Jesuíta Barbosa encarna elegância contida

Jesuíta Barbosa usa pullover cropped Victor Belchior – Foto: Josefina Bietti, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Renata Correa, beleza por Cris Biato com produtos Dior Beauty, set design Yuri Godoy, sireção de arte Yasmin Klein, retoque Philipe Mortosa, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistentes de styling Gabriel Binow e Emmanuel Amaral, assistentes de foto Marina Najjar, Erick Diniz e Mayara Rios, assistente de beleza Creuza Tolentino, assistente de set design Gabriel Filgueiras, assistente de arte Leonardo Ruggeri, contrarregra Alexandre De Jesus, assistente de produção Caio Nogueira, camareira: Magnalva Pinheiro e locação Verniz

Por Piti Vieira

Um integrante de uma banda de rock é atingido por um raio e atravessa para um lugar entre mundos. A partir desse colapso — real, simbólico, elétrico —, começa o mergulho metafórico de “Sonho Elétrico”, espetáculo em cartaz no Sesc Vila Mariana. A peça marca o retorno de Jesuíta Barbosa ao teatro, seis anos depois de sua última aparição nos palcos paulistanos. Dirigida e escrita por Marcio Abreu, fundador da Companhia Brasileira de Teatro, a montagem nasce do livro “Sonho Manifesto”, de Sidarta Ribeiro, e se constrói como uma insurreição diante do colapso. “A história parte de um levante para entender como sobreviver neste mundo que parece à beira do fim”, diz Jesuíta. Com música ao vivo, projeções e uma fisicalidade intensa, o ator usa seu corpo como instrumento dramático, quase coreográfico, em cena.

Jesuíta Barbosa usa calça e regata Frou Frou Vintage, hot pant acervo da stylist, colar Fendi, botas Casa Juisi, óculos Gucci por Protus Group – Foto: Josefina Bietti, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Renata Correa, beleza por Cris Biato com produtos Dior Beauty, set design Yuri Godoy, sireção de arte Yasmin Klein, retoque Philipe Mortosa, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistentes de styling Gabriel Binow e Emmanuel Amaral, assistentes de foto Marina Najjar, Erick Diniz e Mayara Rios, assistente de beleza Creuza Tolentino, assistente de set design Gabriel Filgueiras, assistente de arte Leonardo Ruggeri, contrarregra Alexandre De Jesus, assistente de produção Caio Nogueira, camareira: Magnalva Pinheiro e locação Verniz

O retorno aos palcos paulistanos acontece na sequência de seu trabalho mais visível até aqui: “Homem com H”, cinebiografia de Ney Matogrosso dirigida por Esmir Filho, que acaba de chegar à Netflix. Ali, Jesuíta dividiu cena e silêncio com o próprio Ney, em uma travessia íntima guiada pelas memórias do cantor. Foram quase três meses de preparação para as filmagens, um processo de permeabilidade, em que tudo se mantinha vivo: “eu guardava tudo fresco, com improvisações e nuances surgindo a cada ensaio.”

Jesuíta Barbosa usa calça e camisa DOD Alfaiataria, tricô Zegna, corset Madame Sher, óculos acervo da stylist, relógio Montblanc e sapato Dolce&Gabbana – Foto: Josefina Bietti, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Renata Correa, beleza por Cris Biato com produtos Dior Beauty, set design Yuri Godoy, sireção de arte Yasmin Klein, retoque Philipe Mortosa, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistentes de styling Gabriel Binow e Emmanuel Amaral, assistentes de foto Marina Najjar, Erick Diniz e Mayara Rios, assistente de beleza Creuza Tolentino, assistente de set design Gabriel Filgueiras, assistente de arte Leonardo Ruggeri, contrarregra Alexandre De Jesus, assistente de produção Caio Nogueira, camareira: Magnalva Pinheiro e locação Verniz

Jesuíta diz que não sabe exatamente como Ney se viu retratado e devolve a introspecção. “Deve ter gerado estranhamentos, alegrias e epifanias”, arrisca. Mas confessa: quem mais estranhou, no início, foi ele mesmo. “Eu estava muito preocupado para que tudo ficasse bom e acho que essa preocupação não me deixou ver o que estava na tela, sabe? Fiquei encaixando questões, problemas… Não curtia o filme nas primeiras vezes em que assisti.” Ney, por outro lado, estava muito feliz. “A nossa conversa era sobre as cenas, o que estava parecido, o que não estava. Esse foi o tom dos nossos papos.”

Jesuíta Barbosa usa blazer Mariana Barbetta, calça Zegna, colar Fendi, anéis Apricus e sapatos João Pimenta – Foto: Josefina Bietti, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Renata Correa, beleza por Cris Biato com produtos Dior Beauty, set design Yuri Godoy, sireção de arte Yasmin Klein, retoque Philipe Mortosa, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistentes de styling Gabriel Binow e Emmanuel Amaral, assistentes de foto Marina Najjar, Erick Diniz e Mayara Rios, assistente de beleza Creuza Tolentino, assistente de set design Gabriel Filgueiras, assistente de arte Leonardo Ruggeri, contrarregra Alexandre De Jesus, assistente de produção Caio Nogueira, camareira: Magnalva Pinheiro e locação Verniz

O resultado foi estrondoso: sessões lotadas, aplausos no escuro e cerca de 600 mil espectadores nas primeiras semanas de exibição, um sucesso que o ator atribui ao boca a boca positivo e à qualidade do filme. Também na moda, seu olhar segue em recomposição e pesquisa. Dos mais de 90 figurinos experimentados para encarnar Ney, sob a curadoria da figurinista Gabriella Marra, há uma peça que ficou guardada na sua memória: “A roupa de ‘Flores Astrais’ [clássico dos Secos & Molhados] me fascinou. Era toda prateada, com uma máscara quase alienígena. Eu a teria guardado para ocasiões em que quisesse sair e causar uma sensação impressionista”, diverte-se.

Jesuíta Barbosa usa full look Ferragamo e saia tecido moulage acervo stylist – Foto: Josefina Bietti, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Renata Correa, beleza por Cris Biato com produtos Dior Beauty, set design Yuri Godoy, sireção de arte Yasmin Klein, retoque Philipe Mortosa, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistentes de styling Gabriel Binow e Emmanuel Amaral, assistentes de foto Marina Najjar, Erick Diniz e Mayara Rios, assistente de beleza Creuza Tolentino, assistente de set design Gabriel Filgueiras, assistente de arte Leonardo Ruggeri, contrarregra Alexandre De Jesus, assistente de produção Caio Nogueira, camareira: Magnalva Pinheiro e locação Verniz

Com 34 anos recém completados, Jesuíta reafirma que adora fazer cinema, mas que sua formação é dos palcos. “Eu me mudei para São Paulo há sete anos para poder fazer teatro. A imagem venceu hoje em dia. Vivemos em função de produzir imagens freneticamente. Mas acredito que a palavra vem antes de tudo. Para se criar a cena, criar ficções, é preciso um roteiro, um texto muito bom. Eu me atento ao texto.”

Jesuíta Barbosa usa camisa Hist, gravata De Goeye e trenchcoat À La Garçonne – Foto: Josefina Bietti, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Renata Correa, beleza por Cris Biato com produtos Dior Beauty, set design Yuri Godoy, sireção de arte Yasmin Klein, retoque Philipe Mortosa, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistentes de styling Gabriel Binow e Emmanuel Amaral, assistentes de foto Marina Najjar, Erick Diniz e Mayara Rios, assistente de beleza Creuza Tolentino, assistente de set design Gabriel Filgueiras, assistente de arte Leonardo Ruggeri, contrarregra Alexandre De Jesus, assistente de produção Caio Nogueira, camareira: Magnalva Pinheiro e locação Verniz

Ao refletir sobre o atual momento fértil do cinema brasileiro, o ator não esconde a preocupação com a fragilidade desse ciclo: “É um ano importante, a TV e o streaming estão se aproximando de narrativas mais cinematográficas, mas precisamos cuidar para que as políticas públicas de cultura não recuem”.

Jesuíta Barbosa usa casaco, regata e bota Casa Juisi, calça Normando, óculos acervo da stylist e bolsa Montblanc – Foto: Josefina Bietti, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Renata Correa, beleza por Cris Biato com produtos Dior Beauty, set design Yuri Godoy, sireção de arte Yasmin Klein, retoque Philipe Mortosa, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistentes de styling Gabriel Binow e Emmanuel Amaral, assistentes de foto Marina Najjar, Erick Diniz e Mayara Rios, assistente de beleza Creuza Tolentino, assistente de set design Gabriel Filgueiras, assistente de arte Leonardo Ruggeri, contrarregra Alexandre De Jesus, assistente de produção Caio Nogueira, camareira: Magnalva Pinheiro e locação Verniz

Defensor de uma política de Estado para o cinema, as artes e o teatro, ele ressalta a necessidade de vigília para que essa reabertura e retomada não sejam episódicas. E, ao tentar evitar um mergulho mais fundo no tema – “não quero entrar em política para o nosso papo não ir longe” –, revela uma inquietação cidadã tão profunda quanto sua entrega artística, um reflexo de quem entende que criar cenários de ficção também exige responsabilidade social.

Jesuíta Barbosa usa luvas e corset Casa Juisi, óculos Bottega Veneta por Protus Group – Foto: Josefina Bietti, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Renata Correa, beleza por Cris Biato com produtos Dior Beauty, set design Yuri Godoy, sireção de arte Yasmin Klein, retoque Philipe Mortosa, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistentes de styling Gabriel Binow e Emmanuel Amaral, assistentes de foto Marina Najjar, Erick Diniz e Mayara Rios, assistente de beleza Creuza Tolentino, assistente de set design Gabriel Filgueiras, assistente de arte Leonardo Ruggeri, contrarregra Alexandre De Jesus, assistente de produção Caio Nogueira, camareira: Magnalva Pinheiro e locação Verniz

A música, por sua vez, segue sendo o motor de sua inspiração fora dos palcos. Jesuíta começa o dia ouvindo Caetano Veloso, revisitando álbuns, mergulhando em contextos históricos de compositores, ou descobrindo bandas independentes em São Paulo. “É um laboratório de emoções”, admite. Essa escuta atenta, garante, transborda em sua atuação. “O ritmo da cena, a cadência do diálogo, tudo tem a ver com a maneira como a música pulsa em mim por dentro.”

Jesuíta Barbosa usa full look Dolce&Gabbana – Foto: Josefina Bietti, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Renata Correa, beleza por Cris Biato com produtos Dior Beauty, set design Yuri Godoy, sireção de arte Yasmin Klein, retoque Philipe Mortosa, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistentes de styling Gabriel Binow e Emmanuel Amaral, assistentes de foto Marina Najjar, Erick Diniz e Mayara Rios, assistente de beleza Creuza Tolentino, assistente de set design Gabriel Filgueiras, assistente de arte Leonardo Ruggeri, contrarregra Alexandre De Jesus, assistente de produção Caio Nogueira, camareira: Magnalva Pinheiro e locação Verniz

Sua volta ao teatro também reacende memórias de formação: a licenciatura em Teatro no Instituto Federal do Ceará e os ensinamentos de João ” Joca” Andrade, professor admirado do curso no Teatro José de Alencar, onde começou sua formação artística. Agora, em Sonho Elétrico, ele reencontra o gosto pelo grupo, pela construção de uma ficção coletiva que foge ao naturalismo do cinema. “O teatro contemporâneo de Marcio Abreu me instiga a pensar a cena como pintura: não precisa ser realista, mas profundamente simbólica”, diz Jesuíta, sinalizando que esse retorno é também um recomeço criativo.

Provocado a imaginar um Jesuíta Barbosa daqui a vinte anos, ele sorri e recorre ao clássico: “Talvez eu interprete uma versão minha que seja um drama à la Ricardo III, com toda a ganância, as contradições e o poder de transformação que um personagem tão complexo oferece”. Mas, diante da escolha entre atuar ou dirigir esse “eu do futuro”, não hesita: “Prefiro dirigir, porque quero entender o processo na íntegra — do texto à encenação, do ator à câmera. É aí que reside minha próxima grande aventura”.

Jesuíta Barbosa usa casaco Dior, gravata De Goeye, lenço Penha Maia e anéis Apricus – Foto: Josefina Bietti, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Renata Correa, beleza por Cris Biato com produtos Dior Beauty, set design Yuri Godoy, sireção de arte Yasmin Klein, retoque Philipe Mortosa, coordenação Mariana Simon (KM Studio), produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistentes de styling Gabriel Binow e Emmanuel Amaral, assistentes de foto Marina Najjar, Erick Diniz e Mayara Rios, assistente de beleza Creuza Tolentino, assistente de set design Gabriel Filgueiras, assistente de arte Leonardo Ruggeri, contrarregra Alexandre De Jesus, assistente de produção Caio Nogueira, camareira: Magnalva Pinheiro e locação Verniz

É nesse compasso, ora de corporeidade extrema, ora de introspecção criativa, que Jesuíta Barbosa se movimenta. Do teatro ao cinema, dos arquivos de figurinos às manhãs embaladas por Caetano, ele costura linguagens para reinventar, a cada passo, a si mesmo e aos públicos que encontra.