser entregue aos turistas.

Espreguiçadeiras Praia Brava, Pippi para DonaFlor Mobília – Foto: Divulgação
Cada uma das amplas cabanas tem sua própria piscina climatizada. A cama centralizada vira ilha, promovendo circulação livre, enquanto a paisagem é protagonista, sem nada para competir com a visão do oceano. Café da manhã? Onde o hóspede quiser, a qualquer hora. Um gesto de liberdade que revela o perfil do público: adultos em busca de desaceleração e privacidade.
A matéria-prima que costura o visual é a biriba, madeira flexível e resistente que é típica do Nordeste e comumente usada em cercas. Aqui, ganha releitura ao revestir o olhar em fachadas e pátios, de maneira imponente — e gera estampas inspiradas em toalhas e bolsas. “Era sobre pegar esse material, que é tão regional, e deslocar para outra categoria”, diz. Ao entrar, a experiência segue a ideia sensorial, ainda que minimal, de texturas: em contraste com o concreto da estrutura, a madeira e a sensação aconchegante do barro e da argila — um repertório de tons que são, segundo Pippi, mais brasileiros que o verde e amarelo.

Na parede, peça Patacho, desenvolvida pela diretora criativa para o hotel, e jogo de cama da coleção Raízes, da Trapos e Fiapos – Foto: Divulgação
Mas talvez o aspecto mais singular do projeto seja o vínculo com o nosso feito à mão — não como suvenir, mas como valor. No longo processo de gestação, Pippi articulou mestres e artistas de Alagoas e outros polos produtivos do país para desenvolver itens exclusivos que esquentam o ambiente, como os banquinhos feitos na Ilha do Ferro, a tecelagem em algodão orgânico da EcoSimple e a presença de peças de Domingos Tótora e Adriana de Capela. Com a Trapo e Fiapos, do Piauí, vêm as colchas e um tapete monumental, criado com palha de taboa e algodão, que já ganhou o mundo. Foi apresentado no FuoriSalone, em Milão, antes mesmo do Origem abrir as portas — e premiado no Brasil, logo depois, na categoria de bioeconomia do Prêmio Design da Movelaria Nacional.

Em uma das cabanas, mesa desenvolvida pelo Mestre Nonô da Ilha do Ferro e cadeiras Jurerê da collab com DonaFlor Mobília – Foto: Divulgaçao
Essa curadoria evita duas armadilhas frequentes em hotéis que se apoiam no artesanato nacional: a fetichização folclórica e a decoração sem alma. No hotel, nada é para apenas estar ali. Cada peça tem história — e um motivo. Como o beijo da Mestra Irineia, escultura que é símbolo de Alagoas e adorna o restaurante. Na recepção, uma fotografia minimalista de Victor Collor funciona quase como manifesto: um único coqueiro retorcido pelo vento. “Foi a primeira imagem que apresentei no projeto. Não começamos pelos espaços, nem pela planta baixa, mas pelos mestres e artistas. Esse foi o conceito desde o início, o Nordeste contemporâneo que queríamos.”

