Foto – Divulgação

A próxima edição acontece de 27 a 31 de agosto, em São Paulo. Para quem não conhece, a SP-Arte é um dos maiores eventos de arte da América Latina, realizado anualmente em São Paulo. A feira nasceu em 2005 e exerce um papel fundamental na profissionalização, no crescimento e na promoção do mercado artístico nacional, reunindo galerias de arte e estúdios de design.

Essa edição reúne 65 expositores — entre galerias, museus e projetos especiais — vindos de 12 estados brasileiros, além de representantes da Argentina e da Amazônia Peruana. Nesta edição, temas como erotismo, território e ambientalismo ganham destaque em diferentes suportes, que vão da pintura e escultura à cerâmica e às obras têxteis. Ampliando seu escopo curatorial, a feira reafirma sua vocação como espaço de descobertas, conexões e circulação da arte brasileira e latino-americana.

A SP-Arte é responsável pela realização das duas principais feiras de arte do Brasil: a SP-Arte, que acontece no primeiro semestre no Pavilhão da Bienal, e a Rotas, realizada no segundo semestre — e que agora acontece em agosto, o evento acontecerá na ARCA e nosso time da BAZAAR fez uma curadoria de galerias para ficar de olho!

Confira os destaques das galerias:

Obras Solange Pessoa – Foto: Divulgação

A Mendes Wood DM estreia na edição Rotas da SP-Arte com um projeto que reflete sobre a matéria como campo de inscrição do corpo, da memória e do território, reunindo obras de Maria Auxiliadora, Paloma Bosquê, Solange Pessoa e Mestre Geraldo Cabueta. Os artistas exploram materiais como pedra, barro, pigmentos, fibras e madeira para articular múltiplas temporalidades, entrelaçando processos geológicos, ancestrais e sociais. Enquanto Maria Auxiliadora traz cenas vibrantes da cultura afro-brasileira em suas pinturas coloridas e afetivas, Paloma Bosquê investiga a materialidade dos corpos em transformação, expandindo os limites da escultura, da pintura e do objeto.

Obra Marlene Almeida – Foto: Divulgação

A galeria Almeida & Dale apresenta nos estandes C01 e C04 uma seleção de obras que reflete a multiplicidade de vozes e linguagens da arte contemporânea brasileira, ao mesmo tempo em que promove o diálogo com artistas do século XX reconhecidos globalmente. As artistas de destaque são: Marina Woisky, Marlene Almeida e Rebeca Carapiá.

Obra Adriana Varejão – Foto: Divulgação

A Flexa apresenta um conjunto de obras que têm o erotismo como ponto de partida. Presente ao longo de toda a história da arte, o erotismo acompanhou movimentos culturais, quebras de tabus e revoluções de pensamento. É justamente esse caráter transformador que a mostra busca destacar. “Trazer o erotismo à baila, nesse contexto, é uma tentativa de reativar uma sensibilidade comprometida, uma convocação ao corpo e à presença, como forma de recordar o que há de vital nas experiências partilhadas”, explica Luisa Duarte curadora.

Retrato de Teresinha Soares, 1968. © Cortesia Gomide&Co e Atelier Teresinha Soares

A Gomide&Co apresenta pela primeira vez o diálogo entre mãe e filha: Teresinha Soares (1927–2021), cuja produção breve, mas impactante entre 1966 e 1976 desafiou tabus sexuais e redefiniu o lugar da mulher na arte brasileira, e Valeska Soares (1957), que iniciou carreira na arquitetura e construiu trajetória internacional em meios diversos como escultura, instalação e vídeo, com obras em instituições como Inhotim, Bienal de Veneza, Pinacoteca e museus nos EUA. Enquanto Teresinha foi reativada recentemente em coletivas e retrospectivas, Valeska segue ativa entre São Paulo e Nova Iorque, prestes a abrir nova individual na Fortes D’Aloia & Gabriel, revelando nesse encontro uma força transgeracional que atravessa arte, corpo e afetos.

 

Jalapão, 2023. © Loiro Cunha

Nessa edição, o projeto Jalapoeira Apurada reúne pela primeira vez 37 mulheres de comunidades quilombolas do Jalapão — Quilombo do Prata, Quilombo do Mumbuca e Mateiros — para afirmar o fazer do capim dourado, tradição transmitida desde Dona Miúda. Símbolo de resistência, identidade e sustento, o artesanato é a principal fonte de renda da região, ao lado da agricultura familiar e do turismo comunitário, mantendo viva a relação com o cerrado, bioma ameaçado que é berço das águas do Brasil. O nome do coletivo reflete tanto a origem no Jalapão quanto o cuidado apurado no trabalho manual que une ancestralidade, autoria e vida comunitária, em criações que entrelaçam o capim dourado ao buriti, mantendo vivas memórias, afetos e a força cultural das mulheres quilombolas.

Quadra_Carla Santana_série construir em si um lugar para ser_2023_Ceramica_Ph Estúdio em obra – Veridiana Mana – Foto: Divulgação

A Quadra apresenta um projeto colaborativo de Carla Santana e Gilson Plano, fruto de uma imersão no quadrilátero mineiro que uniu paisagens geológicas de relevância histórica, encontros com mestres locais e práticas de pesquisa artística. O conjunto de obras resulta em uma cartografia sensível da região, atualizando memórias e tensionando relações entre tempo geológico, tecnologias vernaculares e preservação de territórios. Enquanto Carla explora a terra como matéria narrativa em cerâmicas, esculturas e pinturas que evocam iconografias rupestres, Gilson investiga formas e ficções minerais em papéis de concreto, esculturas suspensas e peças que interrogam equilíbrio, encantamento e inacabamento.

Obra Thiago Martins de Melo – Foto: Divulgação

A Galeria Lima apresenta Tramando Histórias, a curadoria desafia artistas a incorporar o fazer manual — bordado, costura, tecelagem, crochê e colagem — como forma de ressignificar práticas historicamente ligadas ao universo doméstico e feminino. Entre eles, Thiago Martins de Melo expande sua pesquisa sobre memória, crítica social e espiritualidade ao incorporar essas técnicas como camadas simbólicas em sua pintura e instalação. O gesto manual, lento e repetitivo, torna-se metáfora de resistência e cuidado, um modo de tensionar fronteiras entre arte e artesanato, erudito e popular. Em suas obras, a materialidade do fio e do tecido não é ornamento, mas discurso: convoca o olhar a desacelerar e revela narrativas onde tradição e contemporaneidade se entrelaçam, evocando o tempo, o corpo e a potência criadora como território poético e político.

Obra Agi Straus – Foto: Divulgação

A Galeria MaPa apresenta obras de Agi Straus, Delba Marcolini e Sepp Baendereck — artistas que elaboraram visões singulares sobre território e pertencimento. No diálogo entre memórias pessoais e coletivas, Agi Straus revela em sua produção uma delicada relação entre corpo, espiritualidade e paisagem, atravessada pela experiência de deslocamento e pela busca de enraizamento no Brasil. Já Sepp Baendereck, vindo da antiga Iugoslávia, construiu uma poética marcada pelo rigor técnico e pelo olhar atento à natureza, em que matéria e espiritualidade se entrelaçam. Suas obras, ao lado das de Delba Marcolini, expandem o debate sobre modernização, território e ambiente, evidenciando a força simbólica da arte moderna brasileira em diálogo com o presente.