A equipe Mubadala Brazil SailGP, comandada por Martine Grael, em ação na etapa de Nova York, nos EUA (Foto: Samo Vidic)

Do Rio de Janeiro*

Alan Adler sabe o que é enfrentar vento contra a corrente. Velejador olímpico em três edições dos Jogos, empreendedor e hoje CEO da IMM Esporte e Entretenimento, ele se prepara para levar o Brasil a um novo capítulo do esporte mundial. Em abril de 2026, a Baía de Guanabara receberá a SailGP — liga que combina velocidade, tecnologia e narrativa de mídia em alto mar. “Vinte anos atrás, a gente colocou uma equipe brasileira para dar a volta ao mundo, o Brasil 1, na Ocean Race. Foram os mesmos desafios de agora: levantar recursos, competir com as maiores nações. Na época, construir o barco no Brasil era o equivalente a escalar o Everest.”

Depois daquele feito, Adler se afastou da vela. “Passei três anos conversando com todo mundo nesse país para pedir dinheiro, e a gente não tinha muita credibilidade”, lembra. Foi o tempo suficiente para entender que o desafio não estava mais apenas nas ondas, mas em transformar o esporte em produto. Agora, ele volta ao mar com uma estrutura muito mais robusta. Sob sua gestão, a IMM lidera a chegada do Mubadala Brazil SailGP Team, equipe que faz sua primeira rodada em casa na liga em 2026. Filho do também velejador olímpico Harry Adler, Alan cresceu na Baía de Guanabara e aprendeu cedo o valor do trabalho em equipe.

Alan Adler trará o SailGP ao Brasil em abril de 2026 (Foto: AT Films/Divulgação)

No início dos anos 2000, largou as regatas para construir uma carreira como articulador de grandes eventos. Sua empresa é responsável pelo Rio Open, o Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1, o Cirque du Soleil, a São Paulo Fashion Week e agora pela etapa brasileira da SailGP. Ele consolidou um modelo que combina esporte, entretenimento e mídia — um tripé que explica boa parte do sucesso da IMM, fundada em 2014 após a fusão entre sua antiga empresa, a IMX, e o fundo Mubadala.

A etapa carioca integra um calendário global que passa por cinco continentes e leva o Rolex SailGP Championship a destinos como Sydney, Bermudas, Halifax, Saint-Tropez e Abu Dhabi. O campeonato, criado por Larry Ellison (fundador da Oracle) e pelo velejador Sir Russell Coutts, já recebeu mais de US$ 400 milhões em investimentos e tem como diferencial o formato pensado para as telas — da TV ao streaming. A liga é disputada em catamarãs F50, embarcações idênticas que “voam” sobre a água e atingem quase 100 km/h.

O diferencial está na estratégia e na equipe: os barcos contam com sensores em tempo real, câmeras on board e análise de dados por inteligência artificial, tudo projetado para gerar conteúdo e engajamento instantâneo. As regatas têm cerca de uma hora e meia de duração e são transmitidas por canais de TV e streaming.

Martine Grael é bicampeã olímpica e primeira capitã da história da liga (Foto: Divulgação)

Time Brasil

A SailGP marca o retorno da bandeira brasileira aos mares — e agora com uma mulher no comando. A equipe nacional é liderada por Martine Grael, bicampeã olímpica e primeira capitã da história da liga, com o apoio do fundo Mubadala Capital. A franquia, avaliada em cerca de US$ 65 milhões, tem orçamento anual estimado entre US$ 10 e US$ 12 milhões e integra o portfólio de Adler, que vê no projeto uma oportunidade de reposicionar o Brasil no cenário esportivo global. Para o executivo, a SailGP representa esse futuro: “uma competição que une velocidade, tecnologia e impacto, dentro e fora d’água”.

Filha de Torben Grael, que comandou o Brasil 1 na Volvo Ocean Race — projeto idealizado por Adler há quase duas décadas —, Martine é uma das velejadoras mais premiadas do mundo: bicampeã olímpica (Rio 2016 e Tóquio 2020) na classe 49er FX e mundialista desde 2014. “Ela é símbolo de uma nova geração que alia performance, comunicação e propósito”, avalia Adler. Sob seu comando, a equipe brasileira do SailGP reúne ainda Marco Grael, o velejador de windsurf e campeão pan-americano, Mateus Isaac, e Breno Kneipp (experiente 49er, chegou neste ano ao time para atuar na posição de grinder), além de nomes internacionais como o neozelandês Andy Maloney (especialista em voo de catamarã), o britânico Leigh McMillan (Wing Trimmer) e o estrategista britânico Richard Mason.

Equipes: Spain, Mubadala Brazil, Emirates Great Britain, e France velejam na etapa de Saint-Tropez, na França, parte da Rolex SailGP Championship Season 2025 (Foto: Jonathan Nackstrand)

Descobridor dos Sete Mares

Nos bastidores, Adler é reconhecido como articulador de grandes palcos. Foi peça-chave na retomada da Fórmula 1 em São Paulo, na consolidação do Rio Open e do SP Open, além da volta da MotoGP ao Brasil — que será realizada no Autódromo Internacional Ayrton Senna, em Goiânia, de 20 a 22 de março de 2026, após 37 anos. Sua meta é transformar a etapa carioca da SailGP em um evento de impacto múltiplo — esportivo, cultural e econômico.

Para ele, o sucesso está em encontrar o equilíbrio entre a emoção da competição e a lógica do negócio. Adler tem repetido que só aposta em projetos que unem relevância e recorrência — aqueles capazes de se sustentar com múltiplas fontes de receita, de patrocínios à mídia. “É um novo momento da vela, e a gente não pode deixar passar.”

Entenda o SailGP

Criada em 2019, a SailGP é considerada a competição mais emocionante sobre a água. Reúne equipes nacionais que disputam corridas em catamarãs F50 — embarcações de alta tecnologia que literalmente “voam” sobre o mar, atingindo velocidades de até 100 km/h.

Com uma temporada de 11 meses, o Rolex SailGP Championship 2026 percorrerá cinco continentes. As etapas já confirmadas incluem Perth, Sydney, Rio de Janeiro, Bermudas, Nova York, Halifax, Portsmouth, Saint-Tropez, Dubai e Abu Dhabi — onde será realizada a grande final. Alimentada por vento, sol e mar, a liga tem premiação total de US$ 12,8 milhões e parcerias com marcas como Emirates, DP World, Accor, Mubadala e Rolex.

Mais um que da etapa de Saint Tropez, na França (Foto: Samo Vidic)

O editor viajou ao Rio de Janeiro a convite da organização do Mubadala Brazil SailGP Team.