Foi durante o mês da moda masculina, entre as passarelas de Milão e Paris, que referências a culturas do sul e oeste da Ásia começaram a pipocar de forma mais evidente nas coleções de verão 2025. Túnicas, calças sobrepostas a camisas longas, colarinhos inspirados em golas Nehru e acessórios que lembram os sarongues do sudeste asiático dividiram espaço com a alfaiataria europeia e peças de apelo urbano. As inspirações, embora diluídas e discretas, apontam para um direcionamento claro: com o desaquecimento do mercado chinês, marcas de luxo voltam seus olhos para outros países asiáticos, como Índia, Emirados Árabes Unidos, Indonésia e Tailândia.
A Zegna, por exemplo, apresentou uma coleção marcada por camadas leves e tecidos fluidos, evocando o calor escaldante de Dubai — referência direta mencionada pela marca. A gola Nehru apareceu em camisas de linho usadas sob blazers sem estrutura. O styling propunha sobreposições que funcionam tanto no escritório quanto no deserto, mas sem recorrer a nenhuma peça tradicional de forma literal. Em vez disso, a marca apostou na sensação de leveza, na cartela terrosa e em tecidos que resistem às altas temperaturas.
Na Louis Vuitton, Pharrell Williams deu continuidade ao trabalho de reposicionar a marca com uma linguagem visual global. A coleção trouxe elementos da alfaiataria indiana contemporânea, com destaque para conjuntos bordados, bolsas inspiradas no filme The Darjeeling Limited e o uso de pijamas com listras amplas — um detalhe com origem persa que passou a fazer parte do vocabulário ocidental. A marca falou em “conexão com a cidade, a natureza e a vitalidade do sol”, evitando nomes de países ou termos específicos, mas deixando pistas de onde as ideias vinham.
A Prada foi além na conexão com a Índia, mesmo sem declarar isso diretamente na apresentação. Uma sandália de couro que lembrava o modelo Kolhapuri, tradicional do estado de Maharashtra, causou controvérsia após viralizar nas redes sociais indianas. A semelhança levou a protestos públicos e a um pedido de desculpas da marca, assinado por Lorenzo Bertelli e enviado formalmente à Câmara de Comércio de Maharashtra. A peça já não está mais listada no site oficial.
Outras marcas seguiram caminhos mais abstratos e conceituais. Na Hermès, túnicas de algodão e calças de linho com amarrações laterais lembravam uniformes informais usados no sudeste asiático, mas sem qualquer alusão direta a uma cultura específica. Na Loewe, por sua vez, camisas estampadas e sobreposições de coletes com tecidos mais rústicos acenavam para uma estética próxima à que se vê em mercados e centros urbanos da Indonésia, mas embaralhada com o universo do artesanato espanhol.
Em comum, essas aparições sugerem uma tentativa de criar pontes visuais com consumidores de fora do eixo tradicional do luxo europeu — tudo isso sem transformar trajes tradicionais em fantasias ou caricaturas. A ideia parece ser a de construir um guarda-roupa universal, no qual um colete feito em Madri possa conviver com uma túnica inspirada em Nova Délhi ou um lenço com amarração que lembre o Sudão, mas sem um nome que o defina com exatidão.
A movimentação coincide com o esforço do mercado de luxo em expandir sua presença em regiões como Índia, Oriente Médio e sudeste asiático, diante da desaceleração das vendas na China. Em paralelo, essas regiões têm se consolidado como novas vitrines globais. Quer exemplos? Pense no desfile da Dior em Mumbai, no investimento da Chanel em Abu Dhabi e nas ações da LVMH em Bangkok, que mostram que o luxo já está sendo encenado e consumido em outras paisagens.
No fim, se a estética vista nas passarelas deste verão não forma um bloco coerente nem entrega uma mensagem unificada, ela ao menos traça uma nova rota: um design que mira simultaneamente nos consumidores de Paris, Mumbai e Dubai — sem precisar escrever esses nomes nas etiquetas.