Xamã usa full look Dolce&Gabbana e luvas Artemisi – Direção criativa: Kleber Matheus, Fotografia: Hudson Rennan, Styling: Bruno Uchôa, Beleza: Helder Rodrigues, Direção de arte: Yasmin Klein, Retoque: Vectro Retouching, Coordenação: Mariana Simon, Produção executiva: Zuca Hub, Produtora responsável: Claudia Nunes, Produção de moda e assistentes de styling: Laura Cavalcante e Isa Corazza, Assistentes de foto: Pedro Saad, Assistente de beleza: Adriel Lucas, Assistentes de produção: Caio Nogueira, Camareira: Livia Maria, Agradecimento: Estúdio Orth

Por Sérgio Martins 

Versos viscerais, beats densos e imagens que flertam com o delírio e a denúncia. Xamã atravessa mundos como quem troca de pele: do vagão ao horário nobre, do improviso ao figurino. “Sou cria da rua. E, hoje, sou ator da Globo. É muita coisa”, diz à BAZAAR MAN. Estreia no cinema com “Cinco Tipos de Medo”, segue com “Os Donos do Jogo” (Netflix) e vive “Bagdá em Três Graças” (Globo), chefe de facção na comunidade fictícia da “Chacrinha”. No álbum “Fragmentado”, costura “Milton Nascimento”, “Liniker”, “Adriana Calcanhotto”, “Criolo”: tudo em combustão. “Moda é como música: quanto mais perto da criação, mais identidade tem.” A roupa, como o verso, entrega o todo. Veja a entrevista completa:

Xamã usa camisa e trench coat Dod Alfaiataria, bermuda Casa Paganini e bolsa Gucci – Direção criativa: Kleber Matheus, Fotografia: Hudson Rennan, Styling: Bruno Uchôa, Beleza: Helder Rodrigues, Direção de arte: Yasmin Klein, Retoque: Vectro Retouching, Coordenação: Mariana Simon, Produção executiva: Zuca Hub, Produtora responsável: Claudia Nunes, Produção de moda e assistentes de styling: Laura Cavalcante e Isa Corazza, Assistentes de foto: Pedro Saad, Assistente de beleza: Adriel Lucas, Assistentes de produção: Caio Nogueira, Camareira: Livia Maria, Agradecimento: Estúdio Orth

HARPER’S BAZAAR BRASIL: Você está no elenco da próxima novela das 21h, na Globo. Como é isso para você?

Xamã: É mais um personagem intenso, que me faz sair do que sou e entrar em outro corpo. Esse processo tem sido muito transformador.

HBB: Antes, vieram dois filmes: Cinco Tipos de Medo e Os Donos do Jogo. Como encarou esses papéis?

Xamã: Em Cinco Tipos de Medo, do Bruno Bini, interpreto o Sapinho, um traficante do Mato Grosso. O filme cruza cinco histórias, no estilo Tarantino, e meu personagem é meio que o vilão. Já em Os Donos do Jogo, faço Buffalo Victor, ex-lutador de muay thai que vira bicheiro no Rio. Foi minha primeira vez em um papel grande e como um carioca. A preparação, intensa, foi com a Laura Nogueira, que também me acompanhou no outro filme.

HBB: Você trouxe algo pessoal para os personagens?

Xamã: Tive uns tios caminhoneiros que falavam alto, projetavam tudo. Quando li o Búfalo Victor, lembrei deles. Usei esse tom pra compor o personagem. Na leitura de mesa, a galera ria porque soava absurdo. Mas essa memória virou ferramenta. Fui entendendo que podia usar minhas vivências pra criar com mais verdade.

Xamã usa calça e kimono Visén, segunda pele Intimissimi Uomo, bolsa Toca e sapatos Christian Louboutin – Direção criativa: Kleber Matheus, Fotografia: Hudson Rennan, Styling: Bruno Uchôa, Beleza: Helder Rodrigues, Direção de arte: Yasmin Klein, Retoque: Vectro Retouching, Coordenação: Mariana Simon, Produção executiva: Zuca Hub, Produtora responsável: Claudia Nunes, Produção de moda e assistentes de styling: Laura Cavalcante e Isa Corazza, Assistentes de foto: Pedro Saad, Assistente de beleza: Adriel Lucas, Assistentes de produção: Caio Nogueira, Camareira: Livia Maria, Agradecimento: Estúdio Orth

HBB: Você já desfilou para Dario Mittmann e Walério Araújo. Como foi estar nesse outro lugar?

Xamã: Dá medo, claro. Mas é uma forma de participar da criação. O Dario sempre me veste de um jeito que me traduz. Já usei camisola, jeans em camadas… Gosto de estar com quem admiro. Não quero ser modelo, mas quero fazer parte do movimento, da pergunta: qual vai ser a próxima ideia?

HBB: no palco, também existe essa construção. Você já disse que o rapper é, no fundo, um ator…

Xamã: Quando falo de Xamã em terceira pessoa, já não sou eu. Tupac fazia isso, B.I.G. também. Criamos uma persona pra contar nossa história. No palco, na batalha, vendendo amendoim no trem… tudo é atuação. A música sempre foi meu primeiro laboratório de dramaturgia.

HBB: Fragmentado, seu novo álbum, parece levar isso a outro nível. Como ele nasceu?

Xamã: Foi um processo longo. Eu tinha três discos mais underground antes de ficar conhecido. Quando veio Malvadão e a novela Renascer, pensei: como vou mostrar meu lado mais estranho pra quem me conheceu agora? Abri a gaveta, tinham 25 faixas. Quis que fosse como um filme: começo, meio e fim. Com amor, raiva, introspecção, violão, sertanejo, Milton [Nascimento], Liniker, [Major] RD… Tudo que me atravessa. É o disco mais difícil que já fiz. Levou cinco anos.

Xamã usa calça e trench coat João Pimenta, camisa e gravatas Fendi e camisa Polo Ralph Lauren sapatos FerragamoDireção criativa: Kleber Matheus, Fotografia: Hudson Rennan, Styling: Bruno Uchôa, Beleza: Helder Rodrigues, Direção de arte: Yasmin Klein, Retoque: Vectro Retouching, Coordenação: Mariana Simon, Produção executiva: Zuca Hub, Produtora responsável: Claudia Nunes, Produção de moda e assistentes de styling: Laura Cavalcante e Isa Corazza, Assistentes de foto: Pedro Saad, Assistente de beleza: Adriel Lucas, Assistentes de produção: Caio Nogueira, Camareira: Livia Maria, Agradecimento: Estúdio Orth

HBB: As colaborações também refletem essa mistura. Tem Adriana Calcanhotto, Criolo, Milton…

Xamã: Sempre amei Esquadros, da Adriana. Quando era moleque, ouvia num CD pirata do Renato Russo. Anos depois, pedi pra ela gravar comigo e ela topou. Com o Milton, foi quase mágico. O Criolo estava por aqui, o Samuka fez um sample de Milagre dos Peixes e a gente criou uma música nova. Levamos pra ele ouvir, ele curtiu e gravamos juntos. A faixa virou Poeta Fora da Lei. Ele, que foi censurado na Ditadura, agora vê isso se repetir — só que travestido. Falar da nossa realidade virou risco?

HBB: Você sente que teve sorte?

Xamã: Sem dúvida. Não sabia o que seria da minha vida. Estava à mercê do que aparecesse. Conheço mais gente que deu errado do que quem deu certo. Gente talentosa que não virou jogador, não virou artista, porque teve que alimentar a casa. Faltava acesso. Hoje, onde não tinha nada, tem estrutura: quadra, palco, professor de dança. Isso muda tudo. O que falta não é talento, é oportunidade.

HBB: Recentemente, você lançou feats com Ana Castela e Papatinho. Como foi unir esses universos?

Xamã: Com a Ana, já tinha rolado o Poesia Acústica 16. Sempre quis criar essas pontes. Quando gravei com a Marília Mendonça, foi nessa intenção. E agora com a Ana foi especial. O som não é romântico e tem essa mistura boa. Já o Papatinho é de casa. Gravo com ele desde 2017. No projeto MPC (Música Popular Carioca), ele resgata o funk dos anos 1990 com artistas da nova geração. Gravamos uma faixa em homenagem ao MC Marcinho, com o filho dele no clipe. Foi forte!

HBB: Ainda faz sentido dividir a música brasileira em rótulos como rap, sertanejo ou MPB?

Xamã: Existe uma mania de rotular tudo, talvez pra se sentir incluído. Já fui roqueiro, já fui pagodeiro. Mergulhei mesmo em cada mundo. Mas o Brasil é um continente. Samba, piseiro, trap, batidão, funk… tudo isso é música brasileira. Pode até flertar com sons de fora, mas tem um tempero, uma pimenta, um dendê que só nasce aqui. Quem escuta, reconhece. No fim, música brasileira é o gênero que abraça todos os outros.