Mark Webber com seu Cosmograph Daytona, no clima das pistas e do endurance (Foto: Divulgação)

Mark Webber esteve em São Paulo recentemente para participar da Rolex 6 Horas de Interlagos, etapa do Mundial de Endurance que, desde seu retorno ao calendário em 2023, reúne alguns dos melhores pilotos e equipes do mundo no tradicional circuito paulistano. Desta vez, o australiano não foi para o grid, mas para a linha de chegada: foi o responsável por agitar a bandeira quadriculada, encerrando a prova. O WEC exige preparo físico, consistência e estratégia para enfrentar longas horas de pista com alternância de pilotos e condições extremas — um cenário que ele conhece bem. “Interlagos tem uma energia única. É o mesmo traçado que eu assistia pela TV quando via o [Ayrton] Senna correr, e continua desafiador, autêntico”, afirma à Bazaar Man.

Aos 48 anos, o australiano de Queanbeyan soma passagens por Minardi, Williams e Red Bull na Fórmula 1, onde venceu nove Grandes Prêmios, além do título do Mundial de Endurance de 2015 com a Porsche. Correu ao lado de lendas como Sebastian Vettel e Fernando Alonso, foi presença constante nos pódios e marcou seu nome como um dos pilotos mais consistentes da era moderna. Fora das pistas, vive em Mônaco, atua como mentor de jovens talentos — como o compatriota Oscar Piastri —, comenta corridas para a TV e representa marcas globais com a mesma disciplina que o levou ao topo. “Sempre acreditei que preparação é tudo. Fiz mais de 1.200 dias de trabalho em pista e faltei só três. É assim que você constrói uma carreira longa”, conta.

Entre memórias de velocidade, disciplina e peças que marcam momentos no pulso, ele revisita, no bate-papo a seguir, a ligação com o Brasil, a evolução tecnológica no automobilismo e lições que vão além da pista:

André Aloi (AA): Os brasileiros são conhecidos pela paixão pelo automobilismo. Correr aqui é especial? E você tem algum ritual antes de entrar no carro?

Mark Webber (MW): Minhas primeiras lembranças de Interlagos são de criança, na Austrália, assistindo Ayrton Senna na TV. Era uma religião. Anos depois, estar no mesmo traçado foi especial. O circuito mantém a essência, e isso contagia os pilotos. São Paulo tem histórias marcantes, de vitórias a acidentes, que moldaram a relação dos brasileiros com o esporte. Quanto a rituais, sempre entrei no carro pelo lado esquerdo — hábito que veio do kart, para não encostar no motor quente — e mantive até o fim da carreira. A equipe já preparava os cintos desse lado.

O australiano soma passagens por Minardi, Williams e Red Bull na Fórmula 1, onde venceu nove Grandes Prêmios, além do título do Mundial de Endurance de 2015 com a Porsche (Foto: Arquivo/Getty)

AA: Você competiu em várias categorias ao longo da carreira, incluindo a Fórmula 1. O que mais ajuda hoje nas corridas de endurance, especialmente em Interlagos?
MW:
Tive a sorte de pilotar em três categorias diferentes. Em 2000, corri na Fórmula 3000, categoria de apoio da F1 na época — faz 25 anos, acredite. Era um carro potente, simples e direto, com câmbio manual e três pedais: embreagem, freio e acelerador. Totalmente tradicional, da velha escola. Depois, na Fórmula 1, tudo era muito mais avançado e rápido. E quando voltei com o híbrido da Porsche, foi outra história: a tecnologia mais impressionante que já pilotei lá. Em Interlagos, por conta da altitude, os motores perdem potência, mas a bateria não — o que fazia o sistema híbrido se destacar.

AA: E qual foi a velocidade máxima que já atingiu por aqui? No fim de semana passado, chegamos a 250 km/h em Interlagos.
MW:
A reta principal não é tão longa, mas da Curva do Lago até o topo é pé cravado. A gente chega perto dos 300 km/h. Legal vocês terem feito a volta rápida, é um bom gostinho do que vivemos. Agora imagine isso por duas, três horas seguidas… e, no endurance, ainda tem equipes que optam por apenas dois pilotos. Interlagos é fisicamente exigente: não dá muito descanso, especialmente para o pescoço e a lombar. A pista tem personalidade, com curvas diferentes, formato de tigela, possibilidade de chuva e o anfiteatro de torcedores no último setor — um cenário incrível para o WEC.

AA: A Rolex tem uma longa tradição no automobilismo. Como você vê essa parceria? E competir na Fórmula E ainda é algo que falta na sua carreira?
MW:
A Rolex está no esporte desde os anos 1960, especialmente em Le Mans. É sinônimo de precisão, confiabilidade e excelência — valores que combinam com automobilismo. Não sinto falta da Fórmula E. Tive sorte de viver a era híbrida no WEC, entre 2014 e 2016, com um carro de 800 volts e 8 megajoules de energia. Muitos achavam impossível unir velocidade e confiabilidade nesse nível. Hoje, essa tecnologia já chegou aos carros de rua, como aconteceu antes com os freios ABS.

AA: Com o passar do tempo, os atletas mudam física e mentalmente. O que mudou para você e como recarrega as energias?
MW:
A maior experiência que um atleta carrega é a que só entende na aposentadoria. Sempre priorizei estar no peso certo, com preparo físico impecável, para nunca decepcionar a equipe. Foram cerca de 1.200 dias em um carro de corrida, e faltei apenas três. O piloto precisa entrar na garagem com postura e energia, porque isso contagia 50 pessoas. É fácil ser mediano; o desafio é manter excelência por 15 ou 20 anos. Claro que houve momentos difíceis — acidentes, pressão familiar —, mas paixão e entusiasmo sustentam a carreira. Hoje peso quase 10 quilos a mais, adoro chocolate e vinho tinto, e levo a vida de forma menos intensa, mas com a consciência que ganhei em todos esses anos de pista.

(Foto: Arquivo/Getty)


PORTA-RELÓGIOS

“Relógios são meu único elo com moda”, resume. Embaixador da Rolex, Webber mantém uma coleção enxuta, mas carregada de significado: cada peça ligada a uma conquista ou momento-chave. O Cosmograph Daytona é seu companheiro mais frequente: caixa em aço Oystersteel resistente à corrosão, movimento cronógrafo 4130 e reserva de marcha de 72 horas, perfeito para medir voltas e pit stops. O Daytona ‘Le Mans’ Edition, recebido após competir na lendária prova francesa, é um tributo ao centenário da corrida, com caixa em ouro branco 18 quilates, luneta Cerachrom em cerâmica preta e o número 100 em vermelho na escala taquimétrica.

Já o GMT-Master II, adquirido quatro dias depois de sua primeira vitória na F1, combina mostrador preto, função de segundo fuso horário e pulseira Oystersteel — ideal para quem passa mais tempo entre voos e paddocks do que em casa. Completa o conjunto um Oyster Perpetual Explorer II, presenteado pela marca após seu título no WEC, com ponteiro laranja de 24 horas e robustez pensada para condições extremas, símbolo de que, para Webber, precisão e resistência caminham lado a lado.