No lar cinematográfico de Lufré, o vintage provoca, o silêncio ecoa e os cantos guardam histórias (Fotos: Vítor Jardim, Direção Criativa: Kleber Matheus)

Por trás das lentes de Lufré, a sensualidade ganha formas plásticas, a estranheza vira narrativa e o desconforto, muitas vezes, é proposital. Mas, quando a câmera se despede, é em casa que o fotógrafo revela nuances que nem a imagem consegue captar.

“Minhas fotos têm esse erotismo evidente, um certo incômodo nas proporções… Mas aqui, na minha casa, existe um aconchego, sabe? Um drama também — o sol, pela manhã, revela uma coisa, já a noite mostra outra história”, narra à BAZAAR Man. Localizada no Alto de Pinheiros, bairro que ele descreve como “cheio de drama em cada esquina”, a casa é um exemplar raro da década de 1990, conservada com o charme da sua época original.

No lar cinematográfico de Lufré, o vintage provoca, o silêncio ecoa e os cantos guardam histórias (Fotos: Vítor Jardim, Direção Criativa: Kleber Matheus)

“Ela é de 93. Não quis mexer em nada. Revitalizei o piso de jacarandá e mobiliei com meu olhar. Acho essa época sexy, rica, dramática. Tem um toque meio motel, meio filme antigo, meio clipe de VHS.” A atmosfera remete a uma estética entre o neo-noir sensorial e o erotismo de filmes europeus dos anos 1980 — onde cada elemento de décor parece ter saído de um fotograma carregado de intenção.

Se a luz é um recurso essencial para o fotógrafo em cena, ela também é fundamental no seu refúgio. “Uma luz boa é tudo. A externa da minha casa tem esse efeito sépia, porque o sol bate nas paredes terracota e cria uma película que parece de filme mesmo. Eu me sinto livre ali, mas também protegido.” É esse jogo entre acolhimento e intensidade que guia a narrativa estética do espaço — um equilíbrio entre solitude e festa.

A casa é, segundo ele, a sua maior conquista espiritual. “Vivendo com tanta troca de energia o tempo todo, com pessoas diferentes, você precisa de um lugar que o abrace. Um lugar que o recarregue. E eu tenho isso aqui.” O apego emocional se traduz também em objetos: os pratos de peixe pintados à mão que trouxe de Marselha, na França, são um xodó — carregam uma memória preciosa e o esforço literal de terem cruzado o oceano para compor seu lar.

Na decoração, Lufré não abriu espaço para interferências. “Aqui, sou eu por inteiro. A casa é minha cabeça de artista.” Essa liberdade aparece também na escolha das obras de arte. “As peças do Dan Lannes trouxeram a alma que eu queria. Têm esse tom meio porn que me instiga. Adoro.” Em alguns cômodos, o ar de set design parece ecoar Bertolucci, Almodóvar ou até mesmo os clipes da era dourada da MTV — com erotismo velado, texturas fortes e luz dramática.

No lar cinematográfico de Lufré, o vintage provoca, o silêncio ecoa e os cantos guardam histórias (Fotos: Vítor Jardim, Direção Criativa: Kleber Matheus)

Solteiro e dono de uma casa grande, ele vive sozinho — e ama isso. O que não significa que vive isolado. “Talvez o que eu mais goste seja receber. Pode ser pra vermos besteira sentados no sofá ou pra um super jantar. Amo ter os meus por perto.” Se tivesse que montar uma mesa com nomes das artes e da moda, ele hesita em cravar convidados. “Qualquer pessoa com a alma livre é bem-vinda. Gosto de explorar pessoas, de conhecê-las profundamente.”

E se a parte externa e a cozinha são os espaços favoritos, o quarto — ao contrário do drama do resto — é despojado de misticismos. “É o lugar mais simples da casa. Gosto assim. Sem cor demais, sem excesso. Espaço pra dormir tem que ser limpo.”

Com sete meses de convivência com esse novo endereço, Lufré ainda não pensa em grandes reformas. Está em fase de escuta. “Talvez eu mude alguma coisa lá na frente. Mas, por enquanto, ela é perfeita do jeito que é.” E parece que o lar já entendeu seu morador: entre luzes, silêncios e ecos de outras décadas, é um lugar onde ele finalmente pode descansar sem precisar se esconder.

No lar cinematográfico de Lufré, o vintage provoca, o silêncio ecoa e os cantos guardam histórias (Fotos: Vítor Jardim, Direção Criativa: Kleber Matheus)