
Ara Vartanian na escada de concreto de sua casa, inspirada na do hotel Claridge’s, de Londres – Foto: Romulo Fialdini, com styling de Larissa Romano
Por Matheus Evangelista
“Eu sempre tive muito prazer em montar, procurar objetos que me interessam, que já possuem uma história, tanto de design quanto de alguma época”, é assim que o designer de joias Ara Vartanian começa descrevendo sua morada repleta de achados e perdidos mundo afora. Minuciosamente pensada para ser o refúgio urbano dele e da mulher, a modelo Sabrina Gasparin e os três filhos do casal, o espaço é um recorte e cola de tempos, desejos e vontades dos dois.

Detalhes do disco e do livro sobre música, que fazem parte da coleção de Ara Vartanian – Foto: Romulo Fialdini, com styling de Larissa Romano
“Quando estávamos fazendo a casa, eu já acumulava mobiliários, objetos e foi muito fácil fazer o interior quando ela finalmente ficou pronta”, explica Ara, que desenvolveu o projeto ao lado do Estúdio Tupi, do amigo Aldo Urbinati, responsável também pelo ateliê do joalheiro e de todas as lojas, inclusive a de Miami, recém-inaugurada no badalado Bal Harbour Shops.

Ara com joias feitas por ele e de seu acervo pessoal – Foto: Romulo Fialdini, com styling de Larissa Romano
Minucioso e atento aos detalhes do viver e morar, Ara e Ado, por exemplo, voaram até Londres por um único motivo: ver de perto a escada do hotel Claridge’s. “A mulher sobe de vestido sem se cansar, você a vê andando e ela parece flutuar”, explica Ara.
Além de ver de perto, subir e descer, a escada foi medida para que esse conforto fosse empregado na residência. Toda feita de concreto, a casa de 1.500 m² é aconchegante e todos os seus cantos foram pensados para ser preenchidos por pessoas – seja em uma conversa em pé em uma das salas, ou um momento contemplativo e até mesmo em uma festa.

A sala de entretenimento no subsolo da casa, com bar e mesa de bilhar, onde a família se reúne para se divertir e receber amigos; ao fundo, a tapeçaria de Jean Gillon – Foto: Romulo Fialdini, com styling de Larissa Romano
Completamente integrada, a residência se descortina conforme você adentra e encontra uma mistura improvável de estilos, porém, o garimpo entre o velho e o novo é elegante, minuciosos detalhes saltam aos olhos. Texturas, cores e luz das mais diferentes intensidades preenchem os cômodos, trazendo conforto e um sentimento de relax quase que imediato. “Você chega pelo hall de entrada com uma porta que se abre e, de repente, está na sala da lareira e vai descobrindo as novas salas até chegar no subsolo, que é uma explosão de entretenimento”, conta um Ara entusiasmado.
O subsolo em questão é o espaço multiuso que possui elevador para carros e serve como um lugar da família para receber amigos, e também para atividades do dia a dia. “Ali acontece de tudo. Desde as festas das minhas filhas, até aulas de dança. É um espaço que todo mundo usa e consegue ter privacidade, uma releitura de uma garagem, marcenaria, mecânica, sem comprometer a parte íntima da casa.”

Vista geral da garagem que serve como espaço de entretenimento – Foto: Romulo Fialdini, com styling de Larissa Romano
Por lá, espere encontrar um pouco de tudo: dos carros e motos, duas das paixões de Ara, até uma mesa de sinuca, um sofá Chesterfield de quatro metros, a impressionante tapeçaria de Jean Gillon, que tem cinco metros de comprimento e, claro, um bar – resgatado de um amigo que o jogaria fora, e levado até o subsolo de carreto. Por ali serve de ponto de encontro entre um get together e outro: mais uma prova que tudo pode ganhar uma segunda chance.
A casa flerta com o minimalismo, algo exposto na estrutura de concreto, nada mais. Referências e viagens deram o tom ao projetar a estrutura. “Gostamos muito do Japão, já fui cinco vezes, e em Kyoto, por exemplo, quando se está ao redor de uma casa, templo ou um estúdio, você está dentro e está fora. A luz que entra é impressionante, é diferente e isso está nas nossas referências. Quando você entra e circula, você consegue sentir isso”, conta o designer.
Um dos grandes atrativos da casa, se não ela por completo, é o painel com papel de parede da grife inglesa De Gournay que recebe suaves raios de sol conforme o dia se descortina do lado de fora. O chão de pedra, os painéis de madeira que circundam as paredes da área social e a elegante escolha do mobiliário são um caso à parte: sofás Mole, de Sergio Rodrigues, e poltronas Jangada, de Jean Gillon, oferecem conforto no living; já a sala de jantar – o espaço favorito da casa segundo o anfitrião, tem vibe art déco e parede de espelhos. A cozinha é prática – e com história, afinal, o biombo japonês que pertencia à avó de Ara não passa despercebido nem se quiser.
A piscina é um caso à parte: natural, com peixes, cascata e plantas, se infiltrando no jardim com cara de floresta que nos transporta para fora da cidade de São Paulo quase em um piscar de olhos. “A casa parece que está aqui há muitos anos”, entrega Ara, que diz ter um ‘bando de coisas’, e que, claramente, sabe muito bem onde encaixar cada uma delas. Touché!