Por Patricia Favalle
Na infância, uma das brincadeiras mais divertidas é jogar tinta em uma folha de papel e dobrá-la ao meio para adivinhar com o que a mancha se parece. Inspirado nessa atividade conhecida como Klecksografia, em 1911 o psiquiatra suíço Hermann Rorschach iniciou uma pesquisa por meio da interpretação das manchas de tinta. Esse estudo originou a criação de um dos testes mais contundentes de todos os tempos: a Prova de Rorschach. “Sua realização revelou-se muito eficaz quando aplicada como um dos instrumentos utilizados na avaliação psicológica, pois é rápida, precisa e fidedigna. Grande parte da estrutura da personalidade é formada até os 21 anos. Depois disso, ela se altera pouco, embora a sua dinâmica se transforme continuamente. Por essa razão, o diagnóstico precoce favorece a descoberta de dificuldades antes delas se estabelecerem ou interferirem em outras áreas do desenvolvimento”, diz a psicóloga, psicanalista e rorschachista, Christiane Sauer, que estudou na Universidade de Yale, nos Estados Unidos.
É importante frisar que não existem respostas certas ou erradas. Como se trata de um teste projetivo, as pessoas são estimuladas a manifestar conteúdos de seu mundo interno, sem haver julgamento dos mesmos. A prova pode ser aplicada em qualquer pessoa desde a infância, independentemente do grau de escolaridade, nível cultural ou socioeconômico.
O profissional tem como função mostrar as imagens em uma sequência determinada e estimular o paciente a dizer o que vê, a fim de ponderar sobre as quatro esferas que com- põem a personalidade: intelectual, afetiva, emocional e conativa. Há ainda duas escalas que pontuam sinais psicógenos e lesionais, além de índices como impulsividade, afetividade, entre outros. “A integração de todos esses aspectos permite observar o funcionamento da personalidade, discriminar as potencialidades e dificuldades específicas, assim como verificar as possibilidades de compensação.”
Para os experts no assunto, crianças que apresentam transtornos alimentares, de sono, linguagem, sexuais, ansiedade, psicomotores, agressivos, fóbicos, de ciúmes, obsessões e compulsões, problemas de relacionamento social, timidez exagerada, agitação excessiva, mentiras, furtos, problemas de aprendizagem e dificuldades em lidar com limites e frustrações devem passar por uma avaliação psicológica. “Na infância, são feitas entrevistas de anamnese com os pais, observações lúdicas, visitas à escola e testes que podem incluir os de personalidade, inteligência e neuropsicológicos. Os sintomas de alguns transtornos são bastante semelhantes, nesse sentido, as informações obtidas no Rorschach permitem uma análise mais completa”, afirma Christiane.
“Alguns anos atrás, atendi um menino que apresentava problemas de aprendizagem, de relacionamento social, baixa autoestima, além de elevados níveis de agressividade e de impulsividade. Ele já havia recebido diversos diagnósticos e tratamentos com resultados pouco satisfatórios. Através de sua avaliação psicológica, pude compreender que, apesar de muito inteligente, ele tinha dificuldades emocionais que interferiam em sua capacidade de concentração, o que fazia com que ficasse cada vez mais ansioso, pois, apesar de estudar bastante, não conseguia bons resultados. Isso passou a fazê-lo duvidar de sua capacidade, prejudicando a autoestima e tornando-o agressivo com os colegas. Foi indicado que fizesse psicoterapia e no processo terapêutico, tratamos os aspectos emocionais e o elevado índice de impulsividade. No decorrer do processo, ele melhorou o seu rendimento escolar e diminuiu sensivelmente os níveis de agressividade.”
Por fim, a psicóloga Christiane Sauer, que tem 26 anos de experiência na área, orienta: “Muitas vezes os pais desconhe- cem a importância dos sinais de que algo não vai bem com os filhos e não têm informação sobre todos os recursos dis- poníveis para lidar com o problema. Assim, recomendo que se aconselhem com um psicólogo sempre que tiverem dúvidas a respeito das questões emocionais”.