
Foto: Ryan Jafarzadeh
O Brasil foi novamente escolhido como ponto de partida para uma nova fase do The Hives. Após passagem pelo País, no fim do ano passado, a banda sueca voltou a São Paulo para marcar o início da divulgação de The Hives Forever Forever The Hives — álbum previsto para 29 de agosto. O plano era aproveitar a passagem pela América Latina (com compromissos no México, Colômbia e Peru) para fazer uma imersão cultural pela cidade. “Mesmo quando tentamos fazer algo diferente, ainda soamos como The Hives”, resume o vocalista Pelle Almqvist sobre o novo trabalho.
O encontro com a Bazaar Man aconteceu na Soho House São Paulo, no início de abril, horas antes de um bate-papo com fãs e de um DJ set da banda que incendiou a pistinha até tarde.
A nova fase — antecipada pelos singles Enough Is Enough (lançado com clipe filmado em Bucareste) e Paint a Picture, que será lançada nesta terça (17.06) –, mantém o espírito caótico, teatral e desafiador que consagrou o grupo. Com 13 faixas, o sétimo disco do Hives reúne participações de Mike D (Beastie Boys) e Josh Homme (Queens of the Stone Age), além da produção de Pelle Gunnerfeldt. Foi gravado entre os estúdios de Benny Andersson (do ABBA), em Estocolmo, e o espaço do rapper Yung Lean.
Durante a rápida passagem pelo país, Pelle Almqvist falou sobre o novo álbum, o estilo visual da banda — sempre milimetricamente alinhado — e memórias de seus rolês tropicais por aqui. Leia a íntegra:

Foto: Ryan Jafarzadeh
Harper’s Bazaar – Por que escolheram o Brasil para dar início à divulgação do novo álbum?
Pelle Almqvist – A gente realmente gosta daqui. Já tínhamos shows marcados na Colômbia e no Peru, então fez sentido incluir o México e o Brasil nessa rota para começar a falar do novo disco.
HB – E como o primeiro single se encaixa nesse novo momento da banda?
PA – É a faixa que abre o disco, como uma espécie de declaração de intenções. Desde o começo, ela foi vista como um possível single por quem trabalha com a gente — porque achavam que era a música que venderia os ingressos dos shows. A gente mesmo nem sempre acerta quando escolhe. Hate to Say I Told You So, por exemplo, a gente não teria escolhido. O Chris costuma dizer: fazemos dez músicas como se todas fossem singles — e deixamos alguém de fora escolher.
HB – Faixas como “Born A Rebel”, “Legalize Living” e “Path of Most Resistance” carregam um tom rebelde. Este é o disco mais político do Hives?
PA – Talvez o mais desafiador, sim. Mas nunca fomos políticos de forma clara. Tem opiniões ali, dá pra perceber. Só que é um posicionamento mais difuso, menos direto. A música que começa com “Everyone’s a little fucking bitch” já diz muito sobre como vemos o mundo em 2025. Muita reclamação e pouca atitude.
HB – Vocês ainda testam músicas ao vivo antes de lançar?
PA – Duas faixas desse disco a gente chegou a tocar ao vivo há anos. Uma delas é “Pen Picture” — talvez tenha rolado pela primeira vez uns oito, dez anos atrás. Mas foi um acaso. Nem era pra ter saído ali. Se alguém na França ouviu, que sorte a dele — ainda é uma música nova pra gente.
HB – O álbum foi gravado entre o estúdio do Benny Andersson (ABBA) e o do Yung Lean. Como foi essa mistura?
PA – Total contraste, né? Mas a Suécia é um país pequeno — tudo vira música pra gente. Tenho certeza que o próprio Yung Lean já gravou no estúdio do Benny também. É tudo meio conectado.
HB – Mike D e Josh Homme participam do disco. Como foi essa troca?
PA – O Mike D cantou um pouco e produziu duas faixas. O Josh, na real, foi mais um padrinho moral: ligava dizendo “tá tudo ótimo!”. Você não ouve ele no álbum, mas o Mike D grita como em um hardcore em “OCDOD”. Se fosse dividir os créditos em tempo: o Hives levou anos, o Pelle [produtor] levou meses, o Mike D levou dias e o Josh, algumas horas.
HB – O clipe de “Enough Is Enough” foi gravado com uma equipe de boxe na Romênia. A capa, por outro lado, mostra vocês como reis renascentistas. Qual a ideia desse contraste?
PA – A gente ainda está tentando entender (risos). Íamos visitar o MASP aqui em São Paulo pra ver arte renascentista, mas fomos barrados.

Novo álbum será lançado em 29 de agosto e contará com versões exclusivas em vinil (Foto: Divulgação)
HB – Teve alguma música que entrou no último minuto? Ou alguma história curiosa do processo?
PA – The Hives Forever Forever The Hives nunca foi tocada por todos nós ao mesmo tempo. Cada um gravou sua parte separadamente. É o milagre da tecnologia moderna. E talvez o único álbum do ano que não foi feito por inteligência artificial. A gente testou o ChatGPT uma vez — pedimos pra escrever um roteiro de filme sobre a banda. Foi terrível. Mas engraçado.
HB – Falando em estilo: o visual sempre foi parte forte da identidade da banda. Qual o papel da moda para o Hives?
PA – É bem importante. Ninguém acorda assim, né? (risos) Mas o bom da moda é isso: você escolhe um look e segue com ele. Tem banda que decide a roupa todo dia. A gente acerta um terno e vai. Estilo é parte do que faz uma banda. Os Cramps tinham estilo. O Kraftwerk também. As bandas que a gente gosta têm isso. Então a gente também tem.
HB – Você diria que esse é o disco mais “The Hives” da carreira?
PA – Com certeza. Mesmo quando a gente tenta fazer algo diferente, o resultado acaba sempre soando como The Hives. Dessa vez achamos que ia sair algo mais polido. Mas todo mundo que ouviu diz que é o mais cru. Talvez a gente tenha falhado em mudar — mas acertou em fazer um grande álbum.
HB – Vocês já vieram muitas vezes ao Brasil. Têm alguma lembrança especial?
PA – Várias. A primeira vez no Rio foi incrível, mesmo com os alertas sobre assaltos. Tinha mosquito pra todo lado, mas a comida compensava: feijoada, churrasco, caipirinha. A gente é sempre levado de um lugar pro outro e come muito bem. Nunca entendi a geografia daqui — parece que são várias cidades numa só. Mas tudo funciona. Alguém me falou que o Brasil tem formato de cavalo. E que São Paulo seria o focinho? (risos)
HB – A banda já foi chamada de “melhor show de rock do planeta”. Como sustentam isso até hoje?
PA – Recebemos esse título bem no começo. Mas não é só talento — a gente se esforça de verdade pra fazer um grande show. Temos um padrão alto do que um show de rock deve ser. É tipo skatista sueco que via foto dos americanos fazendo manobra e foi pra lá treinar até acertar tudo. A gente via foto de banda pulando no palco e achava que pulavam o tempo todo. Descobrimos que faziam isso duas vezes por show — e a gente passou a pular o tempo todo. No fim, é isso: ensaio, dedicação e um pouco de loucura.
HB – Algo mais que gostaria de dizer?
PA – Mal podemos esperar pra voltar ao Brasil e tocar essas músicas novas ao vivo. O que vem por aí é nossa era de ouro.









