
Regina Parra no desfile de Neriage, em 09 de agosto de 2025.- Foto: Gabriel Fusari
Quando Regina Parra recebeu o convite de Rafaella Caniello para colaborar com a Neriage nesta temporada, a reação foi imediata: surpresa e entusiasmo. “Colaborei com a Rafa em 2019, foi uma colaboração pequena, mas sempre acompanhei o que ela faz. Tenho profunda admiração por tudo que ela cria. Quando ela me chamou, fiquei super feliz e dei carta branca total. Não vi nenhuma peça, então é uma surpresa para mim também”, conta.
O processo começou muito antes do desfile, em conversas sobre inquietações, narrativas e a ideia de autobiografia — um tema que atravessa tanto a obra de Rafaella quanto a de Regina. A artista enviou um acervo de imagens e pinturas para a diretora criativa da Neriage, que encontrou nas pinceladas e formas de Regina um material sensível para traduzir em roupa. “Ela me contou que usou a curvatura de uma pincelada minha para desenhar uma manga. Achei uma das coisas mais sensíveis que já vi alguém fazer”, diz, destacando o cuidado com que a moda pode incorporar a arte sem apenas reproduzi-la.
Entre as afinidades das duas criadoras, o vermelho talvez seja o elo mais evidente. Na coleção, ele surge como narrativa; no trabalho de Regina, é uma presença contínua. “Já tentei sair dele, mas é como sair de si mesmo — não consigo. Ele apareceu e ficou. Gosto de pensar no vermelho como uma reação do corpo: quando a pele fica vermelha por febre, por amor, por vergonha. Algo que saiu do regular, que não é necessariamente ruim, mas intenso.”
Esse entendimento da cor como sensação física e emocional atravessa sua produção. Na pintura, nas instalações e nas colaborações, o vermelho funciona como um marcador de presença — um corpo reagindo, algo que não passa despercebido. E é justamente nessa intensidade que a artista encontra ressonância na moda: a possibilidade de criar experiências visuais e sensoriais que escapam do literal, deixando espaço para a interpretação de quem vê e veste.