
Como Lucio Fontana e a impressão 3D ajudaram Pieter Mulier a reinventar o gesto de segurar uma bolsa. Foto: Reprodução
Entre tantos vestidos que flutuavam e botas que dançavam no último desfile da Alaïa, o olhar acabou parando onde ninguém esperava: nas mãos. Em vez das tradicionais clutchs retangulares, Pieter Mulier colocou pequenos ovos laqueados — em preto, branco e bordô — que pareciam mais arte do que acessório. O gesto de segurar virou parte da performance.
A história por trás desses objetos começa em 1967, com um corte na tela de Lucio Fontana. O artista italiano, com seu Concetto Spaziale, quis atravessar o plano e abrir espaço (literalmente) para o tempo e o movimento. Décadas depois, Alaïa transformou essa ideia em forma tridimensional: uma bolsa que nasce de um corte, não de um molde.
O processo é tão técnico quanto poético. Feita por impressão 3D com pó de nylon PA12, a peça é construída camada por camada, sem suporte, como se o ar desenhasse sua estrutura. Depois, recebe verniz, brilho e um toque manual que devolve o corpo à máquina. É design, mas também escultura, um cruzamento entre o laboratório e o ateliê.
Ao revisitarem Fontana, Mulier e sua equipe não citam a arte como referência estética, mas como gesto conceitual. Se Fontana queria libertar a pintura do quadro, Alaïa liberta a bolsa do acessório: o objeto deixa de carregar e passa a significar. É a síntese perfeita entre herança e invençãoo, o momento em que o luxo volta a ser, de fato, uma questão de forma.