Empresárias Renata Afonso e Andrea Bisker

Foto: Ruy Teixeira

Por Gabriela Longman

Como reunir o mundo e a rotina de duas mulheres que, depois dos 50, decidiram costurar juntas uma nova história? A resposta se revela nos pisos, nas paredes, nas obras de arte, luminárias e nos inúmeros objetos que habitam a casa das empresárias Renata Afonso e Andrea Bisker. Há pouco mais de um ano, elas adquiriram uma residência projetada por Ruy Ohtake nos anos 1980, com a intenção de transformá-la em refúgio e ponto de encontro. Mas foram além: incorporaram o terreno vizinho para ampliar o jardim e garantir uma visita para o verde a partir de praticamente todos os cômodos.

Casa de Ruy Ohtake

Foto: Ruy Teixeira

Reformada anteriormente por Marcio Kogan e Felipe Hess, a casa manteve o espírito original do projeto: o concreto aparente em abundância, o pé-direito alto sobre a sala de jantar em contraste com o mezanino onde ficam os quartos, e a fluidez entre a sala de estar e o jardim. Para a terceira intervenção, o escolhido foi Rodrigo Ohtake, filho de Ruy, encarregado de atualizar a residência sem perder, literalmente, o DNA do projeto. “A gente não se conhecia. Fiquei muito lisonjeado por elas terem procurado nosso escritório. Temos feito isso com alguns projetos do meu pai”, conta Rodrigo. As novas proprietárias tinham demandas claras: a principal delas era intensificar os espaços de convivência e fazer da casa um locus ideal para reuniões, festas, jantares e churrascos promovidos pelas duas e também pelos dois filhos de Andrea, jovens na casa dos 20 anos.

Casa Ruy Ohtake

Foto: Ruy Teixeira

Renata não tinha filhos, mas chegou com móveis – da antiga fazenda da família e de uma casa mais recente que mantinha em Itu, cachorros, objetos, roupas. O closet das duas, por sinal, marca o contraste entre uma, que veste cores neutras e zero maquiagem, e a outra que ostenta estampas, cores e uma penteadeira onde se pintar. O encontro, afinal, nasce da diferença.

Casa Ruy Ohtake

Foto: Ruy Teixeira

É também do encontro de vidas e trajetórias distintas que se constrói a principal parede de arte da casa, atravessando a sala de ponta a ponta. Nela convivem obras do grafiteiro Speto — adquiridas, como lembra Renata, “quando o street art estava começando” — e uma fotografia de Sebastião Salgado do monte Roraima, presente dado a Andrea após ela escalar o pico na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana. “Cada obra conta uma história”, dizem as duas, quase em coro. O afeto se espalha em frases estampadas em quadros, luminosos e bordados distribuídos pelos ambientes, enquanto a fé se revela logo na entrada, em um altar ecumênico cuidadosamente posicionado.

Casa Ruy Ohtake

Foto: Ruy Teixeira

Para receber as novas moradoras, a casa foi adaptada com uma lareira embutida na sala, desenhada por Rodrigo em pleno diálogo com a mesa baixa. “Fizemos um desenho orgânico procurando preservar o máximo da essência. Se a gente não contar, parece que sempre esteve lá”, diverte-se o arquiteto. A residência também incorporou uma academia e uma churrasqueira, pensadas para contemplar duas paixões de Renata. Por fim, foram criados dois escritórios com estilos bem distintos — o de Renata, mais invernal e acolhedor, e o de Andrea, mais solar.

“Construímos a academia e o escritório da Andrea sobre a marquise, usando uma estrutura metálica que praticamente desaparece para quem observa de fora. A casa foi ampliada e, de presente, ainda ganhou um terraço integrado à piscina”, comemora Rodrigo. Com palmeiras, patas-de-elefante, folhagens exuberantes e um lago onde nadam carpas de todas as cores, o jardim testemunha um convívio diário em divina construção.