Johnny Depp – Foto: Divulgação

Johnny Depp é o rosto do novo Sauvage Eau Forte, da Dior. Para a Bazaar Man, o ator fala de cheiros, memórias, carreira e de Modi, seu segundo filme como diretor,  que estreia em novembro. confira a entrevista exclusiva do artista:

Anna Abuchalla: Como descreveria Sauvage Eau Forte em três palavras?

Johnny Depp: Fresco, como a sensação da névoa de uma cachoeira. Há algo quente nele também, em suas camadas de ingredientes. E é tão preciso. É o cheiro de um dia bom.

AA: E ele combina com seu estilo?

JD: Absolutamente. O cheiro e os sentidos reagem imediatamente. Porque o cheiro é um dos sentidos mais poderosos que temos, esses aromas e notas formam uma brilhante mistura de cheiros interessantes e estranhamente diferentes. É realmente a mesma coisa que Lucien Freud ou Picasso escolhendo as tintas e as cores precisas para seu trabalho. Eles não usariam vermelho cádmio se quisessem um vermelhão.

AA: O que você considera essencial para uma performance poderosa ao interpretar um personagem?

JD: Algo tem que me cativar primeiro. Quando leio um roteiro, se não me sentir intrigado pelas primeiras vinte páginas, acabou para mim. Quando estou lendo, imagens e visões aparecem na minha mente, eu espalho ideias e anotações na página. O mais importante é decidir se há algo que eu, pessoalmente, posso adicionar. Há algo que eu quero adicionar, há uma oportunidade de se explicar sem se explicar? Por exemplo, Edward, personagem de Edward Mãos de Tesoura, quando li aquele roteiro, chorei como um bebê, e tinha certeza de que não conseguiria o papel. E um mês depois recebo uma ligação. Denise [Di Novi], a produtora, disse: “Johnny, você é o Edward Mãos de Tesoura.” Isso, para mim, foi como o segundo passo na minha fundação, era aquele material que eu queria fazer. Com o processo de atuação, você aborda as coisas de uma maneira diferente e acessa lugares diferentes dentro de você. Esse é o seu conjunto de ferramentas.

AA: O perfume é descrito como algo que captura emoções, assim como atuar envolve canalizar sentimentos e retratar personagens de maneira autêntica. Como você relaciona o processo de criar uma fragrância com o de construir de um personagem?

JD: A beleza de criar um personagem, para mim, é que eu não sei qual será o resultado. Eu só tento me concentrar na jornada, e o resultado é um mistério. Tenho certeza de que Francis [Francis Kurkdjian, perfumista da maison] tem algo em mente que ele está visando, o que o leva ao próximo nível em termos de “o que vou tentar a seguir”, “o que vou colocar com isso?” É muito semelhante à música ou à pintura, ou à escrita. Uma folha em branco ou uma tela em branco é uma das coisas mais intimidantes de todas, e espero que continue assim! Então, ele começa com uma tela em branco, mas com alguma noção de onde quer chegar, e ele busca o caminho.

AA: Você se considera uma pessoa inovadora? Você diria que dirigir Modi é um papel não convencional?

JD: Quando dirigi um filme chamado The Brave, em 1997, acredito que sim. Meu irmão e eu tínhamos escrito o roteiro e eu ficava reescrevendo o tempo todo no set e também atuava no filme, porque essa era a única maneira de conseguir o dinheiro para fazê-lo. Atuar e dirigir foi simplesmente avassalador. Eu sei o que estava sentindo: um diretor deve estar ciente de cada pequena coisa que está acontecendo, da história dos personagens, da definição entre entre eles, e um ator, por outro lado, essencialmente, não precisa estar ciente de nada. Você deve entrar no set e conhecer suas falas, mas é muito mais sobre reagir ou como se comportar. Atuar é uma coisa meio delicada, às vezes você tem que procurar e encontrar o que é essencial, o que parece certo para o personagem, e você pode encontrá-lo através da música, por exemplo. Uma música bem escolhida da sua infância o levará de volta àquele lugar quando você ouvi-la. O mesmo acontece com o cheiro. Ainda posso sentir o cheiro da loção pós-barba do meu avô.

AA: O que mais o empolga sobre esse papel de direção e sobre o seu filme previsto para novembro?

JD: Aqui está o que foi emocionante – eu não precisava estar nele. Eu não teria me escalado, então não o fiz. O que me empolgou foi a origem do projeto. Fiquei muito emocionado porque Al Pacino, há vinte e poucos anos, disse que iria dirigi-lo e isso nunca se concretizou. Então, vinte e poucos anos depois, recebo uma ligação do Al: – “Ei John, você se lembra daquela coisa do Modigliani que eu ia fazer, que eu ia dirigir? – Sim, sim, eu me lembro disso Al. Eu tive uma ideia, que tal você dirigir? – O que? O que você está falando? – Sim, acho que você deveria dirigi-lo, eu vou fazer um papel. – Ah, então sim, Al, se é isso que você vê, vamos fazer, estou dentro”. Al foi instrumental, quero dizer, ele foi mais do que instrumental, ele foi o cara que me ligou e teve a ideia de eu dirigir e ainda não sei o porquê.

AA: Qual é o papel da música na construção de seu estilo e imagem?

JD: A música ainda é tudo. Lembro-me de quando estava começando. Eu não sabia muito, não era realmente um músico, sabe… Naquela época, ia para uma audição com uma camiseta do U.K. Subs ou do Bad Brains e um chapéu, e não era um visual comum. Eu sempre gostei de ver fotografias de sets de filmes dos anos 1920, 30 e 40, em que a equipe estava de terno e gravata. Eles podiam ter as mangas arregaçadas, mas estavam de terno e chapéu. Havia algo tão bonito nisso. Eu nunca me senti confortável na era em que cresci ou na era em que estou envelhecendo!

AA: Você mencionou que a fragrância pode ajudá-lo a entrar no personagem. Você acha que é o mesmo com a música?

JD: Escolho uma música e, se levar quatro ou cinco dias para filmar a cena, vou ouví-la em loop, porque me ajuda a ficar no meu mundo, mas também a sentir a essência do personagem. Essa é a forma mais rápida e simples de mergulhar em nossas emoções mais profundas. Se eu não fosse ator, ainda estaria tocando guitarra.