Por Silviane Neno

A empresária Beatriz Carvalho tinha apenas dois anos de idade quando a família mudou de Salvador para São Paulo. No casarão do bairro do Morumbi, a menina cresceu vendo a mãe, a empresária Gracinha Carvalho, abrir portas e janelas para a sorte entrar – sobretudo para os amigos, que chegavam paraalmoços, jantares e festas memoráveis. Gracinha, impecável, cuidava de cada detalhe, das delícias que saíam da cozinha e das louças onde eram servidos o que de melhor a Bahia tem. “Nossa casa era uma festa,cresci nesse ambiente de acolhimento”, lembra Beatriz. Vinte e seis anos depois, o perfeccionismo materno alcançou o topo da escala, como herança palpável, quando Bia casou-se com Gabriel Hamuche,numa cerimônia de sonhos realizada em Lisboa, capital lusitana, no ano passado.

Um lote de 1.200 pratos pintados à mão foi enviado de navio para Portugal. O destino: o jantar da festa principal no jardim do Palácio Correio Mor, em Loures, arredores da cidade. Os 400 convidados voaram do Brasil e de vários países para as bodas e, antes dela, para o animadíssimo pré-wedding nas ruínas do Carmo, um antigo convento de arquitetura gótica transformado em museu de arqueologia.Bem antes das comemorações, porém, Bia e Gabriel partiram em busca do lugar onde morariam juntos. Foi aí que, como uma bênção, o lar ideal apareceu. A construção moderna, em um bairro nobre de São Paulo, com cozinha que se abre para a área verde, salas amplas e ensolaradas, e piso de madeira, estava pronta para ser habitada. Foi paixão à primeira vista. Pouco tempo depois, revelada a identidade do arquiteto, estava explicada a conexão. A residência, de 300 metros quadrados, é um projeto assinado pelo conterrâneo David Bastos, conhecido por construir cenários de conforto e elegância. “Imaginamos uma casa atemporal, agradável e habituada a ver o céu e a sentir o vento passar”, diz Bastos.

O jardim, moderno e maduro, abraça a pequena piscina de granito, por onde circula a cadela Aya, a companheira de sempre. As paredes de tijolos aparentes dão o tom contemporâneo à área externa. “Fizemos interiores com base neutra, para ser uma habitação prática para um casal em começo de vida. Assim, o espaço recebe qualquer estilo, do mais clássico ao conceitual”, explica David. A decoração pensada a quatro mãos por Victoria Sanchez, Gustavo Jansen e o toque familiar de Gracinha e Sula Hamuche, mãe de Gabriel, tirou proveito dessa condição de genuína liberdade para incorporar relíquias de família como o carrinho de chá, as cadeiras antigas da sala de jantar, presente da madrinha de Bia, até o moderno pôster com a capa do disco da banda “The Clash”, que ocupa a entrada da casa. O xodó da anfitriã, no entanto, foi trabalhado sob encomenda. É o louceiro com portas de vidro, que se destaca no living e deixa exposta a coleção com mais de cem peças Baccarat e Christofle e porcelanas do atelier By Grace.

O olhar esteta, herança de família, sempre é exercitado em seu estilo de vida, seja à frente da Estilé, a marca de acessórios que criou com a sócia Victoria Beukers, ou nos looks do dia a dia. Bia é naturalmente estilosa. Nada que esteja ali é destinado à pura contemplação ou à espera de grandes ocasiões. É uma casa que abriga relíquias, mas também o frescor jovem de um casal que, como escreveu Caio Fernando Abreu, “tem vontade de viver”. Simples assim. É a beleza do descomplicado de mãos dadas com a elegância ou como cantarolou Gilberto Gil: “A Bahia já me deu régua e compasso”.