Nos bastidores da foto que acompanham esta entrevista, Thiaguinho começa a falar em inglês: “let’s go“, ri. Começou o papo, dizendo que precisava treinar o idioma. “Vamos começar”, proferiu, novamente em inglês. Ele é a estrela do ensaio The Look e ocupa uma das capas digitais da Bazaar Man de número 5, já disponível no app. Na entrevista abaixo, o cantor fala sobre vida, fé, além de como mantém a música como seu combustível. “Faço música com o coração. Depois de tanto tempo, meu maior desafio é não ser influenciado pelo próprio Thiaguinho para ter um frescor. Procuro sempre algo diferente para minha carreira. Quando faço um álbum, gravo pensando no show.”

O ensaio, clicado por Tom Barreto, tem estética classuda, com looks de alfaiataria e outros tecidos, como o conjunto Dolce & Gabbana desfilado na última semana de Milão – as roupas, com o perdão do trocadilho, são para emendar a tardezinha e curtir a noite. “Estava super confortável com todas. Gosto muito de assistir aos desfiles. Criei esse gosto em 2012, e, nos últimos 12 anos, trabalho com o Dudu Farias (stylist) e a gente troca muita figurinha.” Ele acaba de lançar o EP Sorte, a primeira parte de seu novo álbum de mesmo nome, com nove faixas inéditas – disponível nos streamings.

Full look Fendi – Foto: Tom Barreto, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Giusepe Botelho, beleza Adria Dasi, direção de arte Lincoln Aguiar, coordenação Mariana Simon, produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistente de styling Luana França, retouch Hadrien Raitani, camareira Vera Lucia e assistente de foto Tallis Assi. Locação: Estúdio L.o.v.i.

André Aloi – Vou começar com essa piadinha sem graça, mas… Você acha que 2024 é só trabalho, é só trabalho, é só trabalho (como diz seu meme)?

Thiaguinho – É, cara, 2023 foi de bastante trabalho. Tomara que 2024 também seja. Até porque eu trabalho com o que amo, divertindo-me pra caramba. Ano passado foi o ano mais especial da minha carreira, o que a gente viveu pra Tardezinha foi incrível. E o que eu vivi com a turnê Meu Nome é Thiago André foi incrível, também, chegando até ao Grammy e me apresentando lá em Sevilha (Espanha). Foi tudo muito mágico. Esse ano eu acabei de lançar um álbum novo, chamado Sorte, o vigésimo segundo da carreira.

AA – Ainda tem um frio na barriga quando você vai para o estúdio?

T – Amo esse processo. Sou apaixonado por compor, primeiro, depois poder mostrar essa composição pra minha galera, para o meu produtor (Prateado), para a galera do meu escritório, para os meus músicos e, depois, a gente vai para o estúdio, por exemplo. A gente gravou um álbum com 18 músicas, mas para chegar a essas, eu gravei 45. Vou para o estúdio, gravo todas com a banda inteira, valendo com arranjo com tudo.

AA – Sua bagagem é pautada pelo samba e pagode, mas você tem um lado pop. O que tem de diferente neste trabalho, que nos 21 anteriores ainda não foi possível mostrar?

T – Sempre gosto de flertar com outros gêneros e isso deixa o meu trabalho pop para caramba. O samba é pop, mas gosto de deixar as minhas influências rolarem, principalmente, coisas que estou ouvindo ultimamente. Escuto de tudo. Isso acaba refletindo na minha música. Este álbum tem muita coisa misturada. O samba é a base, como sempre, mas o afrobeat é fruto de uma viagem que fiz para Angola no ano passado. É algo que gostava de ouvir e tá tomando conta do planeta de uma maneira linda, com vários artistas do pop africano. fazendo sucesso pelo mundo afora.

Os convidados são todos daqui, tem participações de L7nnon (em Vai Valer a Pena), Billy SP, parceiro meu de composição, em uma música chamada Em Busca da Minha Sorte – música linda com uma mensagem incrível. Algo que sempre gosto de trazer nos meus álbuns. Gosto de músicas com mensagens. Ainda tem participação do Coral Do Imba, em Sorte (música-título) e, Liniker, em Febre.

AA – Até que ponto streamings ditam o que você vai cantar? Porque a gente vive em uma era onde as pessoas consomem muita música, mas, cada vez mais, mais curtas…

T – Faço música com o coração. Depois de tanto tempo, meu maior desafio é não ser influenciado pelo próprio Thiaguinho para ter um frescor. Procuro sempre algo diferente para minha carreira. Quando faço um álbum, gravo pensando no show.

Thiaguinho usa blazer e bermuda Dod Alfaiataria regata Osklen, meias Lupo e sapato A.P.C na Liberty Art Brothers – Foto: Tom Barreto, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Giusepe Botelho, beleza Adria Dasi, direção de arte Lincoln Aguiar, coordenação Mariana Simon, produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistente de styling Luana França, retouch Hadrien Raitani, camareira Vera Lucia e assistente de foto Tallis Assi. Locação: Estúdio L.o.v.i.

AA – E você é uma pessoa que você se imagina em dois ou cinco anos? Você se planeja ou não é essa pessoa?

T – Consigo. Obvio que a gente não tem domínio do que vai acontecer. Mas consigo fazer projetos. Eu amo fazer projeto. Por exemplo, esse projeto dos 20 anos, já tinha há uns cinco. Mas daqui a um ano é fácil de fazer a projeção, porque ano que vem a Tardezinha volta. E, no ano que vem, provavelmente vai ter mais um álbum da Tardezinha, mais um álbum , revisitando sucesso dos anos 1990. Mas eu também estou na dúvida se vou fazer um inédito da Tardezinha. Musicalmente, não sei como vai ser. Se você me perguntar como eu imagino daqui a dois ou cinco anos, eu me imagino cantando.

AA – Geralmente, números cheios trazem reflexões. Ano passado, você completou 40 anos, como funciona isso na sua cabeça?

T – Foi bem significativo fazer 40 anos. Fazer 30 anos já foi significativo pra caramba e foi um período de de mudança, porque eu tava saindo do Exalta pra fazer carreira solo. Agora, com 40 anos, me fez repensar tudo o que eu já vivi. Olhando para trás, já vivi bastante coisa, sou muito feliz com tudo, mas me deu ainda mais gás para poder produzir, mostrar novidade. Cada dia que passa, meu show está mais dançante, com a minha cara e energia. Gosto de deixar as pessoas com essa sensação de alegria. Óbvio, vou mesclando isso com romantismo, porque também sou um cara romântico. E me deu a certeza de que estou no caminho certo. Eu não me imaginava, com 40 anos, tão feliz e realizado como estou hoje.

AA – Antes de começar a gravar, você estava brincando que queria ter feito faculdade e seguido outros caminhos. Não é uma coisa que te faz refletir hoje em dia?

T – Não, não… Eu só fiz faculdade de comunicação, inclusive, porque não passei no vestibular de música. Com dois anos (de curso), entrei no Fama no meio da faculdade e fui convidado para entrar no Exalta. Tranquei, até tentei voltar a fazer faculdade em Santo André, mas não consegui conciliar.

AA – Musicalmente, como é esse lance da ambição para você? O que te move a ainda querer conquistar coisas?

T – O amor que eu sinto por música é muito grande, maior do que qualquer coisa. Estou sempre pensando em música, em como fazer parte da vida das pessoas, porque depois que você experimenta isso, é muito bom. Sou um cara que sai muito na rua e é muito bom ser abordado para falar sobre uma música que fez parte de um namoro, que virou um casamento, uma família e a criança gosta. É muito gostoso. “Ainda bem” é uma música que, durante muitos anos, é a segunda música mais cantada em casamentos no Brasil. Isso é um dado maravilhoso.

Full look Balmain – Foto: Tom Barreto, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Giusepe Botelho, beleza Adria Dasi, direção de arte Lincoln Aguiar, coordenação Mariana Simon, produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistente de styling Luana França, retouch Hadrien Raitani, camareira Vera Lucia e assistente de foto Tallis Assi. Locação: Estúdio L.o.v.i.

AA – Se você faz parte da trilha sonora das pessoas, quem faz parte da sua?

T – Chitãozinho e Xororó fazem parte da minha trilha sonora. No pagode, uma infinidade de artistas. A galera dos anos 1990, comecinho dos 2000, até porque eu entrei no Exalta em 2003. Sou da Geração 2000 do Pagode. Como, por exemplo, Só Pra Contrariar, o próprio Exalta, Que Loucura!, Sensação, Negritude (Jr.), Os Travessos, Soweto, Belo (em carreira solo). A galera da MPB, cresci em uma casa, sendo muito bem influenciado por Elis Regina, Tim Maia, Gilberto Gil, Lulu Santos, Roupa Nova, entre outros. Como eu cresci cantando na igreja, gosto muito de música cristã.

AA – Você tem playlist com hinos gospel do Thiago André?

T – Minha playlist chama Cristhã, com TH. Gosto muito de Leonardo Gonçalves, mais dessa galera de Black Gospel, como Robson Nascimento, Eli Soares, Álvaro Tito… Ixi, muita coisa. Esse assunto é  amplo, mas, voltando, também curto música negra americana, principalmente do R&B. (Nomes como) Usher, Chris Brown, sou apaixonado.

AA – E quem é o Thiago André que você reserva só para as pessoas mais íntimas, como a Carol (Peixinho, sua namorada) ou para sua família?

T – Mais fácil os outros falarem (risos).

AA – Mas tem essa divisão do Thiaguinho é um e o Tiago André, outro?

T – Um complementa o outro. Thiago André usa óculos, o Thiaguinho, não. O que mais surpreende as pessoas, quando me conhecem na intimidade, é que no palco eu sou muito alegre, minha música tem essa energia e tal e eu, fora do palco, sou muito tranquilo. As pessoas que cresceram comigo, tanto de Presidente Prudente (interior de São Paulo) quanto de Ponta Porã (MS), quando elas vão ao show ficam um pouco assustadas com meu jeito de ser enquanto eu estou de Thiaguinho ali no palco. Sou muito extrovertido, falo para caramba e eu, na vida íntima, sou quieto e muito tímido, inclusive. É a maior diferença.

Thiaguinho usa cardigan, gola alta e calça Fendi, e sapato A.P.C na Liberty Art Brothers – Foto: Tom Barreto, com direção criativa de Kleber Matheus, styling por Giusepe Botelho, beleza Adria Dasi, direção de arte Lincoln Aguiar, coordenação Mariana Simon, produção executiva Zuca Hub, produtora responsável Claudia Nunes, produção de moda e assistente de styling Luana França, retouch Hadrien Raitani, camareira Vera Lucia e assistente de foto Tallis Assi. Locação: Estúdio L.o.v.i.

AA – E o que você faz para lidar com isso, com essa dualidade de energias?

T – De 2020 para cá, que foi um período que mexeu bastante comigo porque fiquei impossibilitado de fazer shows, e foi um período que eu fiquei muito comigo mesmo. Morando sozinho, pude me conhecer mais. De lá pra cá, algumas coisas me ajudam e uma delas é meditar. Me organizo pra meditar. Eu treino, faço musculação todo dia de manhã, faço fono todos os dias, também, quando estou em casa. Organizo meu dia para acordar e meditar e me cuidar mentalmente. Inclusive, pego no pé da minha família e das pessoas que conheço. Isso me faz um bem danado, principalmente para pensar na vida.

AA – Homens são muito cerceados dessa possibilidade de falar sobre saúde mental, do que se está sentindo, de não poder externalizar esse sentimento, né?

T – Sempre fui assim muito voltado para esse lado espiritual da vida, gosto muito desse assunto. Gosto de ir além do que as pessoas estão vendo, pesquisar sobre isso, gosto muito de orar, também. Tenho uma ligação com Deus muito forte e, a todo momento, estou orando, me conectando com Deus. Esse movimento para dentro é importante.

AA – E você e a Carol têm alguma rotina juntos?

T – A gente medita junto, gosta de assistir televisão, malha. A Carol é muito caseira e eu também. A gente gosta muito de conversar, ela é muito positiva, amo ouvir ela falar. A gente adora cinema, também. Enfim, coisas de namorado.