Thiago Soares: do hip-hop às luzes do balé mundial

Quando a dança entrou na vida de Thiago Soares, ainda não existia palco, luz ou aplauso: havia apenas a energia pulsante das ruas do Rio de Janeiro. “A dança entrou na minha vida quando eu fazia parte de grupos que se apresentavam nas ruas, nos bailes charme e nas festas dos subúrbios do Rio de Janeiro. Foi ali meu primeiro encontro com ela. Lembro da sensação de estar no meio de uma roda dançando, com todos os olhares voltados para mim… foi nesse instante que percebi que minha verdadeira voz estava no movimento — que através dele as pessoas poderiam me ouvir e eu poderia me expressar”, conta ele.

Vindo do hip-hop e das acrobacias, Thiago encontrou no balé clássico uma extensão de sua própria identidade. “A dança urbana, o hip-hop e essa malemolência do cotidiano criaram uma base muito importante para mim. Quando comecei a estudar balé, isso se transformou em um complemento essencial: abriu espaço para o virtuosismo, para experimentar passos desconhecidos e me deu uma liberdade física enorme. Essa fusão foi fundamental para ampliar minhas possibilidades como artista.”

A carreira de Thiago transcendeu fronteiras e o levou ao Royal Ballet de Londres, onde se consolidou como primeiro bailarino. “Lá aprendi não apenas a dançar, mas também a ensinar, a projetar e a compreender a dimensão institucional da arte. Guardo um sentimento enorme de gratidão por essa jornada”, lembra. Assumir papéis de protagonista trouxe pressão, mas também autonomia: “Essa conquista foi fundamental: ter voz dentro de uma arte tão exigente. Sou muito grato por esse privilégio.”

Sua história de vida, marcada por disciplina e sensibilidade, ganhou vida nas telas no filme “Um Lobo Entre os Cisnes” (2025). Dirigido por Marcos Schechtman e Helena Varvaki, o longa acompanha sua trajetória desde o Rio de Janeiro até os palcos internacionais, com Matheus Abreu interpretando o bailarino. “Foi emocionante. Receber essa homenagem em vida e ver minha história transformada em filme foi um presente. Pessoas importantes da minha trajetória, como meu mentor Dino — que partiu cedo demais — puderam ser lembradas. Outros mentores, como Dona Lauska e Dona Marisa Estrela, ainda estão vivos e seguem sendo parte essencial da minha caminhada.”

Revisitar lugares que marcaram sua vida artística, como o Viaduto de Madureira, o Theatro Municipal e a Ópera de Paris, trouxe uma onda de memórias e gratidão. “Achei que seria simples revisitar o passado, mas me deparei com lembranças muito fortes. Revisitar tudo isso me fez perceber a força dessa jornada. Acho que todos deveriam, de alguma forma, revisitar sua própria história — seja por fotos ou conversas. Isso nos dá uma energia interna enorme.”

Para Thiago, a paternidade ainda é um desejo futuro, mas ele se vê como um “pai artístico”, cuidando e nutrindo novos talentos. Cada projeto, cada coreografia, cada espetáculo é uma extensão de sua própria visão do mundo. Mesmo obras como O Último Ato não representam um encerramento, mas sim a abertura de novas portas: “Essa transição, para mim, já aconteceu há alguns anos, quando fui diretor artístico no México. Foi ali que virei a chave e assumi plenamente o papel de criador, de coreógrafo, de alguém que gera novas obras e também fomenta outros talentos. Hoje sigo nesse caminho, aceitando projetos que tenham a ver com o que quero comunicar. Então não sinto que estou encerrando um ciclo, e sim vivendo uma nova etapa — e estou muito feliz e confortável com ela.”

Thiago Soares é um bailarino e uma história viva de coragem, disciplina, arte e transformação. De fininho, ele passou por um espaço estreito de oportunidades e fez da dança sua voz, sua vida e sua inspiração — para ele e para todos que se deixam tocar pelo movimento.