Projetar ambientes infantis para crianças com necessidades especiais é tarefa que requer sensibilidade, conhecimento técnico e a busca por soluções inclusivas que tragam segurança, autonomia e bem-estar. Isso porque, cada detalhe, desde a escolha dos móveis até a disposição do layout, pode fazer a diferença na vida dos pequenos, proporcionando um ambiente agradável, estimulante e funcional. “A criança precisa e pode ter uma vida autônoma, com exercício máximo das suas potencialidades. Para tanto, ela deve ser estimulada e contar com áreas adequadas para o desenvolvimento das suas atividades”, revela a arquiteta Patricia Bigonha, da Lipê Design Infantil.

O primeiro passo é entender quais são as necessidades de adaptação e como é a rotina da criança e da família. “A partir dessas informações, e antes de pensar em desenhar, é importante conhecer as normas de acessibilidade e de ergonomia para conseguir um resultado inclusivo e que funcione no dia a dia.” No caso de mobilidade reduzida, a profissional avisa que não existem normas técnicas que estabelecem as diretrizes relativas ao tema e, por isso, ela usa como referência o dimensionamento antropométrico da criança sentada. Além disso, é preciso considerar as áreas de transferência e de aproximação, bem como os alcances manual e visual e o uso correto dos itens. “Para ter passagem livre é fundamental existir pelo menos 90cm de largura entre a cama e os móveis ou a parede. Também é preciso estar atento às áreas de manobras para acesso ao banheiro, armários e cama. Nesse caso, considero o diâmetro mínimo de 1,50m”, diz.

Também é obrigatório considerar as especificações de altura e de distância das prateleiras e do mobiliário a fim de saber o alcance máximo confortável para a criança ter autonomia. Para definição de mesas de estudos deve-se levar em conta a altura mínima livre para o encaixe da cadeira de rodas e a abertura disponível entre a coxa e a parte inferior da escrivaninha. “Também penso nas portas armários com puxadores adequados, disposição dos interruptores, das tomadas e das maçanetas.” 

Embora seja uma demanda recorrente no mercado, além das opções feitas sob medida para o projeto, é comum encontrar mobiliários inclusivos apenas para ambiente escolar e peças destinadas a uso em metodologias pedagógicas, tipo Montessoriana. “A maioria das vezes, os itens não são adaptáveis à realidade da criança nem à estética residencial! Fica a dica para fabricantes de móveis”, finaliza.

Quarto com dimensões repensadas para acessibilidade/ Divulgação

Quais são as medidas a serem consideradas?

  • Puxadores: Devem ser instalados em uma altura entre 80cm e 1,10m do piso acabado;
  • Cama: Um modelo muito alto pode dificultar a transferência, o ideal é seguir a mesma altura do assento da cadeira de rodas;
  • Escrivaninha: As bancadas devem ser fixadas na parede com o vão livre (do piso à superfície inferior da bancada) de 62cm. Sua altura deve ser de 64cm a 74cm, dependendo da idade e do tamanho da criança;
  • Porta-objetos: Fixos à uma altura de 80cm a 1,10m, com profundidade máxima de 25cm;
  • Armários: A altura de utilização do armário é de 40cm a 1,10m do chão. A abertura das portas não deve atrapalhar na circulação e a profundidade de gavetas, prateleiras e cabides precisam atender os alcances manuais e visuais. É recomendável cabides de acionamento pneumático.
  • Segurança: Além das medidas, que são específicas para adaptar a realidade, também existem outros pontos a serem considerados. “Optar por móveis com quinas arredondadas, evitar instalar peças que possam interferir na transferência ou onde há barras de apoio, dar preferência a estofados e colchões com densidade mais firme para facilitar a criança levantar-se”.