
Pedro Waddington – Foto: Fê Pinheiro
Pedro Waddington estreiou na TV como Tiago Roitman no remake de “Vale Tudo”, vivendo um jovem sensível, dividido entre o luxo familiar e a carência afetiva. Filho da atriz Helena Ranaldi e do diretor Ricardo Waddington, Pedro carrega no sangue a veia artística — e encara esse primeiro papel com profundidade e autenticidade. Tiago é filho de Heleninha Roitman (Paolla Oliveira) e enfrenta dilemas familiares, descobertas íntimas e grandes confrontos ao longo da trama.
Na entrevista a seguir, o ator fala sobre o processo de criação do personagem, as relações mais intensas da novela e o desafio de revisitar uma obra tão icônica da dramaturgia brasileira.

Pedro Waddington – Foto: Fê Pinheiro
HARPER’S BAZAAR BRASIL – Tiago é um personagem sensível, inteligente e cheio de nuances. Como foi o seu processo para construir esse jovem que vive entre o privilégio material e a carência afetiva?
PEDRO WADDINGTON – Foi um processo intenso entrar em contato com esse personagem de sensibilidade abundante. O Tiago é mais lunar, introspectivo e por ter passado tanto tempo no seu próprio mundinho ele acaba tendo uma densidade maior do que outros personagens jovens. Foi muito interessante revisitar a minha adolescência e construir o Tiago com muita observação.
HBB – A relação de Tiago com Heleninha é profunda e delicada, especialmente por conta do alcoolismo da mãe. Como foi preparar-se para essa dinâmica tão intensa e emocional?
PW – A gente teve um processo, antes mesmo da novela começar, pra construir essas relações entre os núcleos. E foi aí que eu e a Paolla começamos a criar essa conexão inicial entre o Tiago e a Heleninha. No começo da trama, ela está voltando de uma internação longa, então existe essa saudade entre eles por terem ficado tanto tempo sem se ver. E é interessante perceber como, a cada reviravolta da história, a relação deles se renova. A doença da Heleninha acaba afetando muito o Tiago e a forma como eles se relacionam.
HBB – Um dos arcos mais potentes de Tiago é a perda da virgindade com Fernanda. Como você abordou essa cena em termos de vulnerabilidade, descobertas e intimidade?
PW – Foi uma cena que a gente construiu com muito cuidado e muita conversa. Eu e a Ramille pensamos em cada detalhe. Para o Tiago, foi um momento de virada, e ele se sentiu acolhido pela Fernanda. Acho que conseguimos trazer a delicadeza e a verdade que a cena pedia.
HBB – O Tiago tem um papel quase de consciência na trama — ele confronta sem medo figuras como Marco Aurélio e Odete. Como você interpreta essa coragem em um ambiente tão opressor?
PW – Acho muito interessante como o Tiago, pela posição que ele ocupa em relação a esses personagens, acaba tendo uma liberdade maior para confrontá-los. O amor que o Marco Aurélio e a Odete sentem por ele cria um espaço onde ele pode se expressar sem o mesmo receio que outros personagens têm diante dessas figuras.
HBB – O interesse de Tiago por música clássica e o sonho de ser maestro fogem dos estereótipos tradicionais. Como isso influencia sua composição do personagem? Você trouxe algo pessoal para isso?
PW – Eu tive que entrar em contato com a música clássica para entender mais profundamente o mundo interno do Tiago. Tive um processo de pesquisa ao longo da preparação. Escutei muito esse estilo musical para entender um pouco mais da sensibilidade e do olhar do Tiago. Construí a personalidade também em cima disso.
HBB – O remake de Vale Tudo é uma grande responsabilidade. Como você enxerga o desafio de revisitar uma obra tão icônica da teledramaturgia brasileira?
PW – É um desafio enorme. A versão de 88 foi um sucesso gigantesco, e revisitar uma obra tão aclamada traz uma grande responsabilidade. Mas, do ponto de vista do Tiago, tem sido uma oportunidade especial de abordar temas que continuam muito atuais, trazendo essa relevância da trama para o presente.

Pedro Waddington – Foto: Fê Pinheiro
HBB – Você chegou a conversar com Fábio Villa Verde, que interpretou o Tiago na versão original? Se sim, o que trocou com ele? Se não, teve curiosidade de saber como ele viveu esse papel?
PW – Eu recebi uma mensagem calorosa do Fábio que veio através do meu pai e isso me deixou muito feliz e agradecido. Na hora de construir o Tiago, eu optei por não me basear tanto na versão original e preferi seguir o olhar do texto da Manuela Dias e as indicações da direção. Eu acho o Tiago um personagem muito complexo e profundo, e estou realmente feliz de poder viver ele em Vale Tudo.
HBB – Como você lida com essas comparações inevitáveis entre versões? Elas te ajudam ou atrapalham no seu processo criativo?
PW – Acho que é mesmo inevitável! A gente tá fazendo um remake de uma novela que fez um sucesso enorme, então as comparações acabam surgindo naturalmente. Eu não tenho uma resposta definitiva sobre se isso ajuda ou atrapalha, mas que elas estão aí, estão.
HBB – E as críticas? Como você costuma lidar com os elogios e também com os comentários mais duros sobre sua performance?
PW – Elogios e críticas fazem parte do trabalho. Qualquer profissão que lida com o público acaba recebendo diversas opiniões. E eu encaro isso de boa, porque tanto as críticas quanto os elogios me ajudam a crescer como profissional.
HBB – Se você pudesse definir o Tiago em uma palavra, qual seria — e por quê?
PW – Pergunta difícil! Mas eu diria: equilíbrio. O Tiago se equilibra em meio a tantas situações que o abalam: um pai que não aceita quem ele é, uma mãe que luta contra o alcoolismo e muitas vezes falha com ele, uma avó controladora, sem falar nas fragilidades e medos dele. Tudo isso tenta tirá-lo do centro o tempo todo, mas, de alguma forma, ele se mantém equilibrado.
 
  
