Foto: Divulgação

Por Carol Scolforo

Na vida de Dado Castello Branco, o que não falta é movimento. Não é que ele seja agitado – aliás, sua voz tranquila revela ritmo equilibrado. Fato é que tudo ao redor é fluxo contínuo. “Amo trabalhar. Quando não trabalho muito, é estranho, me estresso”, ri. Por um lado, estamos diante de um dos maiores arquitetos do Brasil que acaba de completar 30 anos de carreira. Lançou recentemente seu livro na Europa pela editora Rizzoli e vê seus projetos ganharem contornos nos Estados Unidos e em Portugal, entre outros países. De outro, um homem que troca tudo pela paz de cozinhar para os cinco filhos e a mulher, Carolina, com quem é casado há 33 anos. Não à toa, sua casa em São Paulo “tem cara de férias”, nas palavras dele. Prestes a entrar nos 60 anos, anda animado com a marca que projetou e ciente de que tudo isso exige dinamismo.

Ao entrar na residência, vem a fluidez: a luz natural atravessa o jardim até os interiores pensados por ele, a família grande, os quatro cachorros, a música que vem da voz do terceiro filho, Francisco, cantor. Na arquitetura de Dado, o despojamento é resultado de três décadas de observação. Há sintonia e parece que tudo sempre foi assim.

Foto: Danilo Vieira

No entanto, a carreira começou com uma mesa improvisada na garagem de casa, em 1994. Recém-formado pela Belas Artes e casado, passou um ano e meio na França estudando computação aplicada à arquitetura – uma formação que não seguiria, mas que moldou sua visão. “Sabia que não queria fazer prédio”, conta. Ao voltar, se descobriu nos interiores. Vieram os primeiros convites, quase sempre para projetos residenciais e family offices. Deu certo.

A virada se deu anos depois, em um momento de hesitação: um convite para assinar um loft na Casa Cor, no antigo Hospital Matarazzo. “Em um primeiro momento, não topei. Depois, fiz. Foi um estouro”, fala, sobre o espaço generoso, no mesmo andar de Sig Bergamin. A repercussão foi tamanha que, dois anos mais tarde, ele voltou à mostra com uma casa de golfe construída do zero, de olho nos condomínios do interior de São Paulo. Acertou o tempo, o público e o desejo. “Recebia ligações perguntando se dava pra transportar a casa.” O nome circulava. E, mais que isso, seu desenho era reconhecido.

Foto: Divulgação

A linguagem do arquiteto parte de quatro fundamentos, agora reunidos no livro que lança: horizonte, luz natural, conforto e arte. “Sempre foi assim. Gosto de chegar a um terreno e ver longe. Deixar o verde e a luz entrarem. E de criar espaços que abracem, não que imponham.” A cor, que por muito tempo ficou restrita às obras de arte e a acessórios, hoje também aparece com mais intensidade nos ambientes. “Comecei pelos espaços de passagem e fui exercitando com mais segurança.”

Mesmo com uma equipe de 40 pessoas e projetos importantes pelo mundo, Dado faz questão de começar todos os projetos em sua mesa. Quem assume o processo a partir dali é Guilherme, seu filho mais velho que se tornou arquiteto e hoje coordena as equipes. “Quando ele disse que ia fazer arquitetura, foi um susto. Mas foi legal demais, tem sido incrível”, conta Dado, que é pai também de Valentina e dos gêmeos João e Sofia.

“Meu pai sempre foi uma grande inspiração pra mim. Acompanhei de perto a carreira dele, nas obras, nas montagens de mostras e nos desenhos de mobiliário. Até nas viagens em família, nossos programas envolviam arquitetura, conhecer a cidade por meio dos seus espaços. Tudo isso me influenciou e despertou meu interesse”, conta Guilherme. Não é fácil, claro. “Existe uma pressão por ser filho do Dado, mas é um desafio interessante para nós dois. Acredito que fomos nos complementando ao longo do tempo: eu trago ideias novas, ele compartilha toda a experiência, e essa troca é muito rica”, diz o primogênito, que abriu o braço de design no grupo, a Jequitibá.

Foto: Divulgação

O cotidiano de Dado, mesmo com escalas internacionais, ainda gira em torno da casa: a mesma em que mora há treze anos, com jardim assinado por Gilberto Elkis, janelas voltadas para o verde e uma cozinha que se abre para a sala de jantar. Ali, ele cozinha, recebe, troca os quadros, mexe nas flores frescas (sempre tem), nos tecidos. “Sou exigente com a casa, mas não doentio”, diz. Esse lar vivido, leve e aberto é uma extensão direta de um modo de pensar. “Naquela Casacor que foi sucesso, pessoas me telefonaram dizendo que haviam economizado para fazer uma casa comigo”, lembra, com certa surpresa. “É uma responsabilidade.”

A arquitetura, para ele, é antes de tudo uma leitura sensível. Dentro de cada projeto o maior desafio, diz, não é traçar as linhas, mas entender as pessoas. “Precisamos interpretar um modo de vida, e isso não é pouca coisa. Acertamos bastante, ainda bem”, ri. Já teve quem o procurasse apenas para desenhar uma ideia pronta – assim também não funciona. É o equilíbrio entre a visão do arquiteto e o reflexo autêntico dos moradores que honestamente lhe interessa. Nessa equação ele se sente curioso, em movimento até quando puder. A inquietude, por ora, parece levar Eduardo longe, no clima despojado e aconchegante que permeia tudo o que faz.