
Fhilipe Ribeiro – Foto: Marco Brozzo
Exploramos o universo da série Rensga Hits em uma conversa com o ator Fhilipe Ribeiro. Para a Bazaar, o artista compartilhou suas percepções sobre o enredo, a conexão com as particularidades culturais abordadas na trama e como a série ressoa com questões contemporâneas. Fhilipe também reflete sobre a influência das redes sociais nas relações modernas, os desafios e as oportunidades no mercado audiovisual, e oferece uma visão única sobre sua experiência ao atuar em múltiplos papéis dentro da indústria, do roteiro à direção.
Pedro Buzzatto – A série Rensga Hits explora a cultura do Centro-Oeste e a música sertaneja. Como foi se conectar com esse universo, especialmente considerando que o Brasil tem uma diversidade cultural tão grande?
Fhilipe Ribeiro – Rensga surgiu num momento oportuno para mim. Já tinha ido a Goiânia com peças de teatro e passei parte da pandemia lá. Com isso, acabei conhecendo mais a fundo a cidade, a gastronomia, e tenho pessoas muito queridas por lá. Goiânia, especificamente, é uma cidade muito nova, com menos de cem anos, e tem um potencial imenso. Assim como o sertanejo, vai continuar crescendo e se expandindo. O Centro-Oeste todo tem uma magia, um céu diferente, e poder estar inserido em contextos que vão além do eixo Rio-SP é sempre revigorante.
PB – O sertanejo é um gênero musical profundamente enraizado na cultura do Centro-Oeste. Como foi a experiência de se envolver em uma série que valoriza e representa essa cultura específica?
FR – Com as minhas experiências no Centro-Oeste, fui me abrindo para o sertanejo e acabei me conectando em alguns aspectos. Gosto de músicas que contam histórias, e a maioria dos sertanejos tem essa abordagem. Para além das fórmulas dos hits do pop, o sertanejo tem uma fusão entre métrica, letra e melodia extremamente rica. E a visceralidade do sertanejo é algo que também curto. Mesmo que venha ressignificando o amor romântico na minha vida, às vezes só uma sofrência te tira do lugar.

– Foto: Marco Brozzo
PB – Seu personagem na série surge através de um aplicativo de relacionamento. Como você vê a influência das redes sociais e dos aplicativos na forma como as pessoas constroem suas conexões hoje em dia, e como isso foi trabalhado no desenvolvimento do personagem?
FR – O encantamento que a rede social gera, ao meu ver, tem a ver com a novidade, o imediatismo e as recompensas instantâneas. Isso faz com que a conexão não se sustente. Não que ela não exista, mas está diretamente ligada a uma projeção instantânea, construída por uma imagem. Dificilmente conseguimos abarcar nossas complexidades online. Pelo contrário, somos condicionados a nichar os nossos perfis. Para uma conexão existir e se sustentar, ela precisa de profundidade, e na profundidade não vemos só as coisas boas e editadas – passamos pelo cru, pelo real, aprendendo e evoluindo. Na minha construção para a série, tentei trazer esse frisson do primeiro encontro, onde tudo é possível, inclusive ser uma nova versão de si mesmo, já que não existe uma linha do tempo ou grandes referências entre aquelas duas pessoas.
PB – No mercado audiovisual, muitos artistas estão expandindo suas habilidades para além da atuação, explorando direção, roteiro e produção. Como você enxerga os desafios e as oportunidades dessa multiplicidade no meio artístico?
FR – Quando decidi seguir a carreira artística, conversei muito com o meu pai, que se preocupava com a estabilidade da profissão. Sempre foi claro na minha cabeça que meu plano B estaria dentro do mercado, somando direção e roteiro. O maior desafio é mental, porque fazer arte parte de um lugar subjetivo, e em um mundo onde resultados materiais são cobrados a cada hora, você tem que se esforçar para cumprir o papel de três funções. Estar perto de pessoas que enxerguem além daquela subjetividade (como você) também ajuda. O segundo passo é saber trazer tudo isso para o mundo físico. Na minha trajetória, acabei tendo trocas incríveis com pessoas que, se fosse só como ator, talvez não fossem tão bem aproveitadas. E, com tudo caminhando junto, você consegue ter mais ou menos um controle de narrativa.
PB – Quais foram as maiores recompensas e dificuldades que você enfrentou ao atuar em diferentes papéis dentro do audiovisual (como direção, roteiro, produção), especialmente considerando as condições atuais do mercado?
FR – Embora meu cansaço tenha se multiplicado consideravelmente, saber que estou movimentando e fazendo tudo o que está ao meu alcance me dá paz de espírito e alivia a angústia da espera do ator.

“o ator é como um encanador: existe um vazamento (a cena) e você precisa resolvê-lo; é um serviço, para o outro, diz Fhilipe Ribeiro – Foto: Marco Brozzo
PB – Muitas vezes, a profissão de ator é romantizada, mas sabemos que há muitas dificuldades que não são visíveis para o público. Quais são os aspectos mais desafiadores dessa carreira que você acredita serem importantes desmistificar?
FR – Acho que o glamour e o poder atrelados à profissão acabam sendo uma armadilha. Além disso, o ator é como um encanador: existe um vazamento (a cena) e você precisa resolvê-lo; é um serviço, para o outro. Um set tem dezenas, centenas de pessoas para fazer acontecer, e os atores são a ponta de um iceberg. Levei um tempo até entender que certas coisas não são pessoais – e, se forem, também fiz o que pude com as ferramentas que tinha. Os personagens passam, mas minha história continua.
PB – Que conselho você daria para aqueles que estão começando na carreira de ator, especialmente considerando as pressões e incertezas do mercado atual?
FR – Não sejam só atores. Estudem outras frentes para saber dimensionar um set. Não se juntem com outros atores para reclamar do mercado. A profissão de artista é uma das mais divertidas do mundo, mas não é um parque de diversões – às vezes está mais para um trem fantasma. Então, se você não aguenta lidar com o lado negativo das coisas, esqueça.