Foto: Gil Inoue

Um intercâmbio levou Suada Rrahmani a Paris, onde conheceu Dimitri Mussard, seu marido – e o destino se encarregou de colocar o casal em solo brasileiro. Foi aqui que ela desabrochou como florista – diga-se: uma das mais interessantes da atualidade

Você nasceu em um campo de refugiados na Alemanha. quais são as suas lembranças da infância?

Felizmente, tenho recordações felizes. Os meus pais fizeram um ótimo trabalho nos protegendo e fizeram parecer que estava tudo bem.

O que levou a sua família à Alemanha?

A guerra. A ruptura na Iugoslávia nos fez deixar para trás tudo aquilo que conhecíamos.

Como você deixou esta realidade no passado?

Não deixei. Os meus pais tiveram que ir embora, os meus irmãos e a minha irmã tiveram que se adaptar a um novo país. Foi muito difícil. Imagine que você tem oito anos e pelos próximos sete anos você é um refugiado e se muda todos os anos… Aos 16 anos eu fui para a Finlândia. E acredite em mim, lá não é um país fácil (mesmo que tenha sido eleito o país mais feliz do mundo). A língua é a segunda mais difícil do mundo!

Você conheceu o seu marido – Dimitri Mussard – em Paris. Pode nos contar como foi este encontro?

Amor à primeira vista! Ele abriu uma porta para mim e eu simplesmente me apaixonei. O resto é história!

Quando vocês resolveram mudar-se para o brasil?

Dimitri já morava no Brasil, então nos relacionamos a distância por oito meses até decidirmos tentar morar juntos em 2016. E deu certo. Para mim foi a oportunidade de conhecer o país, que desde pequena eu via no Atlas e ficava hipnotizada.

Como você descreve a sua experiência em solo brasileiro?

A razão pela qual vim para o Brasil não foi uma escolha minha, apenas do Dimitri. Então, não escolhi esta cidade para morar, mas me encontrei nela. Adoro tudo sobre São Paulo. Demorei um ano para entender por que também não falava português. Ainda tenho algumas dificuldades com diferenças culturais, mas acho que uma vez gringa, sempre gringa! (risos!).

De onde veio o seu interesse por flores?

Tudo o que é bonito chama a minha atenção. Acho que o começo foi por isso, pela beleza das flores. Talvez fosse como uma terapia para mim, pois quando era criança, costumava colecionar flores.

Como é a sua relação com o universo da moda? consegue descrever o seu estilo?

Na Finlândia, temos os melhores mercados de pulgas, então, desde criança, transitava por estes locais para comprar as minhas
roupas. Tenho um bom olho, o que fez os meus amigos me apelidarem de “kirpprihaukka”, que significa “falcão do mercado de pulgas”, porque faço as melhores descobertas. Nunca me importei com marcas e também não tinha dinheiro para comprálas, e isso me obrigou a criar um estilo particular.

Você tem um ateliê floral. Pode falar sobre isso?

Nunca foi algo planejado e não pensava que iria trabalhar com flores. Porém, depois de atuar alguns anos em uma floricultura, decidi que iria parar e ver o que aconteceria a seguir. E na sequência, me pediram para fazer um arranjo de flores e acidentalmente comecei o meu negócio de forma orgânica. Felizmente deu certo e tenho uma casa charmosa bem perto de onde moro.

Quando cria um arranjo, o que leva em consideração?

A pessoa que vai receber o presente e as flores da estação. Sempre vou ao mercado de flores selecionar o que há de melhor e de mais fresco. Você pode me chamar de “flowerhawk” porque sempre encontro algo especial.

Quais são os seus planos futuros?

Amo viver o presente, então vamos ver o que acontece depois disso. Um sonho que tenho é aprender a cultivar a minha própria plantação de flores. Adoro sonhar e saber que é possível realizar.

Em apenas uma palavra, como você se define?

Isso é tão difícil… Entusiasmada? Alegre? Sonhadora? Corajosa?