POR EDUARDO VIVEIROS

Rodrigo Santoro está em reforma. Não só da própria casa, no Rio de Janeiro, de onde conversou com Bazaar Man em meio aos perrengues típicos de uma quebradeira doméstica, mas também de uma que lhe interessa mais, permanente e interna. “Reforma é sempre bem-vinda, ainda mais quando é para dentro. É algo que pratico diariamente, fui percebendo essa importância”, conta. “É uma coisa simples, nada esotérico. É sobre se trabalhar para ser uma versão melhor. Agora,estou absolutamente encantado com o tênis, que tem uma filosofia para além do esporte. Tem sido uma forma de terapia, como o surfe sempre foi.” Mais do que um processo físico, é para ele uma forma de alimentar a sua individualidade — fator de que não abre mão, apesar de ser um dos grandes atores da sua geração cuja carreira não foi atropelada pelo tempo e segue a toda. Em cartaz nos cinemas com a animação Arca de Noé, baseada em Vinícius de Moraes, ainda colhe os ecos da  última temporada de Bom dia, Verônica, produção nacional da Netflix que estreou em fevereiro e trouxe um flashback de quando era o jovem galã das novelas globais: “isso me fez experienciar algo que há tempos não vivia, essa interação nas ruas com as pessoas que me viram na TV no dia anterior.”

Rodrigo Santoro usa casaco Misci e relógio Montblanc – Direção criativa: Kleber Matheus, Fotografia: Josefina Bietti, Styling: Thiago Biagi, Beleza: Adriel Lucas, Direção de arte: Alexandre Montanher, Retoque: Bruno Rezende, Coordenação: Mariana Simon/ KM Studio, Produção executiva: Zuca Hub Produtores responsáveis: Caio Nogueira e Anna Guirro, Produção de moda: Guilhermo Lima, Assistentes de styling: Malu Lucatelli e Kaue Baldessini, Assistentes de foto: Renato Toso, Laly Saito, Assistentes de produção: Leandro Gomes Locação: Casa JD WP, Jardins, projeto arquitetônico Gabriel Garbin Arquitetura

Para quem acompanhou aquela época, pode assustar perceber que Rodrigo, que completa 50 anos em agosto, atravessou a marca de 30 anos de carreira em 2024. Números seniores que ele encara com naturalidade. “Eu não faço retrospectivas. Outro dia, entrei no IMDB para confirmar quantos filmes fiz e fiquei absolutamente espantado”, diverte-se. “Realmente, 30 anos é a idade de um adulto. Ao mesmo tempo, é algo relativo. Não tenho essa sensação de peso, pois sempre trabalhei com muita dedicação. Até hoje, mesmo com a vantagem da maturidade, cada trabalho é como se começasse de novo.” Sobre a idade, zero crises à vista para alguém que começou aos 18, após largar um sonho idealizado pela medicina, e amadureceu em frente às câmeras. “Claro que os papéis mudam conforme o tempo. Mas o que acho interessante, para nós que trabalhamos com a voz e a aparência, é ver como os personagens também amadurecem”, reflete. “Eu me cuido bastante, desde antes de começar a ser ator. Não faço por obrigação, mas por puro prazer. Gosto de me sentir bem, acordar e estar pronto para o dia. Ainda mais quando comecei a viajar muito,trabalhar fora, ter que ir para o set com jetlag. Não é moleza, é preciso disposição.”

Rodrigo Santoro usa full look Giorgio Armani e relógio Montblanc – Direção criativa: Kleber Matheus, Fotografia: Josefina Bietti, Styling: Thiago Biagi, Beleza: Adriel Lucas, Direção de arte: Alexandre Montanher, Retoque: Bruno Rezende, Coordenação: Mariana Simon/ KM Studio, Produção executiva: Zuca Hub Produtores responsáveis: Caio Nogueira e Anna Guirro, Produção de moda: Guilhermo Lima, Assistentes de styling: Malu Lucatelli e Kaue Baldessini, Assistentes de foto: Renato Toso, Laly Saito, Assistentes de produção: Leandro Gomes Locação: Casa JD WP, Jardins, projeto arquitetônico Gabriel Garbin Arquitetura

Rodrigo Santoro usa tricot e shorts Zegna óculos Oliver Peoples e relógio Montblanc – Direção criativa: Kleber Matheus, Fotografia: Josefina Bietti, Styling: Thiago Biagi, Beleza: Adriel Lucas, Direção de arte: Alexandre Montanher, Retoque: Bruno Rezende, Coordenação: Mariana Simon/ KM Studio, Produção executiva: Zuca Hub Produtores responsáveis: Caio Nogueira e Anna Guirro, Produção de moda: Guilhermo Lima, Assistentes de styling: Malu Lucatelli e Kaue Baldessini, Assistentes de foto: Renato Toso, Laly Saito, Assistentes de produção: Leandro Gomes Locação: Casa JD WP, Jardins, projeto arquitetônico Gabriel Garbin Arquitetura

Esse autodomínio do lidar é o que o fez atravessar as mudanças abissais da indústria audiovisual nessas três décadas. Das novelas e minisséries da TV Globo, entrou de cabeça na grande retomada do cinema nacional (ao protagonizar Bicho de sete cabeças, de Laís Bodanzky, em 2001, e Abril despedaçado, de Walter Salles, no ano seguinte), alcançou Hollywood e uma sólida presença internacional antes de abraçar as possibilidades do streaming. Nesse caminho, acumulou personagens altamente díspares: do futebolista Heleno de Freitas ao semideus persa Xerxes de 300, passando pelo doce frei Malthus de Hilda Furacão. Sempre com um processo intenso de pesquisa prévia, que define como “se colocar no ponto neutro” e achar o momento mais potente antes de iniciar a filmagem: “é a hora de mergulhar no desconhecido, suspender os julgamentos e ficar como uma es ponja, absorvendo.” Mas como lidar com tantas encarnações diferentes sem… pirar? “Talvez elas ainda estejam, aqui dentro, em algum lugar. Mas é realmente um trabalho que pede um equilíbrio mental muito grande”, afirma. “No começo, era mais complicado. Quando terminei o Bicho de sete cabeças, a experiência foi tão forte que seguiu reverberando por meses em mim. Com o tempo, aprendi a me desconectar com mais rapidez.”

A experiência mais perene do momento, porém, é a de pai de duas garotas (“esse papel, sim, é para a vida”), que ajuda a aterrar o Rodrigo real, nascido em Petrópolis, crescido entre bichos e que gosta de farofa. De novo, a individualidade em voga: “faço questão de promover e proteger esse espaço de normalidade, me proteger de crises de identidade, deslumbramentos e das projeções externas.” A presença no Brasil tem ficado mais forte, inclusive, nos últimos meses. Uma mudança de leme, como define, por conta da rotina da filha mais velha. Vantagem para nós, que teremos Rodrigo em dose tripla de filmes nacionais previstos para 2025: Corrida dos bichos, de Fernando Meirelles, O filho de mil homens, produção de Daniel Rezende baseado no livro de Valter Hugo Mãe, e O outro lado do céu, de Gabriel Mascaro, que levou o ator a um encontro muito desejado com a Amazônia.

Se parece tudo muito bem ordenado e planejado nessa trajetória, ele garante que “a vida não é assim” para si. “Outro dia, li algo interessantíssimo: no nosso cólon inferior, neste momento, há um número de bactérias vivendo e trabalhando maior do que o de todos os humanos que já nasceram na Terra”, reflete. “E, mesmo assim, as pessoas continuam afirmando que estamos no comando de tudo.