Com tantas novidades no universo digital, fica difícil para os pais acompanharem os aplicativos que “fisgam” crianças e adolescentes. O app mais controverso da temporada é o Discord, que surgiu como um canal de conversa para videogames, com interface simples e intuitiva, cuja ideia era que os usuários também se confrontassem por voz ou por texto enquanto interagiam online. Não é à toa que a plataforma foi batizada com o nome de “Discord”, que, em português, significa “Discórdia”.

Criança não pode navegar sozinha pela internet/ Freepik

O principal motivo para o Discord apresentar riscos que preocupam os pais é a falta de verificação oficial de idade durante o processo de cadastro. Isso permite que crianças com menos de 13 anos acessem o aplicativo, expondo-se a conteúdos inadequados e perigosos. O ambiente digital opera de forma diferente de seus concorrentes, dispensando, por exemplo, a autorização em tempo real para participar de espaços sem mediação. “Teoricamente, tanto esse como os demais meios virtuais não são perigosos, já que buscam obedecer às leis dos países que operam pela web. Porém, no caso do Discord, o desrespeito está na permissão do uso a partir dos 13 anos de idade, o que fere o Estatuto da Criança e do Adolescente do Brasil [ECA]”, explica Rodrigo Cardoso Silva, professor da Faculdade de Computação e Informática, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Dessa maneira, o ambiente torna-se instável ao trazer a possibilidade de envolvimento em conversas relacionadas a conteúdos adultos e a exposição precoce ao vício. Outro contratempo significativo é o bullying virtual, já que a interlocução entre crianças pode tornar-se uma troca de insultos, brigas e desentendimentos. A liberdade para trafegar pelos servidores do aplicativo também é um problema, pois elas têm acesso a linguagem explícita e ofensiva sem restrições. Não há opções de bloquear a entrada de usuários em determinados fóruns, o que expõe as crianças a todos os tópicos de discussão disponíveis, mesmo os inadequados para a sua faixa etária. Para ilustrar, palavras obscenas acompanhadas de imagens pornográficas podem ser encontradas em apenas 15 minutos de navegação pelo app.

Por isso, é missão dos pais e dos tutores não permitir a utilização do Discord sem acompanhamento. “São os pais os responsáveis pela educação e pela integridade dos filhos. Não se sabe quem é a pessoa que está do outro lado, seja adulto ou adolescente, não se sabe qual é a intenção, boa ou má. É preciso ter orientações objetivas ao apresentar o universo online para as crianças. E, além de tudo, explicar que a Internet não é o perigo, mas, sim, as pessoas. Igualzinho acontece na vida real”, finaliza Rodrigo.