Por Mariela Almeida
Desde 2016, a impressão botânica completou um ciclo de fazeres manuais nas criações da estilista e artista têxtil Camila Machado. A proximidade com as plantas a fez enxergar que o desenvolvimento de um vestido de noiva é principalmente o resgate das memórias e das histórias de cada mulher. “É valorizar o que temos de mais sagrado: o chão onde pisamos, a terra onde nascemos. É respeitar a biodiversidade e a natureza como parte intrínseca da construção de quem somos”, explica.
Foi com esse despertar que ela redescobriu o seu propósito, e propõe cada vez mais ousadia e personalidade às noivas. “Nunca foi sobre ‘o vestido’, mas sobre o ritual de passagem, o início de um novo ciclo, em que seja possível tecer novas narrativas baseadas no amor, no respeito e na igualdade.”
Pensando na troca e nas conexões que esse momento especial proporciona, Camila criou a “Expedição AlmaZônia” para desenvolver a coleção dedicada ao tiê-bicudo, ave que ficou desaparecida por quase 70 anos – havia sido considerada extinta – e hoje mantém o seu ninho na Amazônia. A estilista se inspira neste contexto de resiliência e, ao mesmo tempo, no poder de regeneração de um pássaro tão sensível, pois acredita que a natureza e o homem ainda podem chegar ao equilíbrio.
A viagem terá a sua segunda edição entre os dias 6 e 10 de novembro, nas águas da Amazônia, e contará com rituais de meditação, aulas de canoagem, passeios de barco, banhos de rio, contemplações do pôr do sol, rodas de viola, observações da biodiversidade e diálogos sobre consciência ecológica, alimentação, regeneração e economia circular.
O retiro acontece em uma pousada situada entre o Sul da Amazônia e do Norte do estado de Mato Grosso, e carrega consigo um verdadeiro sustentáculo da natureza em uma transição entre o Cerrado e a Amazônia na região do Chapadão dos Parecis e nas cabeceiras dos rios Claro e Arinos. O local também abriga uma impressionante fauna com mais de 500 espécies de aves, várias delas emblemáticas, como a harpia, tida como a águia mais forte do planeta. Outro destaque é a nascente de água transparente que brota da rocha e forma uma piscina com fundo em areia.
Nos dois primeiros dias, a ideia é se conectar com o meio ambiente. “Vamos deixar as águas cristalinas correrem juntamente com as nossas emoções. Praticaremos ioga e meditação perto da nascente, pedindo guiança e fluidez em nossos caminhos para que eles se abram para o novo e para a regeneração que precisamos e queremos para a Terra. Também vamos falar sobre o meu trabalho autoral com impressão botânica e minha residência artística e experiência na floresta”, destaca.
No terceiro dia de expedição é hora de entrar na floresta para selecionar as folhas e flores que serão utilizadas no workshop de impressão botânica. No dia seguinte, Camila vai confeccionar o tão esperado vestido de noiva. “Utilizaremos todas as folhas e as flores recolhidas para juntos construirmos uma peça única.”
Durante o bate-papo, a estilista ensinará as técnicas e a sua visão holística com as plantas. Segundo ela, a ideia é conseguir transmitir uma forma de ver o mundo mais cíclico e conectado às demandas internas. “Saber o momento de colher, de plantar, de imprimir, de tingir, de descansar, de se organizar… Isso tudo podemos fazer por meio da sabedoria das plantas.”
No quinto e último dia será a vez de descobrir as estampas feitas pelos participantes do roteiro. “Compreender a técnica da impressão botânica vai além de um resultado bonito, pois a estética também é algo inventado por nós, homens brancos. Só posso afirmar que as plantas curam, assim como o amor”, finaliza.